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É, eu deveria explicar como tudo aconteceu! Isso pode lhe assustar, ou lhe deixar extremamente curioso; ou como foi comigo: os dois. Eu queria correr e dizer que não era eu. Eu não queria salvar ninguém. Queria ter uma vida normal. No começo eu pensava assim,mas o que eu não entendia era que sempre foi eu.Ás vezes, boas coisas acontecem de maneiras difíceis para que sejam percebidas.

Começou numa manhã. Despertador tocava como se estivessem o matando. Bem que eu queria matá-lo e não ir para a escola.
- Vamos logo, Alexa. Não pode deixar o despertador tocando para sempre! - disse minha tia, na porta do meu quarto.
-Não quero ir! - afirmei, cobrindo a cabeça com a coberta.

Vi uma sombra se aproximar da cama, através da coberta. Minha tia se sentou na minha cama e puxou a coberta.
-Eu sei como é difícil. Eu prometi a sua mãe que cuidaria de você e estou me esforçando. Lembra do que eu disse? Casa nova... - começou ela.
-Casa nova, vida nova. - falei.
- Escola nova. - disse ela.
-Inferno novo. - corrigi-a.
-Não deve ser tão ruim. - afirmou ela.

Forcei-me a levantar. Olhei minhas caixas abertas e as coisas pulando para fora.
-Não. É mais que ruim. É péssimo. - e fui para o banheiro.
- Vamos compensar esse dia ruim, então. Jantar em família? - perguntou ela.
-Ok. Eu pretendo demorar um pouco depois da escola. Quero conhecer o bairro. - falei , aparecendo na porta do banheiro.
-Você não vai aprontar, não é? - questionou-me ela.Eu podia sentir o pavor em sua voz.
-Não. Só quero andar. Não vou assaltar um banco nem taca fogo em um carro. - confirmei.
- Tudo bem. Vejo-a lá em baixo. Ryan estará lhe esperando para ir para escola. - e se levantou da minha cama.
-Já desço. - disse fechando a porta do banheiro.

Olhei-me no espelho. Era evidente que não estava em condições de ir à escola. Havia perdido minha mãe em um acidente e ainda me culpava amargamente. Depois de tudo, eu estava sendo uma boa garota. Fui a todos os psicólogos, ando tomando todos os venenos medicinais que me dão e não havia surtado. Como minha vida mudou em dois meses! Em um dia eu estava fazendo panquecas com a minha mãe e no outro meu pai completamente louco e bêbado, decide tacar fogo na casa com a esposa e filha. Que lindo exemplo de família. Sorte eu ter minha tia ou estaria em orfanato como bichinhos em pet shop, esperando serem adotados.

Joguei uma água no rosto e comecei minha higiene. Em menos de trinta minutos estava pronta. Não queria fazer Ryan esperar! Ele ficava um chato se esperasse muito. Como não estava a fim de arrumar problemas, vesti roupas normais: uma velha calça jeans, regata branca e jaqueta preta. A única coisa revoltada em mim era meus coturnos. Nada demais.

Desci as escadas de dois em dois degraus. Ryan comia tranquilamente, o que significava que não estava de mau-humor e que daria para conversar pacificamente. Como descrever Ryan? Personalidade: chato e metido. Achava que o mundo girava a sua volta. Mas fisicamente, dava para ser visto com ele e não passar mico: era alguns centímetros mais alto que eu, tinha os cabelos castanho-escuros e olhos cor de mel. Ele se cuidava bem, por isso estava em forma. No dia, usava uma camiseta engomada e uma calça jeans que parecia nova. Seu tênis branco estava perfeitamente limpo.

Fui até a pia e peguei uma caneca de café.
-Saímos em quinze minutos! - disse ele colocando o prato na pia.
-Já estou pronta. - afirmei.
-Perfeito. Não quero chegar atrasado em nosso primeiro dia de aula. Isso seria muito errado! - afirmou ele.
-Como se você fizesse algo errado na vida. - retruquei.
- Não faço mesmo. Por isso tenho a vida perfeita. - disse ele.
- Que ilusão! - falei, revirando os olhos.
-Pode até ser uma ilusão, Alexa. Mas pelo menos não sou amargo como você - falou ele e saiu da cozinha.

