A Mentira Que Virou Amor

Capítulo 14

Sentei à mesa do Sr. Raavam, que foi imediatamente acolhedor, como se soubesse exatamente o que eu estava passando.

— Aposto que essa não foi a noite que você esperava, não é? — Ele perguntou, brincalhão, e eu ri, relaxando um pouco.

Enquanto o homem no palco começava a apresentar os homenageados do evento, o Sr. Raavam sussurrava alguns detalhes picantes sobre os bastidores da cerimônia, o que me fazia rir baixinho.

Garçons passaram a servir alguns petiscos, e eu fiquei eternamente grata por poder colocar alguma coisa na boca, mesmo que aquilo não fosse me satisfazer completamente. Sr. Raavam foi gentil o suficiente para conseguir ainda mais comida, o que agradeci exageradamente o fazendo rir.

O mestre de cerimônias prosseguiu no palco, enquanto uma série de imagens aparecia no telão ao fundo, destacando vários avanços tecnológicos e colaborações entre hospitais e empresas farmacêuticas que haviam revolucionado tratamentos para doenças crônicas. Eu estava tentando acompanhar tudo com interesse, mas meus olhos desviaram várias vezes para a mesa de Yuuki, onde ele parecia estar travado em uma conversa tensa com Betsy e o pai.

— Finalmente, chegamos ao ponto alto da noite — o anfitrião prosseguiu, sua voz subindo uma oitava em empolgação. — Vamos celebrar o trabalho incansável de um homem que dedicou sua vida à medicina. Com sua visão e compromisso, ele transformou o CHK em um dos principais centros médicos do país. Por meio de sua liderança, foi possível estabelecer novas alas de pesquisa, treinar milhares de médicos e implementar tratamentos inovadores que salvam vidas todos os dias. Por favor, uma salva de palmas para o Dr. Tozawa Katatoshi!

O salão irrompeu em aplausos, e vi Yuuki, de longe, batendo palmas também, embora seu sorriso não fosse tão largo quanto o de Betsy. Tozawa sem disfarçar a satisfação, se levantou, ajeitando o terno enquanto recebia os aplausos com uma leve inclinação da cabeça. Ele caminhou até o palco com passos firmes e calculados, o tipo de confiança que só alguém habituado a ser respeitado poderia exibir.

Quando ele finalmente alcançou o microfone, o salão silenciou novamente, seu sorriso era o de um homem ciente de sua importância e legado.

— Agradeço profundamente por este reconhecimento — começou Tozawa, sua voz firme, porém controlada, projetando-se por todo o salão. — Esta honraria não é apenas minha, mas de todos os profissionais que caminharam ao meu lado durante esses anos, médicos dedicados, enfermeiros incansáveis e pesquisadores visionários. Não estaríamos aqui sem eles.

Seus olhos percorreram a plateia de forma calculada, mas pararam por um segundo em Yuuki, e eu podia sentir a leve tensão na postura de Yuuki mesmo de longe. Tozawa continuou, falando sobre o impacto da pesquisa médica e dos avanços no atendimento a pacientes com doenças crônicas, tudo com um tom de grandeza, como se cada conquista médica também fosse um reflexo direto do legado que ele estava construindo.

— Aposto que ele ensaiou esse discurso umas mil vezes. Sempre foi assim... perfeccionista até a alma. — O Sr. Raavam sorriu com um ar conspiratório.

Eu ri baixinho, me sentindo um pouco mais leve com o comentário. O Sr. Raavam era um alívio cômico no meio daquela solenidade.

Finalmente, após mais alguns minutos de agradecimentos e um breve resumo dos projetos futuros, Tozawa deixou o palco sob uma nova onda de aplausos. Ele voltou para a mesa, com o prêmio em mãos e um ar de quem completara sua missão.

Bati palmas, mais por cortesia do que por qualquer outra coisa, mas meu olhar voltou para Yuuki. Ele estava imóvel, aplaudindo com todos, mas seus olhos estavam sombrios, como se aquele palco e aquelas palavras o tivessem enfiado ainda mais fundo no buraco em que ele parecia estar preso.