Nada além do depois

III

"Você nunca estará segura o bastante, a não ser que esteja sozinha."

Acordei. A luz do sol pairava sobre a tábua. Me estiquei sobre a cama e fui logo me trocar. Mamãe ficaria uma fera se visse que eu ainda estava deitada, "Moça direita não dorme até essa hora!", diria.
Escolhi um vestido azul. Coloquei o espartilho, a anágua, e em seguida o vestido. Ele me deixava atraente, por isso escolhi ele, para que senhor Soteli notasse que eu não era uma criança. Em seguida fui em direção a mesa do desjejum.
- Filha! Já está tarde. Sempre digo para que você não acorde a essa hora. Está muito tarde. O que houve com você? - Perguntou mamãe.
- Eu só estava muito cansada. - Respondi.
- Aqui café, e bolos que a senhora Ana fez. - Disse apontando. Mamãe sempre tratou todos muito bem, incluindo criados e escravos.
Me sentei e comi. Estava faminta.
- Senhor Soteli pediu permissão à mim ontem. - Comentou mamãe.
- Sobre a aula ao ar livre? - Questionei.
- Sim. Olha, sei que anda muito estressada ultimamente, e também sei que seu pai não deixaria. E como seu pai não passará a tarde aqui, pensei em deixar, sem que ele soubesse.
- Ótimo, mamãe! - Disse abraçando-a. - Amo-te!
- Eu vou deixar. Mas seu pai não pode saber.
- Obrigada, mamãe! - Disse dando pulos de alegria.
O dia demorou a passar, queria que chegasse logo duas horas para que Senhor Soteli chegasse.
Fiquei beirando a porta esperando que ele batesse. Ouvi: "Toc Toc". Era ele. Me ajeitei e atendi.
- Olá, senhorita Flora! Pronta para nossa aula? - Falou ele.
- Mais que preparada. - Falei sorrindo.
- Vamos? - Perguntou ele.
Andamos um bom tempo até acharmos uma árvore com uma boa sombra e nos sentamos.
- Podemos começar? - Perguntou ele.
- Trouxe uma cesta com algumas frutas e pães. Podemos comer. - Falei apontando para a cesta logo ao meu lado.
- Me desculpe, mas isso não é um piquenique, senhorita Flora.
Fiquei assustada pelo fato de ele ter sido tão rude e permaneci em silêncio.