XXX

88 10 1
                                    

A viagem passou como uma mancha. Rápida, embaçada e sem um foco. Dois dias de leitura. Infelizmente, dois dos seis livros, não tinham conteúdo, nada em suas páginas. Não foram dias fácies. Eu perdia rapidamente em um par de olhos verdes que de vez em quando eu pegava me encarando. Tentávamos conversar, mas sempre acabava com os dois mudos, apenas se olhando. Situação tensa? Bastante. Eu nem sabia como estava conseguindo levar tudo aquilo.

Na manhã do segundo dia, cansada do tédio, implorei para Bernardo me deixar dirigir. Ele deixou tranquilamente. Finalmente voltei a me distrair com a estrada. As horas passaram voando, sem ter noção do mal que faziam a mim.

Era fim de tarde e eu estava atrás do volante, cantarolando Science & Faith junto com The Script. Olhei mais uma vez para a estrada e reparei uma Harley nos seguindo. Com uma manobra simples, estacionei no acostamento.
-Porque paramos?- perguntou Mason, se arrumando no banco.
-Temos companhia.- afirmei, tirando o cinto e saindo do carro.

Uma moto preta parou a centímetros de mim e reparei nos olhos azuis-escuros que agora me encaravam com curiosidade.
-Quem foi que conseguiu te dar uma surra? - perguntou Greg, tirando seu capacete.
-Uma casa. Longa história. -falei fazendo um sinal de desdém com a mão.
-Deve ser engraçada. - comentou ele,rindo.

Bear saiu do carro, junto com Leah e Mason.
- O que está fazendo por aqui? - perguntou Mason, se esticando.
-Era o que eu ia perguntar. -confessei.
-Vim fazer minha boa ação do ano. Vou ajudá-los a encontrar o Thomas. -contou Greg.-Ainda aproveito para assisti a Terceira Guerra Mundial.
-Que guerra?- perguntou Bear se aproximando.
-A do Mason contra o Thomas. Vou até garantir a pipoca. - exclamou Greg. Tal comentário acabou me fazendo lembrar de Nouria. Os dois dariam bem juntos.
-O quê? Porque eu brigaria com o cara?-perguntou Mason confuso.
-Vai por mim. Ele vai te dar uns bons motivos.- comentou ele, me olhando.

Vai dar merda pro nosso lado, afirmou minha consciência.
Quando é que não ?, a questionei de volta.

-Vamos evitar a violência. -disse Leah.
-Isso.- concordei. Certo, eu não estava muito convencida daquilo! Sou meio... (como é que o psicólogo falou?Ah, lembrei!) Impulsiva com Tendência a Recorrer a Violência. Muitas vezes, soquei a cara de alguém por ter falado algo que não gostei. Fazer o que!? Já tentei mudar, mas não deu certo.
-Certo. Se acham que vai ser assim, que bom pra vocês. Mas ainda vão precisar de ajuda, não é? - perguntou Greg. -Eu já tive uma experiência com o cara e não uma das melhores.

Do jeito que Greg falava de Thomas, um medo começou a se formar dentro de mim.
-O que você fez lá? - acabei perguntando.
-Vamos fazer assim: vocês vão ter que comer antes de falar com Thomas. Ele é meio imprevisível e não sabemos quanto tempo vai demorar essa visita. Vamos parar em alguma lanchonete e encher os estômagos. Enquanto comemos, conto o que precisam saber. -explicou ele.

Todos concordaram com a cabeça. Entramos no carro e retomamos a viagem. Desta vez, Greg ia na frente com sua moto, mostrando o caminho. Dava para ver que Mason não tinha gostado do retorno de Greg, mas também tentou não demostrar. Ponto positivo! Brigas entre amigos sempre me irritaram muito, por mais pequenas que fossem. Ele estava sendo racional, o que era algo que eu sempre tentava ser. Tentava. Nos últimos dias, eu havia me feito a mesma pergunta umas mil vezes: o que esse idiota viu em mim? Sério! Eu não conseguia pensar em qualquer motivo que justificasse seu sentimento. Mas o problema é que se fizessem essa pergunta a mim, eu não conseguiria responder sem gaguejar e corar. Era vergonhoso. Na minha percepção o amor era como estar em cima de um prédio muito alto: você sabia que poderia cair a qualquer momento, mas a vista que lhe proporcionava era de tirar o fôlego e a sensação de que ali era o seu lugar, era uma das melhores possíveis. Chega! Vou parar de falar sobre isso porque a) vou entediar você que está lendo e b) já estou com vergonha! Vamos prosseguir com a história...

Não demoramos a chegar em Valley Secrets. Era umas sete da noite e decidimos parar na primeira lanchonete em que encontramos. Enquanto comamos, Greg começou a falar:
- Vou dar alguns conselhos a vocês para que já estejam preparados com a situação. -exclamou ele com um tranquilidade.
-Vamos precisar lutar?- perguntei por fim.
-Contra Thomas? Nunca. Jamais faça isso. As chances de saírem todos vivos se reduzeria a zero. Vamos deixar tudo no diálogo, já que é assim que ele trabalha. Se fizermos tudo certo, vamos conseguir sair hoje. - comentou ele.
-Quando disse "vamos conseguir sair" está querendo dizer "vivos", não é?- perguntou Leah.
-Exatamente. Primeiramente, rapazes, Thomas odeia falar com homens. Então não lhe dirijam a palavra a não ser que seja extremamente necessário. A atenção dele vai estar voltada totalmente para Alexa e Leah, se não falarem, é possível que ele nem perceba que estão ali. - explicou Greg.
-Não gostei isso. - confirmou Mason, cruzando os braços.
-Também não. - falei. Estar no foco de alguma coisa, nunca foi a minha cara. Na verdade, eu sempre tentava ficar de canto,sem aparece. Ficar na sombra e observar.

Greg nos olhou por um momento e depois soltou um suspiro.
-Ainda bem que decidi ajudar você a tempo. Segunda coisa:garotas, tente ser gentis e educadas o máximo que puderem. Vai facilitar a conversa.- continuou ele.
-Para a Leah vai ser moleza. Ela é educada e gentil o tempo todo. Já o meu caso é mais complicado. - confirmei, colocando os braços na cabeça.
-Vai ter que tentar, Alexa. - disse Greg.

Bufei indignada.
-Não podem ir apenas vocês? Eu fico. - ofereci.
-De jeito nenhum! Você vai comigo. - disse Leah, segurando-me de leve pelo braço.
-Não,Alexa!Será melhor vocês duas irem com gente. -comentou Greg.

Por baixo da mesa, senti a mão de Mason deslizar pelo meu braço e se encaixar na minha mão, a apertando de leve. Meu corpo começou a esquentar por dentro. Me indireitei na cadeira e disse:
-Ok. Eu vou. - confirmei.
- Certo. Terceira e última: não recuse nada em que ele ofereça. Isso o irrita. Ele vai tentar agradá-las no máximo para assim consiga convencê-las a fazer um favor.- explicou Greg.
-Favor?-perguntou Bernardo, assustado.
-De que tipo?- completei.
-Sim. As respostas não viram de graça. Terão que fazer alguma coisa para que ele as dê. Eu não tenho idéia do que ele pode pedir, mas não será algo impossível. Fiquem calmos!- orientou ele.
-Isso vai ser complicado. -afirmei.
-Nem tanto. Porque fala isso ?- perguntou Greg de volta.
-Vou ter que ser gentil, educada e ainda aceitar coisas de um estranho. Coisa que jamais fiz na vida. -argumentei.
-Infelizmente, para tudo tem sua vez.- retrucou Greg,distraído.

Respirei fundo e afirmei:
-Vamos logo acabar com isso.- e sai da lanchonete.

The Cursed Book {Em Revisão}Onde histórias criam vida. Descubra agora