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Madelyn Lewis

O cheiro de café fresco e pão quente pairava no ar, misturado com o som abafado de conversas e talheres se chocando contra pratos. A lanchonete não tinha nada de especial um daqueles lugares simples e acolhedores, onde o tempo parecia passar mais devagar. Mas, para mim, aquele momento era tudo.

Eu olhava para o homem à minha frente, absorvendo cada traço de seu rosto, cada fio grisalho em seus cabelos escuros. Meu pai. Ainda era difícil acreditar que ele estava ali, comigo, depois de tantos anos.

Ele me observava com atenção, como se quisesse decorar cada detalhe, como se temesse que eu desaparecesse. E eu entendia.

Porque eu sentia o mesmo.

- Você parece diferente - ele comentou, segurando a xícara de café entre as mãos. - Mais forte.

Soltei um sorriso fraco.

- O tempo faz isso com a gente.

Ele assentiu, mas havia algo pesado em seu olhar.

- Eu queria ter estado lá.

A dor em sua voz fez meu peito apertar.

- Eu sei.

Um silêncio se instalou entre nós, mas não era desconfortável. Era denso, carregado de tudo o que ficou preso no passado, de tudo o que nunca foi dito.

- Você está bem? - ele perguntou depois de um tempo.

A resposta deveria ser fácil. Um simples "sim" resolveria. Mas eu sabia que ele enxergaria a mentira.

- Eu sobrevivo - murmurei, desviando o olhar para o café.

Ele respirou fundo, suas mãos se fechando ao redor da xícara.

- Isso não é suficiente, Madelyn. Você merece mais do que apenas sobreviver.

As palavras mexeram comigo de um jeito estranho, como se cutucassem algo dentro de mim que eu tentava ignorar.

- Algumas coisas ainda me assombram - admiti, quase num sussurro.

Ele não disse nada de imediato. Apenas estendeu a mão sobre a mesa e segurou a minha. O calor da sua pele era reconfortante, familiar.

- Eu queria poder apagar tudo de ruim que aconteceu com você - ele disse, a voz carregada de emoção. - Mas o que eu posso fazer agora é garantir que você nunca mais passe por nada assim.

Meus olhos arderam, e eu precisei piscar algumas vezes para conter as lágrimas.

- Eu senti sua falta, pai. Todos os dias.

Ele apertou minha mão com mais força.

- E eu senti a sua, pequena. Mais do que posso colocar em palavras.

E por um breve momento, naquele pequeno espaço de tempo dentro de uma lanchonete qualquer, o mundo parou.

E eu senti que estava em casa.

Vinnie Hacker

O relógio na parede marcava quase nove da manhã quando a porta do escritório se abriu.

Eu estava sentado atrás da mesa, uma garrafa de uísque ao lado, os cotovelos apoiados no tampo de madeira enquanto encarava a pilha de papéis à minha frente. Assuntos pendentes, problemas para resolver, decisões para tomar. Mas minha cabeça estava em outro lugar.

Naquele maldito casamento.

Na forma como tudo desmoronou em segundos.

Aquele desgraçado ainda estava solto.

Desejo Mortal - Vinnie Hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora