DIAS DEPOIS...
Hoje é o dia da alta da Ava. Estava indo para o hospital quando meu celular tocou; era o delegado Maximilian Keller. Agora estou sentado na sala de espera da delegacia, o ar pesado como se eu estivesse carregando uma tonelada nas costas. Meus pés batem levemente no chão, um reflexo nervoso que não consigo controlar. Há alguns dias, espero por isso. Quando a polícia prendeu Zadock e o outro homem, o delegado os trouxe para Viena.
Durante a vistoria na casa, encontraram Calton morto na porta do quarto onde Ava estava presa. Ele foi morto com um tiro na cabeça, a mesma arma que Zadock usou para atirar na minha esposa. Calton não tinha esposa nem filhos, apenas uma mãe que mora em uma pitoresca cidadezinha no interior da Áustria. Marco foi até lá e explicou a situação, informando que eu não poderia ir, já que minha esposa estava internada. Dei minhas condolências, sabendo que dinheiro nenhum paga por uma vida. No entanto, paguei uma indenização e arcarei com todos os gastos do funeral, assim como com o tratamento e sustento da mãe, que ele pagava com muito carinho.
Calton morreu para salvar nossas vidas, para que meus filhos tivessem a oportunidade de viver uma vida feliz com a mãe. Não só ele, mas também outros homens que trabalharam com ele. Irei amparar todos que sofreram perdas.
Agora, a verdade está prestes a ser revelada. O enfermeiro que cuidou de Ava no cativeiro foi capturado e hoje será interrogado. O homem que tinha em suas mãos a vida do meu filho. Por mais que eu tente manter a calma, uma parte de mim anseia por respostas imediatas, por justiça. Minhas mãos apertam os braços da cadeira enquanto olho para o relógio. A cada segundo que passa, o barulho dos ponteiros parece ensurdecedor.
Finalmente, a porta se abre e o delegado aparece. Seu semblante é rígido, quase impassível, mas seu olhar indica que o momento chegou.
— Senhor Lockwood — ele me chama com voz firme. — Já estamos prontos. Pode nos acompanhar até a sala de interrogatório.
Assinto e me levanto. Cada passo em direção à sala parece mais pesado, como se estivesse andando em direção a um abismo. Sei que o que ouvirei não será fácil de processar, mas parte de mim precisa daquilo. Precisa entender o que aconteceu naquele maldito dia.
Quando entro na sala, lá está ele. O enfermeiro. O homem que, de uma forma ou de outra, era responsável pelo bem-estar do meu filho enquanto estava sob as garras de Zadock. Ele está sentado, algemado à mesa, com as costas curvadas e os olhos fixos no chão. Parece um homem quebrado, exausto. Eu o odeio. Odeio vê-lo ali, sentado, vivo e respirando, enquanto meu filho estava exposto a tantos perigos, abandonado naquele lugar. Mas, ao mesmo tempo, sei que preciso ouvir o que ele tem a dizer.
O delegado toma seu lugar em frente ao enfermeiro e começa de forma direta.
— Senhor Lincoln, sabemos que você está envolvido no sequestro da senhora Ava Lockwood e da criança Nikolas Lockwood. Também sabemos que o senhor Zadock Lockwood lhe deu ordens para eliminar a criança. Queremos que nos conte, em detalhes, o que aconteceu no lixão. Sabemos que algo se passou lá.
O enfermeiro hesita, engolindo em seco, e finalmente levanta os olhos na minha direção. Vejo culpa e o peso das decisões que ele tomou, mas não me importo com o que ele sente neste momento. Quero saber sobre meu filho... sobre Ava.
— Não há desculpas para o que fiz — ele começa, a voz baixa e trêmula. — Mas, se estou aqui, preciso contar a verdade.
Não digo nada, apenas o observo, tentando controlar o turbilhão de emoções que se forma dentro de mim.
— Zadock me deu ordens claras — ele continua, desviando o olhar. — Ele queria que eu matasse o bebê.
Minha respiração falha por um instante. A simples menção disso me faz querer saltar sobre a mesa e acabar com ele ali mesmo. Como ele ousa? Como pode sequer pensar em seguir uma ordem tão monstruosa? Ninguém é Deus para decidir quem morre ou quem vive.
Mas preciso manter o controle. Preciso ouvir tudo.
— Quando paramos no lixão, ele me mandou me livrar da criança — o enfermeiro prossegue, a voz ainda trêmula. — Eu tinha o bebê nos meus braços e, naquele momento, sabia que não poderia fazer aquilo. Eu sou enfermeiro... dediquei minha vida a salvar pessoas, não a matá-las.
Quero acreditar que ele está sendo sincero, mas como confiar em alguém que trabalhou para Zadock? Alguém que já fez parte de algo tão cruel? Contudo, algo na maneira como fala me faz continuar ouvindo, algo nos olhos cansados dele, encharcados de arrependimento.
— Então, eu apliquei um sedativo no bebê ainda no carro — ele continua, olhando para mim diretamente. — Queria ganhar tempo. Talvez encontrasse uma maneira de salvar a criança. Saí do carro, carregando-o no bebê conforto, e o levei para uma parte mais isolada do lixão.
— E então? — pergunto, a voz rouca e o peito apertado.
Ele hesita, como se estivesse revisitando aquele dia, preso nas próprias memórias.
— Eu sabia que Zadock viria verificar se eu tinha feito o que ele mandou. Eu sei que não tinha muito tempo. Foi então que encontrei um animal morto... Disparei a arma que ele havia me dado, depois peguei o sangue do animal e passei no bebê conforto, nas roupas do bebê. Fiz parecer que... que eu o havia matado.
Ele para, respirando fundo, talvez esperando uma explosão de raiva da minha parte. Tento processar tudo aquilo. Meu filho, Nikolas, esteve tão perto da morte... e este homem, por mais vil que seja, o salvou, mesmo que de uma forma desesperada.
Olho diretamente para ele, tentando encontrar as palavras certas. Parte de mim quer destruí-lo por ter colocado meu filho em perigo, mas a outra parte sabe que, naquele momento crítico, ele fez a escolha certa.
— Você sabia desde o começo que isso era errado — minha voz sai firme, mas trêmula. — Mas você salvou meu filho.
Ele abaixa a cabeça em silêncio, talvez sem saber como responder.
— Eu não sou um homem bom — ele sussurra. — Mas naquele momento, não pude fazer o que me foi mandado. E... sinto muito.
As palavras dele flutuam no ar por um tempo, e eu sinto o peso de tudo aquilo. Respiro fundo, me levantando da cadeira e abotoando meu terno.
— Ele já nos deu o que precisávamos — digo ao delegado, tentando manter a voz firme. — Agora, faça o que for necessário.
Maximilian me olha e faz um aceno com a cabeça. Então, abro a porta e olho mais uma vez para aquele homem.
— Obrigado por ter salvado a vida do meu filho — falo enquanto saio da sala. A adrenalina ainda corre no meu sangue. O peso do que ouvi ainda está comigo, mas agora, eu tenho uma coisa que antes não tinha: uma verdade, mesmo que amarga.
Meu filho está vivo graças a esse homem. Mesmo ele sendo contratado por Zadock para fazer o mal, ele não o fez e, se hoje não estamos chorando por uma perda, é graças a ele. Mas isso não muda nada em relação ao fato de que ele precisa pagar pelo que fez.
Existe a lei da semeadura, e uma hora a conta chega. Agora, só depende das nossas ações para saber se iremos colher frutas ou espinhos, paz ou guerra, amor ou ódio, abundância ou escassez... Tudo depende de nossas escolhas para as nossas ações.
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CASADA COM O MEU EX-CUNHADO.
RomanceÀs vezes nos pegamos apaixonadas quando menos esperamos, no meu caso isso aconteceu repentinamente. Eu estava no museu para uma entrevista de trabalho, me sentia apreensiva, contudo, aquele dia foi o melhor da minha vida. O que eu posso dizer... con...