Capítulo 26

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POV Souza

-Soraya não vai vir amanhã.-primeira coisa que Lima fala de manhã é sobre mulher que não quer ela, incrível isso, ainda bem que tava geral fora de casa já.-Tem compromisso com a religião dela, mas no meu aniversário ela tá lá!-sentou de frente pra mim se servindo de café, eu já tava ali embaixo tinha um tempo, mas ela tinha acabado de acordar.

-Cê não larga o osso, hein?-sorri pra ela que deu de ombros.-Ela te faz de brinquedinho sem dó, mano.-impliquei, a relação delas era só benefícios sem muita amizade, mas funcionava mais pro lado da Soraya do que pro da Lima na maioria das vezes.

-Se o brinquedinho for daquele que vibra eu adoro!-sorriu mostrando os caninos de outro me fazendo revirar os olhos com a piada sem graça.-E não cospe no prato que você já comeu, ainda mais tendo comido comigo, arrombada.-Lima se apegava demais no passado, papo reto, história de anos atrás isso.

-Soraya é maneira pô, fortalece legal a firma, mas cês duas...-balancei a cabeça tentando achar as palavras.-É estranho demais. Cê tem que achar alguém mais no seu nível.-dei de ombros.

-Como assim, cara?-cruzou os braços e eu entendo que talvez tenha soado meio errado. Lima tinha toda uma questão de autoestima por conta da família e de não ter conseguido se formar no ensino médio porque assumiu o comando do morro e o lugar do pai na facção muito cedo.

-A realidade de vocês é muito diferente, tá ligado?-tentei justificar da melhor forma.-Ela trabalha pra gente, caralho.-eu podia não ser a pessoa mais ética do mundo, mas até tinha meus princípios.

-Então é por que ela me tirou da cadeia?-ela fala como se tivesse acontecido só uma vez essa parada quando foram umas três no mínimo.-Ou por que ela é mais velha?-porra eu tinha muita treta com quem pegava de menor, quer conhecer meu lado ruim e entrar numa sério comigo é só marmanjo fazer isso, mas Lima e Soraya eram de maior, vacinadas, quer dizer pelo menos a Soraya eu sabia que era, foda-se que uma delas tinha 35 e a outra 24.

-Porque vocês duas não valem nada.-respondi com sinceridade mordendo minha maçã, não era fã de comer muita coisa de manhã e meu olho não saia do celular esperando uma mensagem dela que não chegava nunca.

Eu ia acabar aparecendo lá de bicão sem ela saber, desde ontem num dava noticia, tudo que eu sabia eram atualizações da Veneno.

-Você também não presta e tá de love com aquela preta aí.-implicou usando o apelido que tinha visto no contato dela no meu celular ontem, eu tinha grudado nela e no Bagre porque o pessoal num costumava chegar tanto pra encher o saco quando estávamos nós três. Deviam achar que era bagulho sério, pique reunião, mas na maioria das vezes era algo idiota.

-Nome dela é Fernanda, mano.-corrigi ela coçando a garganta tentando não me enrolar como sempre acontecia quando o assunto era ela.-E com ela é diferente.

-Largou a putaria mermo, hein?

-Se ela quiser eu quero.-foda-se que eu tava parecendo rendida, nessa altura não era segredo, pelo menos não pra Lima.-Bagulho mó estranho que eu sinto quando tô com ela tá ligada?-tentei explicar passando a mão pelo escapulário.

-Tô ligada não, mas tô vendo, cê toda cuidadosa com ela, comprando as parada, querendo ficar perto.-Lima afinou a voz pra me zoar porque eu nunca ficava sem jeito falando de mulher.-Ficou toda brocha quando ela foi embora ontem.-empurrou meu ombro.

Se fosse qualquer outro pela saco eu já tava xingando e mandando sumir da minha vista, mas Lima sempre me fortaleceu. Sou cria do morro do pai dela na Zona Norte, morávamos minha mãe, meu pai e eu, até que meu pai arrumou um trampo de agiota com o Peixe e a gente se mudou.

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