Capítulo 34

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POV Fernanda

-Então se eu tivesse falado tudo você não vinha?-Souza era muito cara de pau, me fala as coisas pela metade e quando eu vejo entrei numa furada.

-Óbvio que não Daniela, não assim pelo menos.-indiquei a roupa que usava e ela sorriu de canto.

-Não sem calcinha?-eu estava com um vestido preto que ia pouco abaixo da minha coxa, mas ele era muito justo e não dava pra usar calcinha, desde que Daniela descobriu isso tava me provocando.

-Você me entendeu.-revirei os olhos.-Como que vou conhecer sua mãe assim do nada, cara?-passei a mão no rosto indignada.

Até então nosso combinado era passar fim de semana juntas na casa dela e curtir o aniversário da Lima, então ela me buscou no curso e pegamos minha mochila com as roupas antes de pegar a estrada.

Eu ainda não conhecia todas as áreas do Rio, mas Daniela me explicou que a gente morava na Zona Sul e ia pra Zona Norte onde ficava a favela da aniversariante. No mapa a cidade e o estado parecem ser pequenos, mas eram muito maior do que eu imaginava.

Era sexta de noite e a gente já ia chegar num baile, íamos embora na tarde de domingo porque ia ter mais um dia de festa e churrasco. Bandido é uma raça que tem pique pra comemorar, qualquer coisinha já quer assar uma carne e tomar whisky caro.

Quando a gente tava praticamente na metade do caminho, segundo o GPS daquele transformer que ela chama de carro, Souza falou que mãe dela era moradora da comunidade e que a gente ia almoçar com ela no domingo antes de ir embora, faltou eu me jogar do transformer em movimento.

-Que do nada, garota, deixa de ser doida.-ela tava se divertindo com minha dor, sádica do cacete.-Nesses dias que colei aí nem consegui ver ela, pô, tô juntando o útil ao agradável.-tentou se explicar.

-Não sei não, hein...-peguei uma mecha da lace preta brincando com o cabelo.

-Tá de boa preta, tá comigo tá com Deus.-ela riu apertando minha coxa com a mão livre.-Pode parando de bobeira que você não é tímida, caralho, já te comi até do avesso e tu com esse papinho.-me segurei pra não bater nela porque ela tava dirigindo, mas tirei a mão dela da minha coxa.-Qual foi, preta, eu num ia te colocar em furada.

-Hum.-me limitei a responder e ela revirou os olhos colocando a mão virada pra cima esperando eu segurar, mas eu resisti ao seu charminho.

Souza tinha estado estranha esses dias, mais desconfiada que o normal, perguntou se eu não queria aprender atirar pra me defender e aí eu fiquei preocupada porque ela sabe que eu não suporto arma, até pede pro pessoal esconder e disfarçar quando eu tô junto então pra ela me propor isso algo sério devia estar acontecendo.

Fomos o resto do caminho sem falar uma com a outra e com Xamã cantando no som.

Não me solta, você levou um pedaço do meu coração
Eu doido pra pegar de volta
Olha quanta gente louca beijando na boca
Sorrindo e bebendo à sua volta
Quase meia-noite e pouca
Que loucura é essa?
Acho que isso é loucura nossa

Eu tava aprendendo aos poucos a conviver com essa vida maluca da Daniela ainda mais porque ela não me contava tudo, mas quando ela me incluía nas coisas que eu sabia que eram importantes pra ela como o aniversário da Lima eu me sentia tão...sei lá, tão amada.

E agora com isso de conhecer a mãe dela era um passo importante, mas a gente nem namorava, nem tínhamos dito as palavrinhas mágicas.

Pode parecer meio antiquado, mas eu trazia muito da minha criação interiorana de tradições e fazer as coisas meio que seguindo uma cartilha.

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