No outro dia, levantei cedo, peguei minha mochila com o livro e desci aos pulos para a cozinha. Abri os armários e comecei a pegar algumas coisas para comer.
-O que faz acordada essa hora? - disse minha tia me surpreendendo. Ela olhou para a comida em cima do balcão e arregalou os olhos. - E pra que tudo isso?Decidi não mentir.
-Achei uma casa velha no bairro. Eu pensei que já que tenho um dia de folga podia dar uma explorada. - afirmei.Ela me olhou desconfiada e falou:
-Só isso? Uma casa velha? Não pretende fugir, não é? - perguntou ela.
- Não. De maneira alguma. A senhora me acolheu aqui e sou muito grata por isso. Jamais faria alguma coisa assim. -afirmei. Na verdade, eu já havia pensado em fugir umas mil vezes, mas ... nunca quis decepcionar ninguém, que não fosse forte o bastante para continuar ali. Não era tão ruim e de certo modo, eu estava tentando me adaptar àquela nova vida, criando ligações com a minha tia.
- Por que não avisou? - perguntou ela.
-Eu ia avisar. Ia deixar um bilhete com o endereço, avisando que estaria com o celular ligado caso se preocupasse muito. - afirmei apontando pro papel pixado com minha caligrafia irregular.
-Mas, volta para a janta?
- No mesmo horário que ontem.
-Tudo bem. Se cuida.
-Ta,tia. Qualquer coisa é só ligar.Ela concordou com a cabeça. Peguei tudo e coloquei na mochila. Desci até a garagem e vi minha velha bicicleta. Por um instante, fiquei com medo de não saber mais andar, mas ao montar nela, tudo pareceu tão simples como respirar. Como já sabia o caminho, não demorei ao reencontrar meu destino. Ao chegar à mansão, deixei minha mochila no jardim e entrei.
-Acho que você tem uma certa beleza, só não pararam para descobri-la. - afirmei a casa.Comecei tirando as tabuas das janelas, deixando a luz entrar. Prometi devolver tudo certinho depois, já que tinha levado um martelo. Peguei pedaços de madeira e deixei a escada mais segura.
-Não quero cair aqui de novo.Fui no andar de cima e olhei todos os cômodos. Tinha um quarto com piano velho, duas suítes e dois quartos de solteiro; havia um banheiro no final do corredor que até dava para usar. No andar de baixo havia um escritório e uma possível biblioteca; também a sala de vistas e a de jantar, logo atrás a cozinha. Sentei-me à mesa e peguei meu velho caderno. Com traços grotescos, fiz um mapa da casa. Com a luz do dia, a casa não tinha nada de assustadora. Só estava velha.
Decidi dar uma olhada no jardim. Vi roseiras mortas e uma espécie de planta fizeram um tipo de emaranhado de folhas. Junto tinha um balanço branco grande ainda bem firme.
-Vou ficar aqui um pouco.
Sentei no chão, de frente a casa e comecei a fazer o esboço da sua frente. Depois voltei ao jardim e sentei no banco, pegando minha mochila. Observei o livro lá dentro e a curiosidade bateu mais forte. O abri e comecei a ler. Assim se passaram horas. Como eu não era de ficar parada, comecei a ler em vários lugares: sentada na escada, no escritório, na janela de uns dos quartos, junto ao piano, no chão da cozinha.Vi o sol se por, sendo a minha deixa. Peguei um papel e escrevi:
"Desculpe-me, mas gostei muito do seu livro. Espero que não se importe de eu ficar com ele até acabar a história. Devolvo em breve.
-Alexa."
Colei-o na porta do fundo e devolvi as madeiras no lugar. Sai da casa e voltei para minha. Desta vez, usei as portas. Fui até a cozinha e disse:
- Tia, cheguei. - anunciei.
-Que bom, Alex. Divertiu-se? - perguntou ela.
-Sim. É uma casa muito bonita. - mostrei meu esboço da casa a ela.
-Sem dúvidas. Vá se lavar para comermos, ok?
-ok.Subi as escadas com a minha mochila batendo nas costas. Naquela mesma noite, continuei lendo até que acabou. Olhei para o relógio e vi que era três da manhã. A história era totalmente incomum, mas tinha sua beleza assim como a casa. Eu tinha me interessado pela história. Falava de um garoto dotado de alguns dons, como mover coisas com a mente, força extra. Ele se apaixonado por uma garota da sua turma da escola e um dia eles começam a conversar. Junto com ela e seu melhor amigo, o garoto começa descobrir um novo mundo e a si mesmo. Na metade da história, aparece o vilão que começa atacá-lo. Com medo de que machuque seu amor, ele a esconde, mas desobediente ela vai atrás dele, e quando está preste a morrer o melhor amigo chega e morre em seu lugar. No final, ele mata o vilão e fica com a mocinha. Pátria salva.
- Fofo, mas a vida real não é assim! - disse ao livro.Eu pensei em ficar com ele, mas sabia que não era certo. Amanhã devolveria ao dono. Ou tentaria.
Dormir apenas três horas por noite é horrível. Vesti-me de qualquer jeito, já que era "proibido" ir à escola de pijama. Desci rápido e peguei uma maçã. Todo dia, o remédio na veia para não morrer e esperei Ryan que tirava o carro da garagem. Não nos falávamos muito, então ao entrar no carro, peguei meu celular e fones de ouvido. Coloquei a playlist mais usada: Ignorando o Mundo/ Ryan. Ele não tentou falar comigo e o caminho foi silencioso.
Ao chegar à escola, um grupo se reuniu ao seu redor. Afastei-me discretamente. Logo o sino tocou para o começo das aulas. Sentei no meu habitual lugar e vi os três garotos se aproximarem.
- O que deu?- perguntou Matt.
- O Sam estava certo. Tinha alguém na casa. - confirmei.
-Eu disse. Era um fantasma, não é? - perguntou Sam.
-Não. Era uma pessoa e corria muito.
Fui atrás, mas não o alcancei. Ontem fui a casa e nenhum sinal da pessoa. - contei.
-Era só isso? Um garoto fazendo travessuras que sem querer foi visto pelo Sam? - perguntou Scott.
-Pelo que tudo indica, é exatamente isso. - afirmei.Os garotos ficaram mudos e o professor entrou na sala. Como não queria ficar mais ali, matei as três últimas aulas. Fui até a casa. Dessa vez, dei a volta e me deparei com outro bilhete na porta do fundo.
"Querida Alexa,
É uma honra ele ser lido por você. Na verdade, eu que agradeço. Espero que tenha gostado da história. Não precisa devolver. Esse livro agora é seu. Passe-o ou guarde-o. Isto está ao seu critério.E por fim, observei o que fez com a casa. Posso dizer que ficou bem melhor assim."
Olhei de novo o bilhete. Sem assinatura. Nem precisava. Eu sabia que era o garoto que tinha corrido de mim no outro dia. Peguei mais um papel e rasbiquei:
"Sem assinatura? Injusto isso! Mas agradeço pelo livro. História boa. Vou guardá-lo bem e reler no futuro. Sabe o que engraçado em tudo isso? Eu estar conversando com alguém que nem conheço. Não sei nem o nome. Porque não aparece? Tem medo? Garanto que não mordo."
-Alexa.
Deixei-o no mesmo lugar e fui embora, com o livro nas mãos.
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The Cursed Book {Em Revisão}
Romance☀Livro I da Série Cursed☀: Alexa tinha uma vida quase normal. Após a morte de sua mãe, ela tem de morar com sua tia e seu primo Ryan. Um bairro novo. Uma aventura nova. O que ela não sabia era como sua vida ia mudar após encontrar a mansão abandona...