Capítulo 26

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Assim que entrei no carro, senti o nó na garganta se apertar de novo. Eu estava à beira do colapso, e segurei o choro com todas as forças. Mas quando o carro começou a se afastar, longe o suficiente daquela mansão maldita, as lágrimas vieram. Silenciosas, quentes, escorrendo sem parar.

A dor no meu peito aumentou enquanto meu corpo tremia de choro, cada soluço sendo uma batalha perdida para a dignidade que eu tentava manter. Tudo o que eu conseguia pensar era em Yuuki... e Betsy... e como fui estúpida o suficiente para começar a me entregar a esse falso relacionamento.

A vista embaçada pelas lágrimas foi iluminada pela luz do meu celular vibrando no meu colo. Yuuki.

Meu coração deu um salto involuntário, e por um segundo, meu dedo flutuou sobre a tela, indecisa. Talvez ele quisesse explicar, talvez fosse tudo um mal-entendido, talvez... Não.

Limpei as lágrimas com as costas da mão, ignorando a chamada. Mas ele insistiu, ligando novamente. A cada toque, o nome de Yuuki piscava na tela. Bloqueei antes que pudesse me render a qualquer coisa. Respirei fundo, tentando sufocar o choro.

Finalmente, o carro parou na frente do meu prédio. O motorista me olhou com uma expressão educada e profissional, mas eu sabia que ele tinha percebido meu estado.

— Obrigada — murmurei, sem realmente conseguir olhar nos olhos dele.

Ao entrar no apartamento, o cheiro familiar de casa me deu um breve conforto. Mas foi passageiro. Mabel estava na sala, jogada no sofá, mas ao me ver, ela endireitou a postura de imediato.

— Bee, o que houve? Você está... com os olhos inchados... Você chorou?

— Não é nada — murmurei, tentando passar por ela sem precisar enfrentar a avalanche de perguntas que eu sabia que estava por vir. Estou quase me tornando uma mitomaníaca.

— Como assim não é nada? Você está vermelha, parece que viu um fantasma ou algo pior. O que aconteceu? Está sentindo dor?

— Não é nada — repeti, tentando desconversar, mas ela me seguiu até o meu quarto, sua curiosidade e preocupação misturadas com um traço de irritação.

— Rubie... Você está escondendo algo. Me diz o que aconteceu agora!

— JÁ DISSE QUE NÃO É NADA!

Eu sempre soube que segurar segredos era como carregar uma bomba-relógio, mas quem diria que a minha explodiria em cima da minha própria irmã? Eu, a rainha da dissimulação. Mabel me encarou em choque, claramente assustada com minha explosão repentina. Até eu fiquei. Era óbvio que eu não estava bem.

Eu estava desmoronando. Todas as peças dessa grande mentira que chamei de "minha vida amorosa" caíram de uma vez, como um castelo de cartas em um vendaval. Quando eu abri a boca novamente, a única coisa que saiu foi um soluço. Sim, isso mesmo, um soluço patético que mais parecia o som de um gato sendo afogado.

— Estou cansada — minha voz falhou. — Cansada de fingir que tá tudo bem, de manter essa farsa ridícula com o Yuuki, de sorrir para as pessoas como se nada estivesse errado. E desse seu maldito casamento... Eu não sei mais como lidar com tudo isso!

— Farsa? — Ela inclinou a cabeça, piscando devagar, tentando processar tudo aquilo. — Que farsa? O que você está falando?

Eu ri, mas foi um riso amargo, cheio de frustração. Eu queria que ela soubesse, mas, ao mesmo tempo, tinha medo. Medo de me expor, medo de admitir o quão estúpida eu tinha sido.

Respirei fundo, tentando organizar o caos que era minha mente. A verdade estava explodindo como uma granada no meio do meu quarto. Se eu fosse confessar, era agora. Ou eu colocava tudo pra fora, ou me afogaria nas minhas próprias mentiras.

A Mentira Que Virou AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora