28| Não se mexe, Endrick

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       — ARGH, de novo não

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       — ARGH, de novo não. — A voz de Estella ecoou pelo corredor assim que comecei a despejar o café na minha xícara. O tom de frustração, familiar e carregado de cansaço, me fez sorrir involuntariamente. Ela estava parada na porta do quarto, com os cabelos desgrenhados e ainda vestindo o uniforme do jogo de ontem. Exatamente como a deixei na cama. — Me diz que isso é um sonho, que eu ainda estou dormindo.

Me virei devagar, segurando a xícara entre as mãos como uma forma de disfarçar o nervosismo que sempre me tomava quando a via assim, tão vulnerável e real, longe daquela figura implacável do campo.

— Felizmente, não. — respondi, deixando um sorriso suave escapar enquanto ela revirava os olhos com impaciência. — Vem tomar café da manhã, eu comprei um iogurte natural vegano pra você.

Ela caminhou até o balcão com passos pesados, como se o peso das últimas 24 horas estivesse nos ombros dela. Sentou-se de frente para mim, apoiando os cotovelos na mesa, o olhar distante. Parecia ainda estar processando onde estava, confusa e abatida.

— O que eu estou fazendo aqui, na sua casa, novamente? — A pergunta saiu misturando exaustão e desorientação, seus olhos semicerrados me encarando como se estivesse testando a minha resposta, sempre desconfiada.

Respirei fundo, tentando parecer casual enquanto inventava uma mentira que soasse convincente.

— A gente acabou dormindo no ônibus. Quando acordei, já tínhamos chegado. Não tinha mais ninguém além de nós dois, então eu te trouxe para cá. Minha casa estava mais perto. — Sorri forçado, esperando que ela não percebesse o desconforto na minha voz.

Mas a verdade era bem diferente. Estella estava tão exausta que nem notou quando Veiga nos chamou no final da viagem. Para ser sincero, eu não tive coragem de deixá-la sozinha naquele estado, tão frágil.  Quando a ajudei a se levantar e a levei para o carro, ela apenas resmungou algo ininteligível e voltou a dormir no banco do passageiro.

Ela começou a mexer no iogurte com a colher, sem muita vontade de comer. O silêncio entre nós era denso, cada segundo parecia carregar o peso das incertezas. Estava claro que algo a incomodava. Provavelmente o jogo. Todas as decisões que teve que tomar, a pressão que ela sempre colocava em si mesma. Eu queria dizer algo que pudesse aliviar isso, mas as palavras pareciam trancadas na minha garganta. Antes que eu pudesse tentar, ela suspirou, quebrando o silêncio.

— Fala. — pedi, sentindo que havia algo mais.

Ela hesitou por um instante, mas então soltou a pergunta de forma direta, como era do seu jeito. — Você ainda não contou por que os policiais levaram você e o Bryan para a delegacia naquele dia. E nem adianta inventar uma mentirinha.

Respirei fundo. Sabia que esse momento ia chegar, mas isso não tornava mais fácil. — Eles acharam que eu parecia com um assassino chamado Elian. Pelo que entendi, ele está na lista dos 20 mais procurados do Brasil. Não por causa da quantidade de mortos, mas pela esperteza e crueldade dele. Só que logo perceberam que eu era muito "burro" pra ser o famoso fantasma Elian. Já o Bryan... bem, eu não sei ao certo por que ele foi levado.

Contradição ||Endrick F. (1° Livro da saga Buoni Demoni)Onde histórias criam vida. Descubra agora