CAPÍTULO 31 - TÃO LONGE DO INFERNO, TÃO LONGE DE VOCÊ

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A noite havia caído como um manto pesado, mas o peso em meu peito era ainda maior. As palavras de Jenna continuavam ecoando em minha mente. Psicopata. Assassina. Obsessiva. Não importava o quanto eu tentasse me justificar, cada acusação parecia mais verdadeira a cada momento que passava.

Caminhei pelo corredor vazio do porão, as paredes frias parecendo fechar-se ao meu redor. Meu corpo tremia, e minha mente estava em um turbilhão. Sentia-me vazia, mas ao mesmo tempo cheia de uma dor insuportável. Jenna estava grávida. Havia uma vida crescendo dentro dela, e eu era a causa de sua existência. Mas, em vez de alegria, tudo o que sentia era desespero e culpa.

Eu subi as escadas em passos pesados, parando no quarto escuro onde costumava sentar para observá-la pelas câmeras. A tela ainda mostrava Jenna, agora deitada no chão da jaula, os braços em volta de si mesma como se tentasse se proteger do mundo ou talvez de mim. Ela parecia tão pequena, tão frágil, mas havia uma força nela que eu nunca conseguiria quebrar. Eu sabia disso agora.

Meus olhos encheram-se de lágrimas novamente, mas desta vez, eu não as contive. Elas escorreram silenciosamente enquanto eu observava Jenna, incapaz de desviar o olhar. O que eu havia feito? Como tudo tinha chegado a esse ponto?




[...]



A manhã chegou como um golpe lento e cruel. Eu não dormi. Passei a noite inteira sentada no quarto, debatendo comigo mesma. Deixar Jenna ir significava perder não apenas ela, mas também meu filho. Mantê-la presa significava continuar esse ciclo de destruição. E talvez... talvez ela estivesse certa. Talvez eu não soubesse o que era amar.

Respirei fundo antes de descer novamente ao porão. Minha cabeça ainda estava uma confusão, mas eu precisava enfrentá-la, precisava encarar a verdade. Jenna era tudo para mim, mas eu estava me tornando o monstro que ela dizia que eu era.

Quando cheguei à jaula carregando uma bandeja cheia de comida, ela estava sentada no mesmo lugar, o olhar vazio fixo no chão. Ao ouvir meus passos, ela ergueu os olhos para mim. Não havia mais medo ou raiva em sua expressão, apenas cansaço.

- O que você quer agora? - sua voz era baixa, quase um sussurro.

- Trouxe sua refeição, eu caprichei dessa vez. - digo destrancado a porta e entrando dentro com a bandeja. - Tem frutas, carboidratos e proteínas... Tudo que o nosso filho precisa.

- Eu não quero comer.

- Você precisa comer Jenna, agora você carrega um ser em seu ventre. - digo me ajoelhando em sua frente deixando a bandeja no chão.

Jenna permaneceu imóvel, sua expressão impenetrável enquanto me encarava. Havia um silêncio pesado entre nós, quebrado apenas pelo som abafado de minha respiração. Eu podia sentir sua resistência, seu desejo de lutar contra mim mesmo em sua fragilidade.

- Nosso filho? - ela finalmente disse, a palavra carregada de amargura. - Você não tem ideia do que significa essa palavra, não é? Nosso? Como se eu tivesse escolhido isso. Como se eu tivesse escolha em alguma coisa.

Eu engoli em seco, a culpa queimando em minha garganta. Era difícil encontrar as palavras certas, mas eu precisava tentar.

- Eu sei que cometi erros, Jenna. - minha voz saiu quase em um sussurro. - Eu sei que... eu passei dos limites. Mas eu nunca quis machucar você. Nunca quis machucar ninguém.

Ela riu sem humor, um som seco e cortante que me fez estremecer.

- É mesmo? Então o que você chama isso? - ela gesticulou em volta, indicando a jaula, as câmeras, o porão. - Amor? Preocupação? Você me tirou tudo. Minha liberdade, minha dignidade, minha... Minha vida. E agora quer que eu confie em você? Que eu acredite que você se importa?

AMOR EM CORES VIVAS - JENNA ORTEGA / GP!Onde histórias criam vida. Descubra agora