Capítulo 19

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POV Fernanda

Hoje era o dia que a cama e o colchão chegavam e também o dia que Souza e André iam se conhecer oficialmente, então resolvi ir no mercado do seu Joca pra comprar algumas coisas pra fazer um bolo porque não tava mais aguentando ficar naquela casa sozinha rodando de um lado pro outro.

André tinha insistido em ajudar a montar assim como Souza, então Rayssa e eu íamos ficar observando o que aqueles dois iam aprontar juntos, sendo que só Souza sabia que era uma missão pra dois, Dré ainda não.

Como ainda era de manhã cedo planejamos emendar uma praia depois, eu nunca tinha visto o mar de perto e o dia que Souza tentou me levar choveu então ainda era uma vontade minha.

Tava viajando nos meus pensamentos quando alguém esbarrou na minha cintura, olhei pra baixo vendo um projeto de gente me encarando curioso.

-Ô tia, desculpa!-era Isaac, o menino do outro dia, ele estava sem camisa, chinelo e bermuda segurando uma nota de cinquenta.-Pode me ajudar, por favor?-ele tinha uma cara meio confusa muito diferente de toda raiva que eu tinha visto da última vez.

-O que foi?-me agachei pra olhar ele nos olhos, Renata sempre dizia que esse era o melhor jeito de se falar com crianças.

-É que minha mãe pediu pra eu comprar agrião, espinafre e rúcula.-ele começou a explicar coçando a cabeça meio confuso e olhando para os lados como se tivesse com vergonha.-Mas pra mim esse mato é tudo igual.-eu tive que rir da cara de bravo que ele fez ao concluir o raciocínio.-Ih tia, qual foi, tá tirando é?-fez o olho ficar pequeno e eu ri mais ainda.

-Que isso moleque, isso é jeito de falar?-Radinho se intrometeu na conversa, nem percebi que ele tava ali até chegar perto pra falar com a gente.-Mais respeito com os outros, pivete, ele tá te incomodando, Nanda?-se virou pra mim de cara fechada, Isaac de preto ficou branco na hora, parecia que tinha visto assombração e a melanina foi toda embora. Tadinho!

Eu já tinha percebido que o tráfico tinha muita influência no cotidiano dos moradores para além das drogas, mas a única interação que eu tinha visto com crianças foi a do próprio Isaac no episódio com seu pai, então foi meio instintivo chegar perto da criança de forma protetora.

- Não tá não, errada fui eu que ri, desculpa tá Isaac?-ele me olhou meio desconfiado, mas fez que sim com a cabeça se aproximando mais de mim sem cara feia dessa vez.-Tô só ajudando ele com umas compras, tá tudo certo, Radinho.-garanti com um sorriso.

-Tranquilo então, qualquer coisa só me acionar, gatinha.-fez um legal com a mão e saiu indo pagar o refrigerante que segurava debaixo do braço junto do pacote de miojo.

Vez ou outra ele comentava algum storie ou status meu e já tinha me chamado pra tomar açaí com ele, mas eu evitava e dava umas sumidas, acho que ele ainda não se tocou.

Quando Radinho sumiu da minha vista, voltei minha atenção pra Isaac que parecia agoniado olhando a lista sem saber o que fazer, nas quando percebeu que eu o encarava levantou o rosto.

-A senhora conhece o pessoal do movimento?-ergui a sobrancelha quando ele me chamou de senhora, mas achei melhor não corrigir.-Eles ajudaram eu e minha mãe, sabia? A chefia até me deixou jogar videogame.-Isaac falava como se fosse a coisa mais legal do mundo e eu sorri.

-Conheço um pouco sim.-respondi passando a mão em sua cabeça e o conduzindo para a parte de verduras.-Mas isso é papo pra depois, vamo pegar suas coisas.

Isaac nem prestou atenção quando eu expliquei a diferença das coisas, ficou só andando ao meu redor e falando várias coisas diferentes, tipo o desenho favorito dele que era Irmão do Jorel, como ficava às vezes sozinho pra mãe trabalhar e por isso era um rapazinho mesmo nem tendo dez anos ainda e como agora eu agora era a tia Nanda dele.

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