Estava um pouco entediada então decidi lavar o carro que estava a anos guardado na garagem. Já estava mais do que na hora de perder o medo de dirigir.
Amarrei o cabelo de forma prática enquanto me olhava no espelho da garagem. O top que escolhi era mais justo do que costumo usar, e o calção deixava minhas pernas à mostra. Durante anos, evitei roupas assim, achando que não combinavam comigo. Mas, enquanto passava um pano no capô do carro, algo me fez parar.
Me encarei no reflexo da janela, reparando nos detalhes que sempre ignorei. A curva da minha cintura, o tom dourado que o sol deixava na minha pele. Pela primeira vez em muito tempo, me senti bonita de verdade, sem precisar da validação de ninguém. Talvez fosse o esforço do dia, a liberdade que comecei a sentir ao encarar aquele carro abandonado... ou só a necessidade de mudar, finalmente.
Com um sorriso tímido, levantei o olhar para a rua. O som de risadas ao longe se misturava ao ritmo da água correndo pela mangueira. "Eu consigo," pensei, ajustando o elástico do top. Talvez fosse hora de tirar o carro da garagem — e, quem sabe, também os velhos medos que me prendiam.
Finalmente, consegui tirar o carro da garagem sem bater na parede, o que, para mim, já era um grande avanço. Meus dedos ainda estavam firmes no volante, enquanto eu tentava processar o que tinha acabado de fazer. "Eu consegui," pensei novamente, mas uma voz lá no fundo questionava: "Será que consigo ir além disso?"
Foi aí que a realidade me acertou. Depois de quase bater o carro no poste logo na esquina, decidi que dirigir não era para mim. Meu coração ainda estava acelerado, e minha respiração, descompassada. "Nunca mais," murmurei, abrindo a porta e saindo para encarar o mundo de novo.
Antes que eu pudesse me recompor, ouvi passos e uma voz familiar:
— "E aí, motorista? Foi aonde nessa corrida épica?"Erick estava parado ali, com os braços cruzados e um sorriso brincalhão nos lábios. Ele parecia relaxado, como se fosse apenas mais uma tarde comum, mas era impossível ignorar o olhar atento que me observava.
— "Fiz um tour até... o poste," respondi, tentando disfarçar o nervosismo. Ele riu, mas não de um jeito debochado. Era o tipo de risada que fazia meu estômago dar voltas, por mais que eu não quisesse admitir.
— "Então ainda está melhor que minha primeira tentativa. Só para você saber, eu quase derrubei o portão da minha avó." Ele se aproximou do carro, passando os olhos pela pintura ainda molhada pela lavagem. "Dirigir não é tão complicado assim. Só precisa de prática."
— "Não sei se prática resolve meu caso," murmurei, cruzando os braços enquanto o observava com cuidado. Ele deu de ombros e abriu a porta do lado do passageiro.
— "Sobe aí. Vamos dar mais uma volta."
— "Você só pode estar brincando."
— "Eu nunca brinco com coisas sérias, Ayla," respondeu, com aquele sorriso malicioso que ele adorava usar contra mim. "E confia em mim, você não vai desistir assim tão fácil."
Antes que pudesse protestar, ele já estava ajustando o cinto no banco do passageiro, como se isso resolvesse qualquer dúvida. Por algum motivo, o pânico que eu sentia ao volante era menor quando ele estava por perto. Mesmo com toda a implicância e os olhares desafiadores, algo nele fazia tudo parecer mais simples.
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O despertar do amor
RomanceDesde a infância, Ayla e Erick mantiveram uma amizade marcada por travessuras e implicâncias. Quando tinham 18 anos, um vínculo especial surgiu entre eles, mas, ocupados com questões pessoais, nunca perceberam a profundidade dos sentimentos que comp...