XXVII

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Tentei seguir Leah, mas ela acabou sumindo. Eu estava desesperada e precisava achá-la, mais precisamente eu tinha que sair de perto de Mason e organizar minha mente. Parei diante a uma árvore qualquer e a abracei, apoiando minha cabeça em seu tronco.
-Por que tem que ser tão difícil? Cansei dessa vida, quero ser uma árvore também. - afirmei a planta.

Eu me sentia tão inútil por não saber o que sentia. O que deveria sentir? Raiva por tudo, por Leah ter descoberto daquele jeito? Raiva por Mason por tentar algo impossível? Raiva por mim mesma por nem saber mentir? Ou tristeza por querer ficar e não poder? Tristeza por magoar meus amigos? Soquei a árvore e bufei. Olhei em volta e vi uma garota ruiva de costas a mim. Caminhei devagar até ela.
-Leah? - chamei.
-Vai embora! - disse ela.
- Eu vou. Juro que vou, só me dê alguns dias. Depois não precisará mais me ver ou pensar em mim. Prometo. - afirmei.

Ela se virou pra mim e vi que seu rosto estava tão velho quando seus cabelos. Ela limpou algumas lágrimas e disse:
-Não quis dizer isso. Não quero que vá. - exclamou triste.
-Pois deveria querer. É o que uma pessoa normal no seu estado iria querer. - respondi.
- Não sou normal. - exclamou ela.

Olhei para o chão sem saber o que dizer. Parecia que as folhas sobrepostas no chão haviam ganhado um interesse exclusivo vindo de mim.
- Sabe o que dói mais? É saber que não me contou nada. Que não confiou em mim mais uma vez. Eu me abri com você e você se fechou comigo. - confessou ela.
- Não é só com você, Leah. Há meses que estou fechada para o mundo, com medo que me roube o resto de esperança e felicidade que ainda guardo comigo. - respondi sentando ao seu lado.
- Por que não me disse nada antes? - perguntou ela.
-Nem eu sabia direito. Está tudo confuso, Leah. Passei muito tempo negando e vou continuar assim. - afirmei.
- Por quê? - questionou ela.
- Não precisa saber. Já recebeu noticias ruins demais por hoje. - respondi.
- Sou mais forte do que pensa. - argumentou ela.

Fiquei muda e a encarei, decidindo se contava ou não.
-Deveria estar brava comigo. - afirmei, mudando de assunto.
-Estou magoada, mas não brava. Você é minha única amiga verdadeira. Foi à pessoa que me ensinou o valor de uma boa amizade. - contou ela.

Esbocei um sorriso leve e olhei para frente.
-E como vai ser agora? - questionou ela, curiosa.
- Eu não sei. Não mesmo. Esses meses estão sendo uma confusão total. - confessei.
- Quer desabafar? - perguntou ela.
-Eu que deveria perguntar isso. - respondi.
- Mas você está precisando de ajuda. Está estampado isso nos seus olhos.
-Sou um grande problema de matemática. Sempre estou precisando de alguém que se arrisque em busca de uma solução para mim.
- Parece que achou, finalmente.
-Mason? Não. Ele só tem um azar surpreendente.

Ela riu e voltou a falar.
-Por que fala isso? - perguntou Leah.
- Lugar errado. Tempo errado. - afirmei e apontei o dedo para mim. - E pessoa errada.
- Para, Alex. Se apaixonar não é esse bicho de sete cabeças. - respondeu ela.
- Não é isso. Não quero dar oportunidade que isso cresça. Já foi um erro permitir que exista. - confessei.
- Por que não? Não vai dar chance para ele?- questionou ela.
- Não. Não vai dar certo. Quanto menos lembranças que me envolva,mais fácil vai ser para ele seguir em frente quando eu for. - expliquei.
-De novo isso, Alex? Por que quer tanto ir embora?
-Parece que vocês ainda não entenderam. Não tenho opção. Mesmo que queira ficar, não posso. Não me permitem. No final, eu vou embora e nem eu posso mudar isso. Foi a mesma coisa vim para cá. Rápido e sem escolha.
-Não estamos prontos para que parta.
-Precisam estar. Vão ter que estar.

Vi novas lágrimas brotarem em seus olhos. Meus olhos também se umedeceram.
- Não quero que fique triste por isso. - afirmei segurando as lágrimas.
- Impossível. - respondeu Leah. - Quanto tempo ainda tem para eu desfrutar de sua amizade?
- Se tiverem sorte, cinco dias. - confessei.
-O que? Só pode estar de brincadeira. Não pode está falando sério. - disse ela, quase gritando.

Permaneci muda. Ela levantou do tronco e colocou as mãos na cabeça.
- Não. Não. Não mesmo. - começou a dizer, andando de um lado para o outro.
-Para! Não surta. Eu já aceitei isso. Agora é a vez de vocês. Eu vou precisar da sua ajuda. - respondi, triste.
- Agora é você que não está entendendo. Precisamos de você. - exclamou ela, com os olhos arregalados.
- Não precisam. Eu baguncei mais do que ajudei. Vou tentar concertar tudo nesses dias, mas assim que partir ficará uma coisa errada. Quero que ajude Mason a seguir em frente. De qualquer jeito. - pedi.
- E quem vai me ajudar? Ajudar a Bernardo? Não será só o Mason que sofrerá. - argumentou ela.
-O Bear já sabe. Agora você também. Só vai faltar o Mason. - resmunguei.
- E você? Como ficará? Não me diga que não está sofrendo com tudo isso. - disse Leah.
-Eu vou ficar bem, mas não vou mentir. Estou sofrendo muito e só piora com o passar das horas, dos dias. Estou levando pancada sobre pancada da vida. Tenho a sensação de que nunca vou conseguir me reerguer novamente, por mais que tente. - respondi.
-Não posso perder minha irmã. - disse ela, me abraçando.
- Eu sinto muito mesmo. Se eu pudesse evitar tudo isso, pegar as dores para mim e deixar vocês felizes, eu faria sem pensar duas vezes. - confirmei, retribuindo o abraço.
- E como ficará Mason nessa confusão toda? - perguntou ela, limpando suas lágrimas.
-Espero que fique bem. Por isso estou pedindo sua ajuda. - expliquei.
-Não posso. - respondeu ela.
- Leah, por favor. Eu preciso saber que quando for, não estraguei a vida dele. - pedi novamente.
- Não, Alexa. Não sou capaz disso. - retrucou abaixando a cabeça.
-Merda! - gritei, liberando a passagem das lágrimas.

Senti-as em um trajeto linear pela minha pele. Fechei meus olhos, deixando a raiva me dominar. Agora eu sabia o que sentir. Raiva de mim mesma.
- Desculpe-me. - pediu ela.
- A culpa não é sua. Ela é toda minha, como sempre. - resmunguei.
- Eu preciso de um tempo para pensar em tudo isso. Será que ... - começou ela.
- Claro que precisa. Eu vou dar uma volta. - falei, saindo zangada.

Não quis parecer grossa , mas eu estava brava. A raiva controlava minha parte racional. Caminhei em uma direção distinta, mas não liguei. Só queria resolver a guerra que ocorria dentro de mim.

The Cursed Book {Em Revisão}Onde histórias criam vida. Descubra agora