XXXI

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Quando falam que você vai visita uma pessoa de mais de cinco mil anos, automaticamente pensa em um homem barbudo, velho e todo enrugado, estilo Papai Noel. Isso não se aplica a Thomas. Ele não aparentava ter mais que trinta anos. Seu rosto levemente quadrado era marcante demais. Seus olhos alternavam de azul a verde. Seu sorriso era selvagem, sedutor e malicioso; barba pra fazer. Não tinha um sequer traço de envelhecimento. Era alto e corpulento. Sua blusa branca deixa transparecer suas tatuagens sobre a pele bronzeada. Na ocasião usava calças jeans claro e jaqueta preta, deixando-o ainda mais jovem. Ele sorriu, tentando focar seu olhar entre Leah e eu.
- O que as trazem aqui? - perguntou ele, se encostando na mesa.

Mudei o peso de um pé para o outro, ato que eu fazia quando ia falar com alguém, mas estava nervosa.
- Temos perguntas e você, respostas. -anunciei.- As queremos.

Thomas se endireitou e deu um passo para frente.
-Tenho muitas coisas além de respostas. - falou ele com um sorriso torto.
-Mas queremos apenas as respostas e um mapa.- retruquei. E com isso, levei uma cotovelada de Greg.
-Que mapa seria? - perguntou Thomas.
- O mapa da localização exata de Mourioul. - revelei.
-Ainda com esse plano,Alexa? Ele está certo. Esse é o melhor caminho, mas só adianta mais as coisas.- avaliou ele.

Aquilo me deixou confusa.
-Espera aí. Ele? Então você o conhece? E como sabe o meu nome e sobre o plano? -perguntei, desorientada.

Thomas sorriu mais e disse:
-Sei de muitas coisas. É incrível meu conhecimento. Sei completamente tudo sobre você,Alexa. Manias, frases, forma de pensamento, sentimentos. Sei as escolas que já passou, as travessuras que já aprontou, de onde veio.- respondeu ele,dando ênfase na última afirmação.
-Im-impossível. - gaguejei de volta.
-Não é. As informações são minha especialidade.- explicou ele.

Dei um passo para trás, assustada. Eu tinha a impressão de que ele poderia ver até a minha alma. Ele poderia estar blefando.
-Sei que não acredita. Ninguém acredita no começo, mas posso mostrar que é verdade. - falou Thomas.
-Como?- perguntei.
-Vamos começar por coisas simples. Ninguém sabe, mas o lado esquerdo da cabeceira da sua cama é oco. Seu depósito de doces escondido. Quando decepcionada, você acaba com o estoque. Também é péssima em física. Quando algo lhe assusta, você deixa um pé na frente e outro atrás. Caso tenha que correr ou lutar, já está em posição. - disse ele, apontando para mim.

Olhei para o chão e vi que era assim que estava. Um pé na frente, outro atrás. Voltei a olhar para ele.
-De todas as informações que tenho, as suas travessuras são as melhores.A minha preferida é a frase do Halloween.- disse Thomas, ainda sorrindo.

Tentei evitar, mas foi impossível. Então olhei para o chão tentando disfarçar o meu sorriso. Aquela frase era ridícula. Levantei o olhar e me deparei com um doce.
- Travessuras ou gostosuras? - perguntou ele, me oferecendo o doce.
-Travessuras, porque gostosura já sou.- repeti, pegando o doce.

A risada dele ecoou por todo o imóvel.
-Melhor frase.- afirmou ele, batendo o dedo no meu nariz.
-Dá um desconto. Eu tinha uns dez anos na época que inventei isso. -expliquei.
-Certo. Mas porque deu a dentadura do seu avó para o cachorro? - questionou ele.
-Fui ajudar. O osso estava muito duro.- defendi-me, rindo.
-Colou a peruca do diretor na cabeça dele!- contou ele.
-Achei que ficaria melhor se aquilo fosse permanente. Levei uma suspensão.- expliquei.
-Sempre uma criança perversa.- disse ele rindo.
-Sei me divertir. - respondi.
-É uma pena ter parado com a "diversão" nesses últimos meses. -comentou ele,agora sério.

Respirei fundo. Estava de luto. Não tinha muito tempo para minhas travessuras, já que tinha que me adaptar a nova vida e as sessões com psiquiatras. Eu merecia um tempo para pensar em tudo e talvez reviver a Alexa Travessa e deixar a Alexa Luto morrer.

Thomas voltou para sua mesa e disse:
- O que ganho ajudando-a?- perguntou ele.
-Primeiro: tem o que preciso? - questionei de volta.

Ele apenas assentiu.
-E o que quer em troca? - perguntei. Parecia a coisa óbvia a se questionar.
- Veja com sua amiga. Quero apenas uma dança com uma de vocês. - respondeu ele, sorrindo.

