Capítulo 15

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Eu e Yuuki voltamos para o salão, ainda um pouco sem jeito depois do que havia acontecido lá fora. E claro, agora que meu coração começava finalmente a desacelerar, tudo o que eu conseguia pensar era: como foi que aceitei me envolver nessa confusão? Melhor ainda, como é que acabei beijando o Yuuki sem nem pensar duas vezes?

Chegamos à mesa do Sr. Raavam, que estava rindo de algo com outro convidado, mas quando nos viu, ele abriu aquele sorriso caloroso de sempre, dando tapinhas na cadeira ao seu lado, o que me fez rir de sua descontração.

— Sr. Raavam, posso me juntar à sua mesa? — Yuuki perguntou sem muito rodeio, ao mesmo tempo que seus olhos se desviaram rapidamente para a mesa onde estava sua família.

Sr. Raavam olhou para mim, e eu dei de ombros, como quem diz "por mim, tudo bem". Então ele sorriu e fez sinal para Yuuki se sentar.

— Também não quer perder a companhia dessa bela senhorita, não é? — ele disse, com um sorriso conspiratório e involuntariamente eu correi.

— Certamente — Yuuki sorriu ladino, piscando para mim e eu pedi por um meteoro me atingir naquele momento. Ele percebeu minha vergonha e riu. Ah, aquele sorriso e as minhas borboletas na barriga não estavam se dando muito bem...

Os homens voltaram sua atenção ao palco, onde a cerimônia continuava. Mas eu estava mais focada em evitar olhar para os lábios de Yuuki. Peguei um copo d'água e tentei voltar minha atenção ao palco.

Um pesquisador da GenoX estava recebendo um prêmio por seu trabalho revolucionário no combate a uma endemia do leste asiático. O cara falava com uma soberba clara sobre suas descobertas. O murmúrio inquietante entre os convidados não me passou despercebido.

— O que tá rolando?

Yuuki fez uma careta, como se estivesse pensando em uma maneira de resumir algo complicado.

— Bem, o método dele é meio... invasivo. Ele faz alguns procedimentos que muitos consideram arriscados demais e tem gente que diz que ele passa dos limites éticos.

— Até usam o "guarda-chuva" como referência ao falar dessa empresa.

Yuuki deu uma risadinha da piada, e como não entendi ele explicou que era uma referência a um jogo de zumbi. Continuei sem entender.

— O senhor adora esses tipos de jogos — Yuuki disse, em tom de brincadeira.

— Não me ofenda, garoto. — Pela primeira vez vi Sr. Raavam sério e rapidamente Yuuki lhe pediu desculpas. — Adoro investir em promessas, mas não desse tipo. A ONU está conduzindo uma investigação sobre esse "milagre" no leste asiático, além das acusações da comunidade médica de vustaniana sobre a atuação da empresa em Mahava.

— Mas Mahava não é uma cidade pallaviana? — perguntei, franzindo a testa.

— Exato. Por que um país estrangeiro iria se meter em coisas internas de outro país? — Sr. Raavam devolveu minha pergunta e eu não soube o que responder. — Bom, essa historia ainda vai causar muito burburinho. Até esse premio dele esta sendo duramente criticado.

— Eu não sei, mas só acho que ele devia aprender a cortar o próprio discurso pela metade. — Cruzei os braços, olhando em volta e Sr. Raavam deu uma risada alta.

O discurso finalmente terminou e houve aplausos, ainda que um pouco contidos. A solenidade continuou e, eventualmente, eu fui perdendo o interesse. Nunca pensei que esses eventos fossem tão chatos. Pelo menos a comida estava sendo satisfatória.

Um longo bocejo escapou antes que eu conseguisse segurar e Yuuki me olhou de canto de olho.

— Cansada?

A Mentira Que Virou AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora