A tensão no ar era tão palpável que eu poderia cortá-la com uma faca. Ou talvez com aquele garfo de prata impecável que estava à minha frente, mas isso parece meio agressivo.
Era o tipo de desconforto que, se fosse traduzido em música, seria aquele violino desafinado que toca quando a protagonista de um filme de terror percebe que o assassino está logo atrás. Ou aqueles violinistas de Titanic tocando enquanto o barco afundava. Ou os dois...
Eu me mantinha ereta, como se ao menos a minha postura pudesse fingir que eu pertencia àquele cenário luxuoso. Tozawa, com sua aura fria de "vilão de novela que é o pai severo do mocinho", não tinha dito muito desde que chegamos, mas seus olhos pareciam me despir de qualquer segurança a cada segundo. Ele fazia isso de proposito, tenho certeza. A coisa mais amigável que ele havia feito até agora era não me expulsar da mesa. E olha que nem chegamos na sobremesa.
Felizmente, Lucretia parecia empenhada em manter as coisas em uma linha mais... sociável. Ela sorriu — um sorriso que eu tinha certeza de que escondia anos de prática em eventos sociais desconfortáveis —, com um brilho conspiratório no olhar que claramente não era só pra mim.
— Querida, a comida está do seu agrado?
— Sim. — respondi no automático e ela sorriu suave. Novamente o ambiente voltou ao seu silêncio mórbido.
— Oh, Rubie, é verdade que tem interesse em biomedicina? — Miura perguntou, com um tom travesso, seu olhar oscilando de mim para Yuuki. Fiquei surpresa por saber, acredito que Yuuki não consegue manter segredo dela. Ou pior, ela estava hackeando nossas conversas?
— Ela acabou ouvindo enquanto conversávamos — Yuuki apertou meu nariz como se tivesse adivinhado meu pensamento. — Essa fofoqueira. — Ele encarou a irmã com ar divertido.
— Se manter informada não é ser fofoqueira!
— Não me diga que estava novamente colocando escutas nos escritórios do administrativo? — Lucretia perguntou com um tom de repreensão.
— Não! — Miura foi rápida em dizer olhando para o pai que não se manifestou e tomava seu gole de vinho estranhamente tranquilo. — E não se fosse por minha escuta, não saberíamos daquele caso de roubo de sêmen.
— Miu, isso não é conversa para o almoço.
— Okaa-sama quem começou!
— Mas que menina desavergonhada! — Lucretia disse, mas tinha um tom suave de brincadeira na voz.
Eu não contive o riso e logo, Miura e Yuuki também sorriam. O clima seria perfeito se não fossem os azedos do outro lado da mesa me encarando como se eu fosse um fantasma, ou melhor, alguém que deveria não existir ou estar ali.
— É verdade que pensa em estudar biomedicina, Srta. Desmond? — os olhos de Tozawa se estreitaram com algo que eu só poderia descrever como uma pontada de curiosidade. E como ele sabe meu sobrenome?
— Sim.
— E em que área específica você estaria pensando? — Ele se inclinou um pouco na cadeira, a voz ainda fria e calculista.
Eu engoli seco. Ok, respire, Rubie. Você sabia que isso ia ser complicado.
Notei a forma como Yuuki se endireitou na cadeira, como um gato que percebeu que o dono da casa estava prestes a se aproximar da comida. Ele estava alerta, como se estivesse pronto pra saltar e me proteger de alguma armadilha sutil que seu pai pudesse tentar. Mas fui mais rápida, não queria causar uma cena entre eles, parece que apenas conversam pra brigar.
— Ainda estou indecisa. Microbiologia dos Alimentos ou Genética. Ah, tem Estética também. Mabel tem me enchido com isso — dei de ombros, tentando parecer o mais casual possível.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Mentira Que Virou Amor
RomanceIMPORTANTE: História em construção, então sinopse, capa e o título são provisórios. Quando a história for finalizada, será publicada na íntegra na Amazon, ficando apenas alguns capítulos de degustação. Historia crua, primeira versão. Sinopse Provisó...