49.

77 9 0
                                        

Madelyn Lewis

Lacrado.

Era assim que estava o caixão do amor da minha vida. Fechado, selado, vazio de sua presença, mas preenchido com o peso insuportável da sua ausência. Não havia corpo, apenas as roupas que um dia envolveram sua pele quente e viva. Era isso que eu enterraria: pedaços do que ele foi, do que ele representou para mim.

Dois dias atrás, os bombeiros chegaram ao local onde tudo aconteceu. O que restava do depósito não passava de escombros, cinzas e um cheiro sufocante de queimado. Eles procuraram por horas, talvez por esperança, talvez por protocolo. Encontraram alguns corpos, pedaços de outros, restos carbonizados que um dia foram homens cheios de intenção, de vida e de pecado.

De Vinnie, encontraram apenas um pequeno pedaço de tecido, parte de sua camiseta, quase irreconhecível pelo fogo. Nada mais. Nada que eu pudesse segurar, abraçar, velar. Ele não sobrou. Assim como Jackson, ele havia desaparecido na explosão. A diferença é que Jackson merecia. Mas Vinnie... Vinnie foi o preço alto demais que paguei por essa guerra.

O mundo ao meu redor parecia seguir em frente. As pessoas falavam, consolavam, faziam planos para um futuro que para mim não existia mais. Como seguir quando o meu porto seguro virou poeira? Como respirar quando o ar que eu precisava para viver se dissipou no meio das chamas?

O caixão foi abaixado na terra fria e, com ele, minhas últimas forças.

O vento frio soprava forte naquela manhã cinzenta. O céu, encoberto por nuvens pesadas, parecia refletir exatamente o que eu sentia por dentro. O caixão lacrado estava à minha frente, rodeado por poucas flores.

Minha garganta estava seca, minha respiração pesada. Meus olhos, vermelhos de tanto chorar, fitavam o chão sem realmente enxergar nada. Pessoas ao redor murmuravam palavras de consolo, mas nenhuma delas fazia sentido. Nada que dissessem poderia mudar o fato de que ele se foi.

Senti uma presença se aproximando e, sem precisar olhar, eu já sabia quem era. Meu pai parou ao meu lado, silencioso por alguns segundos, observando a cena diante de nós.

- Eu sei que não há palavras que possam aliviar essa dor - ele disse, sua voz rouca pelo tempo e pelas cicatrizes do passado. - Mas eu estou aqui, filha.

Eu fechei os olhos com força, prendendo o soluço que queria escapar. Não queria consolo, não queria palavras gentis. Só queria que aquilo fosse um pesadelo e que, quando eu acordasse, ele ainda estivesse comigo.

- Ele se foi, pai - minha voz saiu trêmula. - Eu vi aquele lugar explodir... Eu vi tudo desmoronar.

Meu pai respirou fundo, seu único braço descansando em meu ombro com um aperto firme e quente.

- Eu sei.

Ele virou o rosto para mim e, quando nossos olhos se encontraram, vi algo neles. Não era apenas luto, mas uma chama de convicção, algo que eu não conseguia decifrar completamente.

- Você amava esse cara? - ele perguntou, mesmo já sabendo a resposta.

Engoli em seco. Meu peito apertou.

- Com tudo que eu sou.

Meu pai assentiu devagar.

- Então honre isso. Viva. Não deixe que a dor te consuma... porque foi isso que eu fiz quando perdi sua mãe e você, e não quero que você cometa o mesmo erro.

O nó na minha garganta ficou insuportável. As lágrimas voltaram a escorrer silenciosas, e meu pai simplesmente ficou ali, ao meu lado, firme como uma rocha. Mesmo sem palavras, ele estava ali. E, por agora, isso era tudo que eu precisava.

Desejo Mortal - Vinnie Hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora