Capítulo 27

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— O que faço agora? — perguntei, encarando o teto. A sensação de vazio ainda estava ali, apesar de tudo.

— Primeiro, não falar mais com aquele idiota. — Mabel respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Ele não sabe a pessoa maravilhosa que perdeu!

Soltei uma risada nervosa, ela me dava muito crédito.

— Já bloqueei o número dele, mas... precisamos terminar formalmente.

Mabel arqueou uma sobrancelha, inclinando a cabeça de lado.

— Terminar o que, se nunca tiveram nada?

Ok, confesso, aquilo doeu. Mabel sabia exatamente como me atingir. Mas ela estava certa. O que tínhamos não era real, afinal. Era uma fantasia mal construída, e agora eu estava pagando o preço.

— Pelo menos por enquanto, esfria a cabeça um pouco — continuou ela, suavizando o tom. — Deixa as coisas se aquietarem no seu coração primeiro. O que você decidir, eu vou apoiar. Mesmo que queira dar uma chance para aquele idiota.

Eu a olhei, surpresa.

— Você já o está crucificando?

Mabel bufou.

— Já o odeio por fazer minha irmã chorar!

Aquilo me pegou de jeito. Sem pensar, me joguei nos braços dela, abraçando-a com toda a força que me restava.

— Desculpa por mentir — pedi de novo, contra seu ombro.

Ela suspirou, acariciando meu cabelo.

— Sua boba. É justamente por isso que eu e a Laureta nos preocupamos. — Mabel suspirou dando tapinhas em minhas costas. — Agora vai tomar um banho — disse, levantando-se logo em seguida. — Vou preparar algo para você comer e... vamos passar o dia das irmãs hoje. Faz tanto tempo que não fazemos isso. Sabe? Comer besteira e assistir filmes ruins — ela sorriu amável.

Sorri de leve, era exatamente disso que eu precisava. Um tempo pra respirar, pra tentar me recompor, depois de todo o caos.

— Obrigada, Bel — murmurei, enquanto me levantava e ia em direção ao banheiro. O simples ato de tirar aquelas roupas, de me despir das mentiras, parecia me aliviar um pouco. Deixei a água quente cair sobre meu corpo, tentando lavar não só as lágrimas, mas também a frustração, a raiva e... a confusão que Yuuki havia deixado em mim.

Quando terminei, me sentia ligeiramente melhor. Não totalmente, claro, mas era como se o peso das mentiras tivesse saído um pouco dos meus ombros.

Fui até a cozinha enxugando os cabelos. A campainha havia tocado enquanto eu estava no banho e Mabel parecia diferente, mais... tensa.

— Bel, o que houve? — perguntei, percebendo que ela estava irritada, mexendo nas panelas de forma quase mecânica.

— Nada de importante — respondeu rapidamente, mas sua voz não me convencia nem um pouco.

— Quem era na porta? — insisti, curiosa.

Mabel desviou o olhar, preparando os ingredientes para o brigadeirão.

— Ah... foi engano. Só isso.

Arqueei uma sobrancelha, desconfiada, mas decidi não pressionar. O cansaço emocional me impedia de lidar com mais dramas. No momento, tudo o que eu queria era afundar no sofá com filmes ruins e guloseimas. E foi isso o que eu fiz.

— Pode escolher os filmes e preparar o ambiente. Vou terminar aqui na cozinha e já levo. O que você quer mais?

— Hum... acho que pipoca com leite condensado, beijinho de colher e... que tal churros com doce de leite? — sugeri, já sentindo meu estômago roncar.

A Mentira Que Virou AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora