Era Uma Simples Secretária

Capítulo 45 - Um Brinde

Matteo...

A volta ao salão principal foi como um retorno à realidade, uma realidade que eu tentava ignorar.  Meu pai, com sua habitual elegância, preparava-se para o discurso final, o ponto culminante de uma noite que havia sido um sucesso absoluto.  Seu orgulho, sua paixão por ajudar os outros, transpareciam em cada palavra, em cada gesto.  Ele falava sobre oportunidades, sobre sonhos, sobre a importância da solidariedade.  Seu olhar brilhava, emanando uma energia contagiante, uma força que inspirava esperança.  Mas, por trás daquela alegria, eu sentia um quê de mistério, uma sensação de que algo mais estava por vir.

- Boa noite a todos de novo. Gostaria de começar agradecendo a todos por participarem de uma celebração que minha família criou com muito carinho há um tempo. Hoje venho agradecer por cada centavo que doaram com o coração. Prometo a vocês e a Deus que novas pessoas terão oportunidades de crescer e se tornar aquilo que sonharam. Quero agradecer à minha família em especial por estar ao meu lado e por me ajudar a realizar novamente esse sonho. Também quero agradecer aos colaboradores que estão ajudando a agitar e cuidar dessa festa, saibam que vocês também ajudaram nessa fundação e sem vocês nada disso estaria tocando perfeitamente. Então, uma salva de palmas a todos vocês. -  As palavras do meu pai ecoavam pelo salão, carregadas de emoção, de esperança, de gratidão, até mesmo com os funcionários.

Grande homem. Tenho orgulho de ser seu filho, senhor Pedro D'Anzel.

Mas por que sinto que vem algo a mais?  Aquele pressentimento, uma pontada de expectativa, me deixava inquieto.

- Aproveitando que estamos todos aqui e que hoje... quero fazer um brinde especial a uma pessoa que tornou isso possível... -  Meu pai ergueu o copo, o velho whisky refletindo a luz das velas.  Aquele gesto, simples e inesperado, carregava um peso enorme, um significado profundo que me deixava em suspense.

- Ah, meus Deus! Seu pai não vai fazer isso agora, né?! -  A exclamação da Tia Alessandra, carregada de um misto de surpresa e expectativa, quebrou o silêncio.  Seu sorriso, largo e radiante, refletia a curiosidade que tomava conta de todos.

Eu conto ou deixo passar?

Um sorriso debochado surgiu em meus lábios.  Eu estava ansioso, esperando pelo grande final, pelo momento da revelação.  E, ao mesmo tempo, sentia uma satisfação perversa em imaginar a decepção no rosto de Tia Alessandra.  Aquele brinde, aquele momento especial, seria meu.  Eu brindaria com tanta alegria que pareceria fogos de artifício saindo de mim.  E aquela explosão de felicidade seria ainda mais intensa, sabendo que ela não faria parte da minha comemoração.

- Quero agradecer do fundo do meu coração a essa mulher espetacular, essa mulher que chegou em nossas vidas dando uma repaginada e trazendo toda a alegria que minha família precisava... - seu argumento vai ser uma surpresa em tanta.

A voz do meu pai, normalmente firme e segura, tremia ligeiramente, carregada de uma emoção que transcendia as palavras.  Era uma emoção complexa, um turbilhão de sentimentos que lutavam para se expressar.  Gratidão, sim, mas também um profundo amor, um reconhecimento sincero da importância de Alice em nossas vidas.  Ele não estava apenas agradecendo; ele estava confessando, revelando a profundidade do impacto que ela havia causado em sua família, em sua vida.

Ele parou por um instante, respirando fundo, como se precisasse se recompor e guardar as lágrimas de emoção, se preparar para expressar a intensidade da sua gratidão.  Seus olhos, normalmente brilhantes e cheios de vida, estavam marejados, um reflexo da emoção que o inundava.  Era como se ele estivesse revivendo cada momento, cada lembrança, cada sorriso compartilhado com sua antiga secretária. Era como se meu pai estivesse relembrando a transformação que ela havia proporcionado, a cura que ela havia trazido para a família.