Capítulo 22

79 16 0
                                    

Decidi dormir pra tentar esfriar a cabeça, mas foi inútil. Yuuki não saía dos meus pensamentos. E aquele beijo... Argh! Ele tinha que me pegar desprevenida desse jeito? A quem eu queria enganar? Já estava ferrada...

Meus pensamentos giraram por variadas possibilidades, especialmente sobre o tal almoço. Algo tão íntimo e que fez minha azia voltar.

Não tive uma boa noite de sono, claro. Acordei com uma mensagem de Mabel me dando mais e mais tarefas. Eu realmente não aguentava mais e apenas desejava que ela chegasse em seu feliz para sempre. Comecei a revisar a lista de casamento dela, uma longa e estressante página de Excel. Ela pediu pra dar uma conferida, só pra garantir que ninguém tinha sido esquecido.

Meus olhos corriam pela lista enquanto minha mente vagava, questionando se eu deveria ou não acrescentar Yuuki e família. Miura certamente adoraria. Era uma ideia completamente fora da minha zona de conforto, mas, ao mesmo tempo, parecia... natural? Estávamos nesse ponto? Eu bufei, sentindo a pressão aumentando.

Depois de quase duas horas nessa função, com a cabeça já latejando e a visão embaçada, meu celular vibrou. Olhei o visor, já esperando uma bronca da Mabel, mas era Yuuki.

"Posso te ligar?"

Senti uma pontada de animação ridícula, mas respondi imediatamente com um "Claro." Me joguei na cama de costas, a cabeça um pouco tonta e um peso no estômago.

Nem um minuto depois, o celular começou a tocar e eu atendi de imediato, com aquele nervosismo bobo que odiava admitir que sentia perto dele.

— Como está a azia? — Ele perguntou logo de cara, me ouvindo gemer baixinho enquanto eu me ajeitava na cama.

— Hum... tá tudo bem.

— Tem certeza? Quer que te busque para um exame? Posso te encaixar num gastroenterologista aqui no hospital...

— Não é pra tanto.

— Rubie...

— Serio. Eu só trabalhei demais no planejamento da Mabel.

Ele suspirou do outro lado, claramente ainda preocupado, mas não insistiu. Eu podia imaginar sua expressão de preocupação, o olhar dele sem saber se acreditava ou não.

— Isso também é um pouco de ansiedade. Tenho tanto compromisso acumulado que nem sei se vou dar conta de tudo — confessei, meio sem querer.

— Desculpa por colocar mais um na sua agenda. Não quero que se sinta pressionada. Como disse ontem, se quiser declinar, posso arrumar uma desculpa.

— E repito: esta tudo bem. Não posso fazer isso com a sua família, seria mal-educado. Se Laureta souber, ela me mata! — Ri nervosa, pensando no escândalo que ela faria.

— Laureta? — ele repetiu, com surpresa. — Não sabia que tinha outra irmã além de Mabel.

— Somos só nós três. Nossos pais morreram quando eu tinha 12 anos e Mabel 10, então Laureta teve que casar cedo pra cuidar da gente.

O silêncio que se seguiu foi pesado e desconfortável, até que ele quebrou com um tom suave:

— Sinto muito.

— Nah... — murmurei, tentando tirar a carga da conversa. — Já faz tanto tempo que nem dói mais.

Houve um novo silêncio e olhei para o celular, achando que ele havia desligado. Não tinha. Fiquei naquela expectativa boba de que ele fosse dizer algo. Então, meu celular vibrou com uma mensagem do meu supervisor, me lembrando que amanhã seria meu retorno ao trabalho.

A Mentira Que Virou AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora