O peso das palavras

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A noite estava calma, mas dentro de mim, um turbilhão de emoções se agitava. Clara havia aparecido novamente, como se fosse natural retomar conversas com Erick após meses sem nenhum contato. Eu tentava controlar a irritação enquanto eles riam e conversavam animadamente, ignorando o desconforto que me consumia. Peguei o celular, fingindo que estava alheia ao que acontecia ao meu redor, mas meus dedos tremiam enquanto tentava parecer ocupada.

-Você está bem?, Erick perguntou de repente, me interrompendo. Seus olhos pretos estavam fixos em mim, como se tentassem enxergar além da fachada de indiferença que eu tentava manter. O encarei rapidamente e forcei um sorriso, murmurando algo vago. Mas por dentro, eu sentia uma irritação crescente.

-Não sei por que você se importa, resmunguei, sem me dar conta do quanto minha frustração havia escapado em minhas palavras.

-O quê? Erick franziu o cenho, claramente confuso. -Claro que eu me importo, você tá estranha...

-Eu estou estranha?! -Soltei uma risada sarcástica, cruzando os braços. "Quem está estranho aqui é você, Erick. Conversando com ela como se nada tivesse acontecido!"

Erick suspirou, sem entender completamente a minha reação. -Eu e a Clara só estávamos conversando. Por que isso te incomoda tanto?

A forma calma como ele falava só aumentava a minha raiva. Era como se ele não enxergasse o óbvio, como se sua presença não tivesse o impacto devastador que eu temia. As palavras estavam presas na minha garganta, e por um momento pensei em me segurar, em não deixar a raiva falar mais alto. Mas a barreira de racionalidade que eu havia construído começou a desmoronar.

-Claro que incomoda, Erick! Eu sei que você quer fingir que tudo entre vocês é só passado, mas ver vocês dois juntos me faz lembrar de todas as vezes que eu...

Parei de falar abruptamente, percebendo que estava prestes a dizer algo do qual talvez não pudesse voltar atrás. Ele me olhou de um jeito inquisidor, como se esperasse que eu completasse a frase.

-Lembrar de quê, Ayla? Ele perguntou suavemente.

-De todas as vezes que você prioriza qualquer uma que não seja eu!-Explodi, a voz carregada de frustração e mágoa. -Toda vez é a mesma coisa! Você finge que eu sou a pessoa mais importante, que sou sua melhor amiga, mas é só uma dessas garotas aparecerem e você esquece que eu existo!"

Ele piscou, atordoado, como se tivesse levado um golpe inesperado. -Isso não é verdade, Ayla... Eu nunca esqueci de você.

-Não? Então me explica por que diabos eu me sinto sempre em segundo plano?.Minha voz tremia com a intensidade das emoções que eu vinha guardando. -Sabe o que é pior, Erick? Eu não sou nada para você além de uma amiga conveniente! Eu sou o plano B, o porto seguro para quando nenhuma outra opção dá certo!

As palavras saíram antes que eu pudesse processar o peso que elas carregavam. Eu respirava rápido, sentindo o peito apertar. Erick abriu e fechou a boca algumas vezes, como se estivesse tentando encontrar uma resposta, mas suas palavras pareciam presas na garganta.

-É isso que você pensa de mim? Ele finalmente sussurrou, a voz baixa e vulnerável de um jeito que eu não estava acostumada a ouvir.

O silêncio que se seguiu era ensurdecedor. A raiva que me dominava começou a dar lugar a uma sensação incômoda de arrependimento. Eu sabia que tinha ido longe demais, que tinha deixado meus sentimentos de insegurança e ciúmes me controlarem.

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