Capítulo 16

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O silêncio no carro era denso, cada vez que eu respirava fundo, sentia a tensão no ar crescer. Yuuki estava ao meu lado, com as mãos apertando o volante tão forte que seus nós dos dedos estavam brancos. Se o pobre volante pudesse falar, ele já teria pedido socorro há quilômetros.

Eu, por outro lado, estava tentando decidir se devia dizer algo ou continuar fingindo que o silêncio não me incomodava.

Afundei no banco, minhas emoções em um looping infinito, rodando entre confusão, curiosidade e... talvez um toque de irritação?

Betsy? Noiva? Como assim?!

Eu nem devia estar me importando tanto. Afinal, era tudo um jogo, não era? Os fingimentos, o namoro de mentira, o beijo... se bem que esse ultimo foi completamente inesperado e, infelizmente, bom! Mas nada disso era real, então por que o meu estômago estava tão embrulhado?

— Desculpe, Rubie — Yuuki começou, com a voz baixa, me fazendo estremecer de susto. — Não queria que as coisas fossem assim.

Meus olhos vagaram para ele de lado. Seu maxilar estava tenso, as linhas duras no rosto indicavam que ele também não estava lidando bem com tudo o que havia acontecido. Não sabia exatamente o que responder. Quem poderia prever que minha pequena grande mentira chegaria a esse ponto?

— Não, foi culpa minha. Eu comecei com toda essa loucura — respondi, tentando parecer leve, mas a verdade é que meu cérebro ainda estava preso na revelação de que Betsy era sua noiva. Ou quase isso.

Yuuki balançou a cabeça, os olhos fixos na estrada à frente, mas seus dedos ainda não haviam relaxado o aperto no volante.

— Não é isso. Pela primeira vez na vida, eu menti para os meus pais... por completo — ele disse, como se estivesse confessando algo profundamente proibido.

Fiquei em silêncio por um segundo e me senti péssima. Para mim, mentir era... bem, parte do trabalho. Eu fazia isso tão bem e com tanta frequência que parecia natural. Aumentava o bônus no final do mês.

— Se você quiser, pode ficar lá em casa — falei, hesitante, tentando aliviar o clima. — Podemos conversar mais sobre isso. Ou, sei lá, só assistir a um filme, esquecer por algumas horas... ou dormir.

Yuuki desviou os olhos da estrada por um segundo e arqueou uma sobrancelha, um sorriso maldoso surgindo lentamente.

— Cuidado com o que diz, Rubie. Assim, vou achar que você tem segundas intenções.

Ah, aquele sorriso. Eu sabia que ele estava brincando, mas isso não impediu minhas bochechas de corarem. Ótimo, Rubie, corando de novo.

— E quem disse que não tenho? — respondi com um sorriso provocador. Provocador demais, até para mim.

Ele soltou uma risada gostosa, daquela que parecia soltar um pouco da tensão no ar e fazem as borboletas no estômago começarem a dançar valsa.

— Tentador, mas... vamos com calma, ok? — Ele respondeu, gentilmente, seu sorriso suavizando.

Eu ri, ainda um pouco constrangida e olhei pela janela, tentando disfarçar a vermelhidão que ainda estava nas minhas bochechas. Claro que eu não estava tãooo desesperada, mas admito que a ideia de passar mais tempo com ele parecia perigosamente atraente.

— Pareço uma desesperada agora — falei, brincando, mas que, no fundo, era sério.

— Não. Só uma amiga... íntima.

Revirei os olhos, mas não consegui segurar o riso. Amiga íntima. Se ao menos a palavra "amiga" não soasse tão esquisita depois de tudo que rolou entre nós.

A Mentira Que Virou AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora