XXIII

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A viagem se tornou silenciosa. Leah até tentou animar:
-Quando tudo isso acabar, vamos comemorar muito. - disse ela, rindo.
-Sim. Todos juntos. - concordou Mason.

Bernardo me olhou triste que trazia consigo uma mensagem: Nem todos.

Olhei para estrada me sentindo culpadae a música não ajudou. Foquei no refrão:

"Pare e olhe
Eu acho que eu estou me movendo, mas eu não vou a nenhum lugar
Yeah eu sei que todo mundo tem medo
Mas eu me tornei o que eu não posso ser, oh
Pare e olhe
Você começa a se perguntar por quê você está aqui, não lá
E você daria qualquer coisa para conseguir o que é justo
Mas justo não é o que você precisa realmente
Oh, você pode ver o que eu vejo?" ♪♪

Olhei para Mason pelo retrovisor que sorria pensando na folia que ocorreria.

Foco, Alexa! Precisa de foco, disse-me minha consciência.
É, eu sei. Estou tentando, confessei.

Olhei para a rodovia e ainda avistei a moto. Suspirei, desconfiada. Após algumas horas, encontramos outro posto e decidimos para o almoço. Pedimos uma torta de frango e refrigerante a todos.

Assim que terminamos, a garçonete se aproximou e perguntou, olhando para o Mason:
-Vão quer sobremesa? - perguntou ela. Era uma moça, talvez tivesse 16 anos, loira e magra.
-Não. Obrigado. -disse Mason.
- Tem certeza, lindo? - questionou de novo.

Leah e eu trocamos olhares, indignadas.
-Tenho sim. - confirmou ele, sorrindo.

Ela concordou e anotou alguma coisa no papel, entregando a Mason e saiu em seguida. Estiquei a mão pedindo a folha.
-Eu pago a conta. - ofereci-me.

Ele ergueu o papel e me deparei com um número de telefone. Encostei as costas na cadeira, retirando meu braço de cima da mesa. Bernardo e Mason sorriam enquanto eu e Leah disputávamos o papel de quem estava mais brava. Eu não acreditava que estava com ciúmes. Isso era tão patético!

Após alguns minutos, Leah me puxou pelo braço e disse no meu ouvido:
-Olhe disfarçadamente. A nossa frente, aquele garoto não para de olhar para nossa mesa. - afirmou ela. Notei preocupação na sua voz.

Virei devagar o rosto e vi a quem se referia. Ele possuía um rosto meio quadrado, olhos azul-escuros e cabelo preto. Vestia uma jaqueta de couro,uma blusa branca e calça jeans. Ele reparou que eu o encarava e sustentou o meu olhar.
-Eu vou ver o que quer. Fale para todos ficarem aqui até que eu dizer para se aproximarem. -cochichei a ela.
-Mas...ele pode ser perigoso. - confirmou ela.
-Eu sei me cuidar. - afirmei.

Levantei com a chave do carro no bolso e sai da lanchonete. Eu não saberia o que enfrentaria e depois que conheci Archer, fiquei desconfiada de olhos azuis. Peguei minha mochila e tirei a arma de seu interior. Coloquei-a no cós da calça e voltei à lanchonete. Em vez de me sentar com meus amigos, fui à mesa do garoto.
-O que foi? - perguntei ao me aproximar.
-Sente-se. - disse o garoto, me olhando.

A minha intenção era ficar ali de pé, mas achei que chamaria muito a atenção parada ali, então puxei a cadeira e sentei. A garçonete se aproximou desta vez de cara feia:
-Greg, se for fazer igual da última vez, é melhor sair imediatamente. - alertou ela.

Ele revirou os olhos e afirmou:
-Mas não fiz nada até agora, Debbie. - falou ele.
-Estamos apenas conversando. - anunciei.
-Ainda não. Desta vez, não vamos facilitar para você. -continuou ela, me ignorando.

Ele lhe lançou um olhar de tédio e depois se virou para mim:
-Se importa se conversarmos lá fora? - perguntou ele, brincando com o copo.
- Não. Vamos lá- respondi.

Ele jogou algumas notas na mesa e se levantou saindo. Não posso mentir que não estava com medo, mas se fosse um inimigo, teríamos que agir rápido. Levantei e o segui, sem olhar para meus amigos. Do lado de fora, ele caminhou em direção a uma moto e se apoiou nela. Reconheci sua Harley preta na hora.
-Você está nos seguindo desde manhã. - afirmei, cruzando os braços na frente do tórax.
-Na verdade, não. Mas percebi que estamos indo para o mesmo lugar. - comentou ele.
-E que lugar seria esse?
-O acampamento.
-Como sabe que vamos para o acampamento?
-Reconheço outro elementarie assim que vejo. Seu amigo lá dentro é um e eu sei disso.

Levei a mão na cintura, onde estava a arma e continuei perguntando:
-Como sabe? - perguntei, curiosa.
-Também sou um. - falou ele. Achando que precisaria de uma demonstração, ele fez uma pedra se mover até ir parar na palma da sua mão. - E não vai precisar da arma. Hoje não quero confusão.
-Vou continuar com ela aqui. Não confio em você. - confessei.
-Estamos quites. Também não confio em você, mas ainda estão indo para o mesmo lugar que eu. - disse ele, despreocupado.
-O que sabe do acampamento? - perguntei.
-Algumas coisas. Estou indo para lá pela segunda vez.
- Já foi lá?
-Claro. Mas pelo visto, seu amigo não.
-Estamos indo a procura de auxílio.
-Está indo ao lugar certo, então.
- Que bom!
-Posso lhe mostrar o caminho, se quiserem.
- E porque nos ajudaria?
- Porque não me parecem más pessoas e se perderam facilmente sem um guia.

Mason saiu com tudo da lanchonete e se colocou ao meu lado.
-O que está havendo aqui? - perguntou, sério.
-Achei um guia que vai nos ajudar a chegar ao acampamento. - afirmei.
-Hm.Ele? - perguntou de novo.
-Sim. Eu. - respondeu o garoto. - Afinal,meu nome é Gregório, mas todos me chamam de Greg.
-Alexa. - e o cumprimentei.

Mason continuou quieto, observando o rapaz. Dei uma cotovelada em suas costelas.
-Me chamo Mason. - acabou dizendo.

Leah e Bear saíram da lanchonete e se ajuntaram a nós. Greg contou que era um elementarie, igual à Mason e que estava indo passar uns dias no acampamento. Também nos contou sobre o acampamento e o que tinha lá. Animamos-nos sabendo daquelas informações.
- E vai nos ajudar assim de bom grado? - perguntou Mason.
-É. O nosso tutor sempre diz que quando encontramos alguém como a nós,temos o dever de ajudar. Não que eu seja uma pessoa solidária, mas levaria uma bronca gigante se não levá-los para lá. - disse Greg, tirando sua jaqueta.

Ele me parecia dizer a verdade, mas Mason não apareceu acreditar.
-Nos dê licença que vamos discutir esse assunto um momento. Já voltamos. - pediu Mason me segurando pelo braço.

Decidi deixá-lo me levar e Bear e Leah nos seguiram.
-O que foi? -perguntei.
-Você só pode ter bosta na cabeça. Como sai conversando com um estranho assim? - questionou Mason.
-Saindo, utilizando as pernas e a boca. - respondi.
-Ele poderia ser um louco assassino.
-Não é.
-Como sabe?
- Não sei, mas ele não parece estar mentindo. E também precisamos de ajuda.
-Podemos achar esse acampamento sozinhos.
-Será mais rápido se tivéssemos alguém que já conhecesse o caminho.
-Não vamos com ele!
-Porque não?
-Por que eu não quero.

Bufei, indignada.
- Está agindo como um idiota. - afirmei a ele.
-Não é o que vive dizendo? - perguntou ele sarcástico.
- É. Agora está provando o quanto estou certa. - retruquei.
-Não precisamos dele.
-Precisamos, mas o seu ego machista não enxerga.
-Não é meu ego.
- É o que, então?

Ele me olhou como fez assim quando eu brincava com Bear. Era ciúmes? Uma coisa era eu com isso, outra era ele. Balancei a cabeça, sem identificar o que sentia.
-Vou avisar ao Greg que vamos aceitar sua ajuda. Sem mais nem menos. - falei e fui da direção do garoto. Mason desta vez não se manifestou. Bear e Leah só assistiram, sem comentar nada, o que cheguei a estranhar, mas até que foi melhor assim.
-Então? Já decidiram? - perguntou ele, brincando com a chave de sua moto.
-Sim. Mostre o caminho. Estaremos logo atrás. - afirmei.
- Ok. Se partíssemos agora, chegaremos ao acampamento pela amanhã de manhã. - anunciou ele.

Assenti com a cabeça. Meu tempo estava acabando muito rápido. Avisei aos meus amigos que logo partiríamos e passamos a nos arrumar.Quando estava entrando no carro, Mason me puxou pelo braço e disse:
-Está tudo bem? - perguntou ele, sério.
-Claro. - respondi
- Nossa, Lexy. Ultimamente ando só pisando na bola contigo. - afirmou ele, passando a mão na nuca.
- Ultimamente todos nós andamos com os nervos a flor da pele. Só estamos explodindo do nosso jeito bagunçado. Tudo tem sido demais para todos nós. - confessei.
- Isso é verdade. Tomará que acabe logo. - comentou ele.
- É. Tomará. - sussurrei. Abri a porta do carro para entrar, mas notei que ele ainda me segurava.
-Leah avisou que agora era a vez dela de ir na frente. - exclamou Mason.
-Hahaha. Certo. - e fui para o lugar de Leah.
-Vai ter que me agüentar por algumas horas. - disse ele, brincando.
-Nossa! Será insuportável, mas prometo não lhe matar no caminho. - afirmei, rindo.
-Será que consegue? - provocou ele.
-Provavelmente não. - e entrei, fechando a porta. Ele riu e entrou do outro lado.

Logo Bernardo e Leah apareceram com algumas guloseimas e já estávamos na estrada novamente. Eu sempre gostei de viajar, mas aquela viagem estava tão longa que me sentia uma caminhoneira.

The Cursed Book {Em Revisão}Onde histórias criam vida. Descubra agora