20.

43 6 3
                                    

Madelyn Lewis

Acordar cedo depois de uma noite sem dormir era como carregar uma pedra no peito. Meu corpo estava exausto, e minha mente, inquieta, pulava de pensamento em pensamento. Coloquei a roupa como quem veste uma armadura para enfrentar o dia, mas ainda era cedo demais para enfrentar o mundo.

Peguei o maço de maconha na cabeceira, talvez buscando algum tipo de alívio que o sono negou. Estar ao lado do Vinnie ontem foi tão... acolhedor, de um jeito que quase me desarmou completamente. Só queria esquecer um pouco toda essa carga, todo esse peso, e deixar que, por alguns minutos, o mundo simplesmente se dissolvesse.

Segurei o maço por um instante, respirando fundo. Olho no relógio 5:50.

Lá fora, o céu ainda estava escuro, e a ideia de ter que encarar mais um dia sem descanso me fazia querer me enrolar de novo nas cobertas e nunca mais sair. Mas eu sabia que se eu deitasse novamente não iria dormir.

Fechei os olhos e pensei nele, Vinnie, no jeito com que seu olhar parecia me ver de verdade. Aquela preocupação, aquele toque de cuidado... Eu não sabia se era coisa da minha cabeça ou se ele realmente sentia algo também. Só sei que, por um segundo, tudo o que eu queria era que ele estivesse aqui, ao meu lado, me envolvendo em um abraço seguro, como se ele pudesse proteger até meus pensamentos.

Mas, ao mesmo tempo, uma voz ecoava, eu não queria ser inconveniente. Não queria cruzar linhas invisíveis ou acabar estragando tudo. Suspirei, acendendo o maço, com um misto de ansiedade e resignação.

Olhei para o maço na minha mão, e a lembrança veio com força, como se eu tivesse sido transportada para anos atrás, quando meu pai me pegou de surpresa com aquele tom sério que usava raramente.

Era uma noite qualquer, dessas em que ele ficava sentado ao meu lado, enquanto eu reclamava do mundo ou fazia perguntas sem fim. Ele me olhou nos olhos, aquele olhar firme, quase como se pudesse ver cada parte de mim que eu tentava esconder.

- Madelyn. - ele disse - promete que nunca vai usar drogas, cigarro, seja o que for. - Ele não explicou muito, mas sua voz tinha uma tristeza que nunca entendi completamente. Naquele momento, ele só me pediu para prometer, e eu prometi.

E agora, ali estava eu, segurando algo que sabia que ele jamais aprovaria. De repente, um peso novo caiu sobre meus ombros, misturado à saudade, à sensação de estar quebrando uma promessa feita a alguém que sempre quis o melhor para mim.

Olho pela janela e, atraída pelo clima melancólico do dia, decido descer e explorar o quintal. O céu está cinza, pesado, e há algo nas nuvens densas que quase pede que eu me perca um pouco.

Desço as escadas, e assim que abro a porta principal, uma brisa gelada me acolhe, acariciando meu rosto e me fazendo arrepiar levemente. Dou alguns passos pelo gramado úmido, absorvendo a beleza ao redor, as folhas brilham com o orvalho, e o cheiro de terra molhada é forte e reconfortante. Vou em direção aos fundos, onde uma grande piscina reflete o céu um pouco escuro ainda. Sem pensar muito, sento-me na borda, deixo meus pés tocarem a água fria.

Enquanto dou uma tragada, uma calma estranha se mistura com a inquietude em mim. A fumaça se perde no ar e penso no quanto tudo à minha volta parece se desfazer, como se o mundo estivesse se esgotando aos poucos, ou talvez eu mesma estivesse. Fecho os olhos por um momento, querendo me perder ali, apenas por alguns segundos.

Desejo Mortal - Vinnie Hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora