Capítulo 36

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— Vocês duas me dão mais trabalho do que meus próprios filhos, sabia? — ela murmurou, afagando meus cabelos.

Soltei uma risada breve, amarga, entre os soluços, e me afastei para enxugar as lágrimas, sem muito sucesso.

— Mas o que faço agora? Se ela desistir do casamento por minha causa, Leta? Vou ser a culpada... — minha voz falhou, cheia de desespero. — Eu simplesmente... posso estar destruindo a vida dela.

Laureta balançou a cabeça com firmeza.

— Não será por sua causa, Bee. Ela é adulta, sabe das escolhas que está fazendo. Se ela decidir não seguir com esse casamento, é uma decisão só dela. Não se martirize tanto.

— Como não? — murmurei, minha voz quase inaudível. — Eu me sinto como... sei lá, um terremoto que destroça tudo.

Laureta me observou, séria, e disse com uma ponta de humor que só ela conseguia ter até nos momentos mais tensos:

— Nem o diabo se dá tanto crédito, querida. Você não é assim tão poderosa, não — ela sorriu, apertando meu ombro.

Apertei os olhos, querendo bloquear a culpa dentro de mim.

— Eu só queria proteger ela, Leta... — sussurrei, sentindo minha garganta arder. — Mas acho que, no fim das contas, só causei mais dor. Não sei o que fazer.

Laureta passou a mão no meu rosto, limpando uma lágrima teimosa.

— Eu sei querida. Você é culpada em parte, mas a responsabilidade principal é de Nathan. E sabe, acho que Mabel também já desconfiava de algo. Às vezes, a gente prefere não ver a verdade, entende? Talvez ela tenha desconfiado desse comportamento dele, mas empurrou isso para baixo do tapete, e ouvir isso de você foi como... uma bomba.

— Mas eu nunca fiz nada. Nunca dei a entender que estava interessada ou nada disso... — a encarei aflita.

— Calma! Você é tapada o suficiente para ter que inventar um namoro. — Ela me olhou tensa e eu gemi baixo. — Tenho certeza de que ela não desconfiava de você, mas dele.

Suspirei, pensativa, recostando-me na cadeira, enquanto Laureta segurava minha mão.

— Dê um espaço a ela. Mabel precisa de um tempo para processar, e quando ela se acalmar, vocês podem tentar conversar novamente.

Depois de um longo suspiro. Ela sorriu, dando um tapinha na minha mão.

— Vamos lá para minha casa. Vou mandar uma mensagem a Levy e avisar que você vai passar uns dias com a gente.

— Está me usando como babá dos seus filhos, né?

— Sim, algum problema? — Ela me lançou um olhar desafiador, e pela primeira vez, me peguei sorrindo de verdade.

— Nenhum, senhora.

Vi Laureta se ajeitar, levantando as sobrancelhas e inclinando a cabeça na direção do fim do corredor. Segui seu olhar e vi Yuuki encostado na parede, as mãos nos bolsos e um sorriso pequeno, quase tímido, como se estivesse esperando uma deixa para se aproximar.

— Talvez não precise ir hoje lá para casa, com esse certo alguém de prontidão. — Ela sussurrou, provocando-me. Mas o olhar curioso não deixou passar. — Só para você saber, vou querer saber dessa história toda depois, viu?

Eu assenti, respirando fundo. Por agora, a presença dele me trazia um pouco de paz. Laureta me abraçou de novo, e eu senti o aperto, a força que ela colocava para me manter de pé.

Caminhei até Yuuki, já me sentindo um pouco mais leve, mesmo com um sorriso ainda incerto. Ele me recebeu com um sorriso, e se inclinou para um beijo. Seus lábios eram calmos, mas decididos, como se quisessem silenciar qualquer angústia que eu estivesse carregando. Quando nos separamos, ele ainda segurava meu rosto com as duas mãos, os polegares acariciando levemente minhas bochechas.

A Mentira Que Virou AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora