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Vinnie Hacker
16 anos atrás.

Eu estava sentado na sala, no andar de baixo, com as pernas cruzadas no carpete puído. O som da TV estava baixo, mas não baixo o suficiente para abafar os gritos vindos do andar de cima. Aquele era o som da minha vida. Gritos. Discussões. O som de móveis sendo arrastados ou de algo quebrando. E, às vezes, o som de um tapa.

Tapei os ouvidos com força, fechando os olhos e tentando me esconder do barulho. Estava cansado. Não só das brigas, mas da sensação de impotência que vinha com elas. Eu era pequeno demais, fraco demais, e sabia que, não importa o quanto eu quisesse, não podia fazer nada para protegê-la.

O som que ouvi foi alto, um estrondo que fez meu coração parar. Era como se algo tivesse se chocado contra o chão.

Minha respiração ficou presa, e sem pensar, fui correndo até as escadas. Não me importava se ele ia gritar comigo, ou se me mandaria de volta para o meu quarto. Alguma coisa dentro de mim sabia que algo estava errado.

Quando alcancei o corredor da escada, meu mundo desabou.

Minha mãe estava no chão do corredor, desmaiada. Seu rosto estava virado para o lado, o cabelo espalhado ao redor como se fosse um tapete de seda. Havia sangue escorrendo de um corte na testa, manchando o carpete.

E ele... Meu pai estava parado na escada, olhando para ela. Mas não era um olhar de preocupação ou culpa. Não, era algo muito pior. Ele estava satisfeito, como se estivesse admirando uma obra que acabara de terminar.

- Mamãe! - Gritei, minha voz mais alta do que jamais tinha sido. Corri até ela, os joelhos batendo no chão com força ao meu lado.

Mas antes que eu pudesse tocá-la, ele desceu as escadas rapidamente e me empurrou. O golpe me jogou contra a estante no corredor. Senti a madeira dura bater nas minhas costas, e a dor fez tudo ficar turvo por um segundo.

- Fique no seu lugar, moleque! - Ele rosnou.

Eu me encolhi no chão, a dor latejando nas minhas costas. Ele se ajoelhou ao lado dela, examinando-a como se fosse uma boneca quebrada, antes de se levantar e pegar o celular no bolso.

- Preciso que venham agora. - Sua voz era fria, como se estivesse pedindo um conserto para algo insignificante.

E foi aí que senti. Não era só tristeza ou medo. Era ódio. Algo que queimava fundo, corroendo tudo por dentro. Ele não se importava com ela. Ele não se importava comigo.

Sem pensar, levantei-me, ignorando a dor, e corri até ele. Golpeei seu braço, tentando arrancar o celular de sua mão.

- Não toque nela! - Gritei, minha voz embargada de raiva e lágrimas.

Mas ele nem hesitou. Sua mão se levantou e, antes que eu pudesse reagir, senti o soco acertar meu rosto. A dor foi instantânea, e o impacto me jogou no chão ao lado da minha mãe.

- Você é um lixo, igual a ela. - Ele cuspiu, a voz carregada de desprezo.

Eu fiquei ali, imóvel, o gosto de sangue na boca. Ele estava certo sobre uma coisa, eu era pequeno demais para enfrentá-lo.

Não sei quanto tempo passou, mas de repente, ouvi vozes. John. Ele chegou com alguns homens, e eles entraram apressados, pegando minha mãe do chão e carregando-a.

Desejo Mortal - Vinnie Hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora