Capítulo 30

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POV Souza

-Na moral, tu num vai gostar de tá com essa porra na minha cara quando a Lima chegar aqui não, pivete.-coloquei o braço pra fora da janela com um sorrisinho debochado de canto, Veneno tava no volante com a cara fechada pro menor que tava com uma arma apontada pra minha cara se segurando pra não reagir e descer a porrada nele.

Se fosse em qualquer outro lugar, com qualquer outro 01 eu já tinha deixado ela descer o cacete nele, mas Lima tinha uma moral que nenhum outro tinha. Nós tínhamos história juntas e devia ser respeitada.

Passei a mão na boca olhando o garoto de cima abaixo, magrelo sem camisa e com uma tatuagem de palhaço no pescoço, esse aí se saísse do morro levava logo uma bala na cabeça dos vermes mesmo nem tendo porte de quem mata verme.

-Cala a boca, mano!-a voz dele falhou e eu vi sua mão tremer, ele não ia atirar, tava segurando a arma sem o dedo no gatilho, só queria tentar me assustar ou não sabia como usar uma, é cada moleque que entra no crime sem saber o que esperar dessa vida.-Fica na tua, caralho!-olhou por cima do ombro para os amigos que davam apoio moral a distância e eu encostei a cabeça no banco do passageiro cansada.

Eram alguns vapores novos na entrada do morro da Lima e me barraram de passar, pelo visto não me conheciam e eu não culpava eles, mas não ia perder a oportunidade de tirar uma onda com a cara deles.

Tava com um carro diferente também, uma BMW nova, troquei de carro no meio do caminho dando voz pra minha neurose de que tavam na minha cola.

-Caralho, sabe chegar na humildade não, parceira?-Lima gritou quando me reconheceu dentro do carro, colocando os óculos escuros na cabeça.-Abaixa essa porra, moleque, tem amor a vida não cacete?-dei pra ele um olhar de eu avisei, mas sem falar nada de fato.-Libera a passagem pra ela, bora, agiliza aí, carai!-os cinco moleques se moveram pra deixar o carro passar e Veneno acelerou quase acertando um deles de raspão, tava cheia de ódio já.

Esperei ela parar numa esquina e desci fazendo sinal pra ela esperar lá dentro.

-Foi mal aí, GTA marolou legal nessa.-Lima olhou feio pro moleque que tava apontando a arma pra mim e agora encarava o chão envergonhado parecendo bem mais uma criança.

-GTA?-falei em forma de pergunta e Lima deu de ombros, parecia que os vulgos só pioravam com o passar do tempo.

Trocamos um toque de cumprimento e ela se aproximou da janela do motorista pra explicar onde Veneno devia deixar o carro, na minha casa daqui e logo Lima voltou pro meu lado.

-Tudo certo pra mais tarde?-perguntei pegando o maço no bolso e oferecendo um cigarro pra ela.-Doutora tá na área?-o território da Lina era bem mais plano que o meu, não era um morro era o que os boys chamavam de comunidade pra não chamar de favela.

-Ela vai chegar amanhã de manhã já em Angra, daqui saímos só a gente com o PH.-Lima pegou um cigarro e começamos a caminhar juntas ganhando alguns olhares de reconhecimento, pessoas que me viram crescer.-Mas ela vai passar aqui antes, conferir se a Gringa terminou com a parada que cê me pediu.-encostamos num bar e ela levantou a mão pedindo duas cervejas com o sinal universal.

-Tendi.-peguei meu próprio cigarro e o isqueiro dividindo o fogo com ela.-Valeu por colocar essa pressão.-em volta tudo parecia normal como se o tempo tivesse parado, queria colar no barraco da minha mãe, mas hoje minha prioridade era outra e eu não podia sair do foco, talvez no fim de semana quando Fernanda estivesse junto.

-Tô contigo pô, sempre.-Lima abriu o latão dando um gole significativo enquanto eu tragava o fumo.-PH disse que chega às onze e quinze, daqui pra Angra num é nem uma hora direito, tua contenção vai com a gente?

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