Capítulo 1

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POV Fernanda

-Não Nanda, relaxa com isso! Cê vai ficar aqui em casa por uns dias e eu já falei com um pessoal e tem umas kitnet pra alugar que vai ser massa!-era a quinta vez que eu escutava aquele áudio do André, meu primo era um amor e no momento era o familiar mais próximo e que mais me apoiava mesmo que a gente estivesse a praticamente cinco anos sem nos ver pessoalmente. Ele tinha se mudado para o Rio de Janeiro com a mãe depois do divórcio com meu tio e agora ia me receber na sua casa por alguns dias até eu me estabilizar, o que espero não demorar muito.

Eu nunca achei que fosse sair de casa desse jeito, praticamente com o rabo entre as pernas. Enquanto esperava o ônibus na rodoviária da cidade vizinha, minha cabeça estava a mil e um por hora, era uma ótima oportunidade de crescer, mudar os ares e ficar longe de tudo que me intoxicava nessa cidade, mas deixar minha mãe e tudo da minha zona de conforto me doía o peito. Todas as minhas coisas estavam na mochila e uma mala de mão, feitas às pressas com a ajuda da minha mãe chorosa e os gritos do meu pai.

A viagem seria longa, pelo menos 12 horas dentro daquele ônibus para pensar tudo que eu não precisava. Tentou dormir em algum momento, mas só de fechar os olhos flashes surgiam e eu abria os olhos assustada, não ajudava o homem do meu lado parecer que estava morto e quase toda hora tombar a cabeça no meu ombro, me sacudi um pouco quem sabe ele não tivesse um pouco de noção. Respirei fundo, eu precisava manter a calma e agora a única coisa que me relaxava era ouvir de novo o áudio do meu primo, uma voz conhecida no meio de todo esse caos.

-Ô moça, o destino tá certo mesmo?-estranhei a pergunta do motorista que parou o carro, abrindo os vidros do carro. Olhei para fora e vi os meninos jogando futebol de frente para um bar, a ladeira de escadas estava com alguns rapazes conversando.-Tem que subir mesmo?-ele olhou pelo arredores ligando a luz de dentro do carro.

-É aqui sim, mas mais pra cima...-comecei a explicar olhando o mapa e comparando a localização que Dré tinha passado.

-A moça não é daqui não, é?-aquela risada debochada me deixou desconfortável, mas eu tive que fazer sim com a cabeça.-Aqui não se sobe não, garota, e aquele cara tá vindo aqui por isso...

Era um rapaz alto com camisa de time larga, tinha saído da escadaria onde estava sentado e se aproximava do carro com uma cara fechada. Eu não estava com cabeça para somar dois e dois e não estava entendendo a atitude nem do motorista nem do cara que se aproximava, me encolhi no banco do passageiro como se quisesse sumir.

-Tudo certo, parceiro?-ele tinha um sotaque forte e chiado, chegou se apoiando no teto do carro e colocando a cabeça pra dentro da janela.-O que tá pegando, hein?-pois eu também queria saber, viu menino.

-A moça veio da rodoviária, colocou uma casa aí em cima como destino.-quem respondeu foi o motorista e ainda falava como se não tivesse culpa.-Eu tava explicando que aqui não dá pra subir de carro.-ah pronto, custava falar antes de aceitar a corrida?

O menino se afastou e olhou pra mim como se quisesse avaliar se eu era um risco. Ai meu Deus, porque o André não tinha me falado nada sobre isso?

-E você quem é?

Respondi tão rápido que não sei se ele entendeu:

-Fernanda, prima do André.-fui tentar mexer na bolsa pra pegar o celular e buscar uma foto quando ele segurou meu braço com força.

-Acha que tá fazendo o quê, doidona?-colocou a mão no volume na cintura e eu entendi que não devia fazer movimentos muito bruscos.-Que André é esse, fala aí?

-Eu ia pegar o celular, mostrar uma foto.-ele ainda segurava meu braço, mas sem apertar e o motorista estava ali como se não fosse nada. Acho que o rapaz viu que eu falava a verdade porque me soltou e estendeu a mão esperando o celular.

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