17.

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Madelyn Lewis

Acordei com a luz invadindo o quarto, depois da conversa de ontem com Vinnie eu me deitei e esqueci totalmente de fecha-las. Faz tempo que não acordo com vontade de levantar. Só fico deitada, olhando para o teto, sem pensar muito em nada, mas sentindo tudo ao mesmo tempo.

Sinto falta dele. Do jeito como a presença dele preenchia o ambiente. Agora o silêncio grita. E me pergunto se algum dia vai parar de doer tanto.

Levanto porque preciso, não porque quero. O chão está gelado, e isso me faz sentir viva, ao menos por um instante. Sigo até o banheiro, faço o que tenho que fazer, mas é como se fosse outra pessoa no controle, não eu. Escovo os dentes, lavo o rosto, olho no espelho... e o que vejo? Alguém cansada, talvez um pouco perdida.

Por um segundo, sinto vontade de voltar pra cama. Seria tão fácil me enrolar nos lençóis e deixar o dia passar. Mas eu sei que não posso. Dou uma última olhada no espelho, tentando me convencer de que vai ficar tudo bem, mesmo que eu ainda não acredite nisso.

Olho para o céu pela janela o sol se faz presente, mas ainda sim não sinto calor, a temperatura está estável e eu amo isso.

Respiro fundo me convencendo a seguir, o dia está lindo, e acordar com essa vista me faz bem. Vejo alguns funcionários lá fora, três para ser mais exata. Um deles estava tirando as folhas secas da grama, o outro podava um pequeno ramo e o outro molhava as flores do jardim

As pessoas continuam vivendo, o mundo gira, você perde, você chora, você entra em desespero com a sua dor, mas o mundo não para, ele não para pra você, não para pra sua dor, ele continua e você é obrigada a continuar se não quiser se afundar cada vez mais e acabar esquecida... morta.

Acordar, levantar, fazer as mesmas coisas... tem sido tudo tão mecânico. Como se cada passo fosse uma obrigação, não uma escolha. Escovar os dentes, lavar o rosto... olhar para mim mesma no espelho e não me reconhecer. Quando foi que eu comecei a me sentir assim? Talvez tenha sido aos poucos, depois que ele se foi.

Eu ainda sinto a presença dele por aqui, mesmo que ele não esteja mais. Acho que é isso que me pesa tanto. Tento me convencer de que vai ficar tudo bem, mas a verdade é que nem sei o que seria "ficar bem". Tento me levantar e seguir em frente, mas às vezes me pergunto se isso é possível sem ele.

Vou até meu closet e visto uma calça de alfaiataria e um camisa branca básica, por cima coloco meu blazer preto que combina com a cor da calça.

Sento-me em frente à penteadeira e começo a passar a base no rosto, como faço quase todos os dias. Movimentos automáticos, sem pensar muito. Mas então, meus olhos caem sobre a foto do meu pai ali, ao lado. Eu paro, o pincel ainda suspenso no ar. Ele está com aquele sorriso que só ele tinha, vestindo uma camisa que, claro, combinava com a minha roupa naquele dia. Sempre fazia isso. Um costume bobo, mas que significava tanto.

O vazio que ele deixou ainda está aqui, às vezes disfarçado entre as responsabilidades e o barulho do dia a dia. Mas quando eu vejo nossas fotos... é como se a saudade me atingisse de novo, sempre inesperada.

Olho para a foto por um segundo a mais e, de repente, sou transportada de volta a uma tarde de outono, uma daquelas que vivíamos juntos. Lembro-me de estar no parque, com folhas douradas caindo ao redor. Eu estava usando uma jaqueta vermelha, e claro, ele usava um cachecol da mesma cor. Era o jeito dele de dizer "estamos juntos, eu cuido de você". Não precisava de palavras, aquele gesto já dizia tudo.

Desejo Mortal - Vinnie Hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora