43

502 66 75
                                    

A dor parecia partir meu corpo ao meio, cada contração me arrancando um pedaço da alma

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A dor parecia partir meu corpo ao meio, cada contração me arrancando um pedaço da alma. Eu me agarrava à mão do Apollo como se fosse a última coisa que me conectava à realidade. Cada grito que saía de mim era puro instinto; eu não conseguia controlar, e nem queria mais tentar.

-Vamos lá, Léo! Respira fundo, precisamos de força pra essa próxima contração!- A médica falava com firmeza, mas eu mal conseguia ouvir entre os gritos e o suor que escorria pelo meu rosto.

-Eu tô tentando! Meu Deus, tá doendo muito!- ofeguei, o som da minha própria voz carregado de desespero. Minha visão turvava de lágrimas, e o cansaço me consumia.

Apollo apertava minha mão com tanta força que parecia querer me passar toda a energia que ele tinha. -Léo, olha pra mim! Você consegue, tá? Só mais um pouco. A gente tá quase lá. Você é mais forte do que isso.

-Eu não sou, Apollo! Eu não consigo mais!- gritei, sentindo outra onda esmagadora de dor. Meu corpo todo enrijeceu, e o grito saiu de mim sem controle. Era como se eu estivesse sendo partida ao meio.

-Você consegue, sim, meu amor. Consegue porque eu sei que você consegue. Você é a pessoa mais teimosa que eu já conheci. Então, teima agora. Faz isso pela gente.- A voz dele era grave, carregada de emoção. Ele estava tentando me manter firme, mas eu podia ver que ele também estava à beira de um colapso. Seus olhos estavam marejados, mas ele segurava a barra. Por mim.

-Teimar?-Eu quase ri entre o choro. -Você acha que é fácil? Então troca de lugar comigo!

-Eu trocaria agora se pudesse.- Ele encostou a testa na minha por um instante, a respiração dele pesada. -Mas não posso. Só posso estar aqui com você.

-Empurra, Léo!-A médica interrompeu o momento. -Na próxima contração, quero que você dê tudo de si, tá? O bebê tá quase aqui!

As palavras dela eram um misto de esperança e pavor. Quase aqui? Mas eu não tinha mais forças. Como eu ia empurrar se mal conseguia respirar?

Outra contração veio, ainda mais forte, me rasgando por dentro. Meu grito ecoou pela sala, e eu usei tudo que tinha para empurrar. -TIRA ISSO DE MIM - berrei, apertando tanto a mão do Apollo que ouvi um grunhido dele.

-Isso! Isso! A cabecinha já tá saindo! Mais uma vez, Léo, só mais uma vez!-  A voz da médica estava cheia de incentivo.

Eu chorei, tremendo de exaustão e dor. -Apollo... eu não consigo...

-Consegue, sim, Léo. Consegue porque é nossa hora. É agora. Tá tudo bem, eu tô aqui com você.-A voz dele quebrou no final, e eu percebi que ele estava chorando junto comigo.

A última contração veio como uma avalanche, e eu gritei tão alto que minha garganta queimou. Usei tudo o que restava, tudo o que ainda estava dentro de mim, e então, de repente, o som mudou.

Um choro. Um chorinho agudo e frágil que tomou conta do ambiente.

-Parabéns, vocês têm uma menina!

Mil Versos -apollo McOnde histórias criam vida. Descubra agora