Desejo Mortal - Vinnie Hacker

36.

Madelyn Lewis

A luz invadiu o quarto através das cortinas entreabertas, e minha cabeça pulsava como se tivesse um tambor sendo batido incessantemente dentro dela. Soltei um gemido baixo, sentindo o peso da dor em cada célula do meu corpo. Quando abri os olhos, o quarto parecia girar levemente, mas o que chamou minha atenção foi a figura sentada na beira da cama.

Era Vinnie, de costas para mim, mexendo em seu celular. Por um segundo, me perguntei se estava sonhando, mas a dor na minha cabeça me lembrou que aquilo era muito real.

- Vinnie? - minha voz saiu rouca, mais um sussurro do que qualquer outra coisa.

Ele se virou, e o olhar que me lançou me fez engolir seco. Não era só raiva. Tinha algo mais ali, algo que misturava preocupação e exasperação.

- Como você está? - ele perguntou, a voz baixa, mas firme.

- Dor de cabe... - comecei a responder, mas antes que eu pudesse terminar, ele estendeu um comprimido e um copo d’água na minha direção.

Franzi o cenho, surpresa com a antecipação dele. Peguei o remédio e o copo, hesitando por um momento antes de tomar. O alívio não foi imediato, mas só de sentir a água descendo pela garganta já parecia um consolo.

- O que aconteceu? - perguntei, embora já tivesse uma vaga ideia.

Vinnie soltou uma risada seca, sem um pingo de humor.

- O que aconteceu é que você encheu a cara de maconha e álcool ontem, Madelyn. Qual o seu problema? Você bebeu o quê? Três garrafas?

Fechei os olhos, tentando ignorar o peso das palavras dele. A memória começou a voltar em pedaços desconexos. Eu roubando maconha do quarto de Jordan. Pegando as garrafas de bebida na cozinha. Achando que, talvez, aquilo fosse suficiente para apagar o que eu sentia.

Fiquei em silêncio, o olhar fixo no chão, enquanto ele continuava me observando.

- O que aconteceu? - ele perguntou, a voz mais baixa, mas com um tom que exigia respostas.

- Eu... Não sei. - murmurei, tentando esconder a verdade de mim mesma tanto quanto dele. - Só precisava esquecer... e...

Quando levantei os olhos para ele, me arrependi na mesma hora. Vinnie estava me encarando, a atenção fixa em mim de um jeito que me fez sentir nua. Recuei instintivamente, desviando o olhar.

- Não é da sua conta. - cortei, levantando-me da cama com o pouco de força que consegui reunir. - Preciso de um banho.

Dei dois passos em direção ao banheiro antes de sentir a mão dele no meu braço, firme o suficiente para me fazer parar, mas sem machucar.

- Madelyn, entenda que você é da minha conta. - ele disse, a voz mais grave agora, carregada de autoridade. - Fala agora. O que aconteceu?

Engoli em seco, sentindo o peso da pergunta. Ele não ia me deixar escapar dessa. Mas como eu podia explicar? Como eu podia colocar em palavras o tipo de dor que me levou a fazer aquilo?

Fiquei ali parada, com o coração acelerado e a mente caótica. Pela primeira vez em muito tempo, eu não sabia como esconder. E isso me apavorava.

O toque de Vinnie no meu braço era firme, como se ele quisesse ancorar todas as minhas inseguranças naquele instante. Respirei fundo, tentando reunir alguma coragem para enfrentar aquela conversa. Minhas palavras saíram antes que eu pudesse impedi-las, um reflexo do caos que estava dentro de mim.

- Acha que... mudar é ruim? - minha voz saiu baixa, quase um sussurro.

Ele estreitou os olhos, tentando entender o que eu queria dizer.