Olhei para os meus amigos. Todos estavam confusos. Soltei um suspiro e disse:
- Posso conversar com eles para decidirmos? - perguntei.
-Claro. Vou lhes dar um conselho: não demorem. Para seu plano dar certo, terão que por em prática daqui a duas noites, quando o Mourioul está bem mais fraco. Depois dessa noite, podem perder as esperanças, pois derrotá-lo será quase impossível.-explicou Thomas.

Afastei-me devagar, conduzindo meus amigos.Fomos para um canto da sala e começamos a falar:
-Duas noites?Só?- perguntou Bernardo.
-Nosso tempo está bem curto!- confirmei.
-Desculpe-me,Alex, mas não vou dançar com esse estranho. - afirmou Leah, parecendo triste.
-Tudo bem. - falei.
- Lexy, você também não vai. - constatou Mason.
-Ou é a Leah ou eu.E ela não quer ir. - resmunguei. Eu também não queria, mas não tínhamos muitas opções e eu duvido que Thomas vá querer um dos rapazes.
-Alexa vai ter que ir. É nossa melhor escolha. Duvido muito que queira a Leah, depois dessa conversa. Ele está interessado na Alexa.- interviu Greg.
-O que isso significa exatamente? - perguntei, sentindo um nó na garganta.
- Que ele nos deu uma chance de demonstrarmos que somos inteligentes. Podemos escolher a Leah, mas é a Alexa a escolha correta.- explicou Greg.
-Está cada vez melhor. - comentei irônica.-Eu vou, então.
-Lexy, não! - pediu Mason, segurando o meu braço.
-Não temos tempo pra isso. - afirmei. Era muita gente falando ao mesmo tempo.
-É seguro pra Alex fazer isso?- perguntou Bernardo.
-De acordo com os padrões do Thomas, é sim. Ele não vai fazer nada, se ela não quiser. Por...- começou Greg.
-Não quero.- falei, o interrompendo.
-...isso que nos deixou escolher.-terminou ele.

Estufei o tórax, deixando o máximo de ar entrar nos meus pulmões.
Não é o fim do mundo, Alexa. Você consegui, repeti a mim mesma.
- É melhor fazer logo isso.- respondi.
-Por que a Lexy? - perguntou Mason, indignado.
-Ela se colocou na frente e se mostrou a líder. Isso chama a atenção de qualquer um com poder.- explicou Greg.

Não queria que aquele assunto fosse discutido eternamente. Então fui até Thomas e disse:
-Eu vou.- confirmei.
-Fico extremamente feliz com isso. - disse ele, sorrindo.
-Por que será que isso não me surpreendente?!- afirmei, sarcástica.
-Vamos?-e ofereceu a mão.
-E meus amigos? Onde ficaram? -perguntei.

Ele foi até o telefone fixo e apertou um botão. Em menos de dez minutos uma moça apareceu na porta. Era morena, rosto delicado era coberto por uma forte maquiagem. Usava um vestido justo preto e saltos alto.
-O que deseja, senhor? - perguntou ela.
- Leve-nos para a área VIP. - ordenou Thomas.
-Ah, qual é!? Não tem ninguém mais feio para levar eles? Tipo uma tia ou avó ?- perguntei, quase gritando.
-Lamento. Mas se eu fosse você não ficaria assim. Tem uma beleza incrível. Não duvide dela!- aconselhou ele, colocando a mão no meu queixo.
-Vamos acabar logo com isso. - respondi, afastando.

Ele assentiu e me ofereceu o braço, em um gesto antigo.
-Nem pensar! Vamos agir como pessoas normal. Vai na frente que eu te sigo.- argumentei.
- OK. Por aqui! - disse ele, indicando um corredor.

O segui por um corredor com algumas portas.
- Porque sabe tanto de mim?- perguntei enquanto andávamos.
-Não é todo dia que alguém vem da Realidade me visita.- comentou ele, mostrando um largo sorriso.
-Então, você sabe mesmo. - respondi, angustiada.
-E porque não saberia? Chegamos! - anunciou assim que estávamos na frente de uma porta.- Espero que as garotas façam um ótimo trabalho com você!
-Garotas?Trabalho com o que? - perguntei confusa.
- São minhas assistentes. Elas vão preparar você para mim.- exclamou ele.
- Odiei isso!- afirmei.
-Sei disso! Nos vemos em 30 minutos. - anunciou ele.
-Ok.- se eu não surta e pular a janela, acrescentei mentalmente.

Coloquei a mão na maçaneta e abri a porta, entrando.

The Cursed Book {Em Revisão}Onde histórias criam vida. Descubra agora