Eu poderia bem dizer que aquele foi meu fim. Eu poderia contar que agora estava no céu com a minha mãe contando a aventura em que me meti. Mas não, eu não fui para o céu. Muito pelo contrário. Nem morta estava.
Acordei com um sobressalto. Cai no chão, rodeada por uma coberta. Olhei em volta tentando me localizar. Vi caixas com roupas e livros saindo para fora, uma mesa cheia de bagunça e cadernos jogados. Estava no meu quarto! Olhei para mim mesma e percebi que estava de pijamas.
-Como...- comecei a dizer sem entender o que acontecia ao meu redor. - Não foi um sonho apenas! Não mesmo!
Notei que o livro estava caído no chão junto com o meu celular. Corri até meu banheiro a procura de alguma evidência de que tudo que vivi não tinha sido só um sonho. A Marca! Sim. Ela ia provar que tudo tinha sido real. Parei na frente do espelho. Meu estômago protestava em ansiedade. Concentrei-me, mas estava nervosa demais. Olhei para baixo e nada. Nenhum coração preto. Minhas mãos tremiam. Não ia dar certo se eu continuasse daquele jeito. Aproximei da pia e joguei água gelada no rosto.
Não surta,Alexa! Não surta!, afirmei a mim. Fechei os olhos mais uma vez, mantendo a respiração calma e controlada. Imaginei o interruptor de novo. Acessível e bem na minha frente. Ativar. Voltei a olhar para o espelho e vi algo diferente. Lancei-me contra a pia, aproximando do espelho. Meus olhos. Feixos de um roxo escuro se formavam em minha íris preta. Por cima da minha blusa fina, vi uma mancha preta brotar na minha pele. Puxei a gola para baixo e vi o coração. Também o senti, batendo forte e alegre dentro de mim. Olhei para os meus pulsos e vi finas cicatrizes brancas. Ergui a blusa e vi mais duas, uma branca cheia de pontinhos em volta, denunciando a pele costurada e outra avermelhada.
-Eu sabia! Não foi um sonho. Eu estive realmente lá.- confirmei , alegre para mim mesma.
Sai do meu quarto aos tropeços descendo as escadas.
-Tia!- gritei.
-Na cozinha,querida.- respondeu ela.Fiz uma curva fechada, quase batendo na parede e entrei desengonçada na cozinha. Não resistir e a abracei. Ela retribui, lançando os braços ao meu redor.
-Está tudo bem, Alexa?- perguntou ela, preocupada.
- Eu tive um pesadelo horrível. Eu não via mais nenhum de vocês.- menti. Minha voz acabou saindo mais triste do que eu pretendia.
-Oh, meu bem. Já acabou,viu. Você já acordou e vai ficar tudo bem.- acalmou-me ela, passando as mãos nos meus cabelos rebeldes.
-Tomará, Tia.- resmunguei.
-Eu sei que vai. Aposto que está com fome. Ry me contou que foi deitar sem comer. Deve ter sido isso o motivo do pesadelo. Barriga vazia.- explicou ela, conduzindo-me até a mesa.Eu ia protestar, quando meu estômago se manisfestou, denunciando a ausência de comida. De fato, eu estava com fome.
- O que tem para comer?- perguntei, sentando em uma das cadeiras.
-Tem alguns pedaços de lasanha. Quer que eu esquente?- interrogou-me com um sorriso carinhoso no rosto.
-Não precisa se incomodar. Eu esquento.- afirmei, saindo da cadeira.
-Já estou de pé. Posso esquentar.- retrucou ela.
-Obrigado. Afinal, que dia hoje?- perguntei.
-Sexta, 11.- respondeu Ryan entrando na cozinha.
-Valeu.- agradecimento, pegando o garfo.
- De nada, Rainha Do Gelo.- respondeu ele.Minha tia colocou o prato na minha frente e comecei a mexer na comida, lembrando. Pensei no dia que encontrei Mason e como tudo fluiu contra minha vontade. Como o meu "iceberg" derreteu. Ironia eu agora ter um coração que nem meu era, mas que amava. Será que o gelo da minha alma congelaria o coração de Mason ou o calor de seu coração derreteria-me por dentro? Soltei um riso, disfarçando minha gargalhada comprimida na garganta.
-O que foi?- perguntou Ryan, observando-me.
- Nada.- respondi, ainda rindo.
-Pirou de vez.- disse ele, revirando os olhos e saindo.
-Sem dúvidas.- sussurrei.Voltei minha atenção para o prato. Eu estava louca para encontrar Mason de volta e já sabia como. Eu sabia como que o que vivi não foi um sonho, tampouco obra da minha imaginação. Foi real. Quanto mais eu pensava, mais percebia como as coisas se encaixavam. Detalhes agora completavam as lacunas vazias. Eu precisava voltar a Velha Mansão. Eu saberia que o Desconhecido estaria lá. Estaria me esperando, pois sabia que eu iria o mais rápido possível.
Comi como um animal, botando tudo para dentro, quase utilizando as mãos. Coloquei meu prato na pia e virei para minha tia:
-Eu vou subir e descansar um pouco. Vou tomar um calmante e voltar a dormir. Então, não se preocupem comigo. Vou acordar só amanhã. -expliquei rapidamente.
-Tem certeza que não quer que eu passe no seu quarto para ver se está tudo bem?- perguntou preocupada.
-Não!- gritei.- Quer dizer, não precisa. Provavelmente, eu nem escute. O calmante é meio forte. Vou dormir feito uma pedra e acordar melhor amanhã.
-Ok. Boa noite, Alexa.
-Boa noite, Tia.Fui até a sala e disse:
-Boa noite, chato!- e comecei a subir as escadas.
-Boa, Vossa Majestade.- disse Ry do sofá.Subi lentamente, mas agitada por dentro. Passei pela porta do meu quarto e feche-a. Com medo de ser descoberta, tranquei-a. Olhei em volta e reparei minha mochila preta no chão. Caminhei até ela e me sentei no chão, preparada para vasculhar seu interior. Vi meus cd's de músicas, meu caderno rabiscado e minha caneta permanente.
Observei a minha volta e resmunguei:
-Já deve ter dado tempo suficiente. - afirmei, levantando do chão.-Preciso ir. Agora.Enfiei os pés no tênis, peguei o livro e sai pela janela, fazendo o mínimo de barulho possível. Ao colocar meus pés na calçada, corri. Passei como um fantasma. Não havia muita gente nas ruas, mas as poucas que tinha, estranharam-me. Afinal, ninguém é acostumado a ver uma garota de regata velha e calças grande correndo quase na velocidade da luz. Eu deveria ter morrido várias vezes por atravessar as ruas sem olhar para ver se vinha carros.
Cheguei na mansão quase sem ar. Estava escuro, apenas a lua trazia alguma luz, mas era pouca. Mesmo assim, eu o vi. Estava escorado na varanda, observando-me. Vestia o mesmo casaco azul e cobria a cabeça. Passei pelo portão e parei.
-Não vai correr, não é?- perguntei, puxando o ar.Ele apenas negou, balançando a cabeça.
-Que bom.-afirmei, apoiando as mãos nos joelhos.Olhei para trás e vi o caminho que percorri numa velocidade elevada.
-Nunca corri tão rápido na vida. Já posso me inscrever numa maratona.- cometei.Escutei sua risada, agora familiar até que demais.Dei alguns passos para frente, aproximando-me.
-Não ria! Isso tudo é culpa sua. - acusei-o, apontado o dedo.Vi-o se indireitar, voltando a postura formal. Fiz um sinal em desdém com a mão.
-Pode parar com o teatro. Eu já descobri tudo. Bom, não tudo tudo. Não sei o motivo de tudo isso e nem o porque. O senhor me deve uma explicação.- falei, segurando o livro na frente do tórax.Ele cruzou os braços e continuou mudo.Eu poderia estar errada e não ser ele.
É ele sim. A gente o reconheceria até cegas, comentou minha consciência.
Exatamente, respondi.Dei mais alguns passos, parando diante os degraus da pequena escada.
- Isso jamais vai mudar, não é? Não adianta. É idiota dentro e fora do livro.- retruquei, arqueando as sobrancelhas.
- Não é o que vive dizendo, Lexy?- perguntou ele, descendo os degraus e vindo na minha direção.
-E isso só prova que sei das coisas.- argumentei.
-Como sabia que era eu?-interrogou-me, tirando o capuz.
-Fácil, Mason. Mesmo casaco. Mesma forma de falar. Mesmo idiotice natural. O que não sei é o resto.- respondi.Ele parou frente a frente comigo, puxando-me para si. Senti sua mão passar pelo meu pescoço e colar sua boca na minha. Soltou-me, deslizando a mão pela minha lateral.
- Mesmo jeito de beijar?- perguntou irônico.
-É. Essa parte está melhorando com o tempo.- comentei.
- Certo. Agora, venha! Devo-lhe uma explicação, não é?
-Deve.Ele estendeu a mão, mas recuei. Mason me olhou, espantado.
-É demais para mim.- murmurei.
-Eu sei, meu amor. Não posso dizer que tudo vai melhorar depois que eu te contar tudo, pois não vai.- exclamou ele, abraçando-me.
-Isso é bom. Sinto-me protegida assim.- confessei.
-Jamais permitiria que um mal lhe atingisse.- disse ele, apertando-me em seus braços.
-Certo, Garoto Panqueca. Pode me levar onde queria.- concordei.
-Faz tempo que não me chama assim.-lembrou ele,conduzindo-me até o banco branco.
-Faz tempo que não cozinha.- comentei, sentando.
-Não se preocupe. A partir de hoje, isso vai ser diferente. Estou aqui e agora podemos ficar juntos.- disse ele, entrelaçando seus dedos nos meus.
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The Cursed Book {Em Revisão}
Romance☀Livro I da Série Cursed☀: Alexa tinha uma vida quase normal. Após a morte de sua mãe, ela tem de morar com sua tia e seu primo Ryan. Um bairro novo. Uma aventura nova. O que ela não sabia era como sua vida ia mudar após encontrar a mansão abandona...