Olhei para o meu café, agora gelado.
-Ele não disse por mal. - falou minha tia, entrando na cozinha.
-Eu sei. - concordei.

Ok. Eu não era esse monstro que Ryan achava. Só estava sofrendo e tentando reagi a minha maneira. Não estava sendo fácil para mim. Merecia uma folga.

Ryan apareceu na porta e disse:
- Vamos? - perguntou.

Apenas assenti. Caminhei até a geladeira, aonde guardavam meu remédio. Era uma seringa com um liquido amarelo grosso junto com uma agulha.
- Quer ajuda?- perguntou minha tia se aproximando.
- Não. Dou conta disso. Valeu. - afirmei.

Arrumei com agilidade o remédio e apalpei meu braço até achar a veia. Com calma, ejetei o conteúdo e respirei fundo. Na hora, ergui o rosto e vi que Ryan havia virado o rosto para não olhar. Joguei a seringa no lixo e caminhei até ele.
-Vamos. - concordei.

Assim que saímos de casa, ele começou a falar:
-Como consegue? - perguntou ele.
-O quê? - questionei de volta.
- A seringa. A dor. Os remédios. Tudo isso. - afirmou ele.
-Eu não sei. - falei. - E afinal, não venho contigo depois da escola.
-Por que não?
- Vou andar um pouco.
-Sozinha?
-É.
-Não é seguro.
-Ryan, eu sei me cuidar. Lembre-se: você faz as coisas certas e eu,as erradas. Tem sido assim durante esses dois últimos meses. Eu não vou mudar tão rápido.
-Só tenta se cuidar. É um bairro novo e estranho.
-Agradeço pela preocupação, mas eu vou ficar legal.

Chegamos rápido a escola, até porque Ryan dirigia seu querido carro só por sete quadras. A escola parecia um museu. Não muito diferente das que já freqüentei. Tinha até as alunas chatas que mexiam com as novatas, os atletas sem cérebro e os nerds anti-sociais. Até as mesmas aulas chatas estavam na lista.

Tudo começou na aula de história. Eu me sentei no fundo, para não chamar muita atenção. Um grupo de garotos nerds sentaram na minha frente e começaram a conversar.
-Eu juro que vi um garoto lá. - falou um deles.
-Larga de mentira, Matt. Todos sabem que ninguém se atreve a ir na velha mansão. - respondeu outro.
-Era um fantasma. Ele apareceu perto da arvore e depois sumiu. - disse o garoto.
-Isso só pode ser sua imaginação.- respondeu o terceiro.
-Não era, Scott. Se eu fosse maluco iria lá e provaria a vocês que não estou mentindo.

Me inclinei para frente.
-Se quiserem, eu vou. - falei.

Os três se viraram espantado.
-Você é a garota nova. Alexa. - disse o que se chamava Matt.
- Sou. Se ouvir bem estavam falando de um lugar assombrado, certo?- perguntei.
-Sim. A Velha Mansão. Ninguém vai lá a décadas. Dizem que uma magia protege a casa. Agora nosso amigo Sam disse que viu um garoto lá. - falou Scott.
-Mas é verdade. - disse Sam.
- É difícil acreditar,Sam.- falou Scott.
-Me mostrem aonde é. Eu posso dar uma olhada. Ver se seu amigo está certo ou não. Aproveito e dou um passeio. - conclui.
-Você não entendeu: ninguém vai lá a muito tempo por algum motivo. Por acaso é louca?- perguntou Matt.
-Digamos que sim. Eu estou querendo dar um passeio e um lugar desse jeito chama atenção. - falei.

Os três se entreolharam, decidindo numa briga silenciosa. Por fim, Scott pegou um pedaço de papel e rabiscou algo.
-Qualquer coisa, não fomos nós que te contou sobre o local, mas se achar algo, nos diga.- e me entregou o papel.
- Beleza. - confirmei com um sorriso.

Olhei para o papel e um pensamento malicioso veio em mente: Finalmente, alguma diversão!

The Cursed Book {Em Revisão}Onde histórias criam vida. Descubra agora