XVI

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Ele então me prendeu sobre a parede e me beijou. Dizendo que me amava. Eu retribuí o beijo, mesmo sabendo que não deveria.
Em seguida parei.
— Perdão. A gente não deveria ter cometido esse erro. Acho melhor ir. — Dei um sorriso de conforto.
Ele então me olhou com os olhos vermelhos de lágrimas e saiu.
Quando ele foi embora fui me banhar e novamente fiz as recomendações de Luisa. Coisas que estavam sendo difíceis de me adaptar.
Amanhã. Amanhã eu iria buscar um jeito de voltar.
Depois de me arrumar, me deitei, cansada pelo meu dia.
A saudade de minha família começou a apertar e lágrimas escorreram sobre minha face. Nesse momento, Luisa apareceu e me viu chorando.
— O que houve, amiga? — Perguntou preocupada.
— Minha família. Minha família de verdade. — Falei entre lágrimas.
— Como assim? Seus pais morreram. Eu sei que você sente falta deles. — Falou triste.
— Estou falando da minha vida de verdade. — Dei ênfase na palavra verdade. — Sei que você não acredita. Me acha louca, mas é a verdade. Eu estou em plena consciência.
— Amiga, acalme-se.
— Pare de pensar que sou louca. Eu quero voltar. Eu preciso voltar.
Ela me abraçou e saiu dizendo que ia dormir. Ia ser mais difícil do que eu imaginava.
Acabei adormecendo, mais uma vez com a esperança de acordar em meu lar. Com a voz de João gritando, ou mamãe brava pelo fato de eu dormir muito.
Eu estava em minha cama, em minha verdadeira casa. Me levantei feliz atrás de mamãe, papai e João, não havia ninguém. Quando saí para fora haviam prédios e ruas lotadas por carros e pessoas apressadas. Vejo Augusto caminhando confuso, corro em sua direção. De repente sua roupa fica branca e me olha assustado.
— Quem é você? — Ele pergunta confuso.
Eu então começo a gritar.
De repente estou sentada na cama gritando. Foi um pesadelo. Luisa corre em direção ao quarto. Eu começo a chorar.
Luisa me abraça com força e me diz que foi só um pesadelo, mas meu choro não cessa.
Eu então me acalmo, porém continuo tremendo. Luisa foi à cozinha, enquanto isso me sentei a sua espera.
Ela então voltou com uma caneca em suas mãos dizendo ser leite queimado.
Eu então bebi e o gosto era bom, dava um ar de calma. E calma era algo que eu necessitava, mas que no momento só era possível consegui-la indo para meu lar. Meu verdadeiro mundo. Meu eu.
Ela abriu a boca e fechou várias vezes, dando a entender que falaria algo, porém não falou nada. Então me abraçou.
— Me desculpe por comermos só pães hoje. - Sorriu sem mostrar os dentes. — Prometo que amanhã encomendamos uma pizza. - Se mostrou contagiada.
— Não há problema. — Dei um sorriso sem mostrar os dentes. — Mas o que seria pizza? — Perguntei confusa.
— Amanhã você vai ver e garanto que é uma coisa muito boa! — Deu ênfase no boa.
— Volte a dormir. Você precisa de uma boa noite de sono. — Disse se despedindo de mim.
Eu então não consegui dormir. O pesadelo me assombrava. Pensei em Augusto, em como ele estaria agora. Será que o homem que realizou aqueles procedimentos em mim perderia me ajudar? Ele era Augusto. Ou pelo menos podia não lembrar.
Acabei caindo no sono enquanto estava perdida em meus pensamentos.
Acordei. Me levantei da cama e fui ver onde estava Luisa. Ela estava em um sono profundo no sofá. Parecia que o sofá estava confortável. Ela havia feito que ele aumentasse de tamanho. Confesso que não entendi como, mas lembrei que estava no futuro e que nesse mundo qualquer coisa parecia possível.
Fui até a cozinha, peguei dois pães e comi. Confesso que a fome estava me dominando.
Fui de volta para o quarto e vesti uma calça, sutiã e uma blusa. Era estranho vestir esse tipo de roupa, porém Luisa me ensinou. Calcei o que Luisa me disse ser um tênis All Star azul. Parecia confortável. Fui em direção ao banheiro com passos rápidos para não perder tempo. Escovei meus dentes e ajeitei meu cabelo. Eu continuava a mesma, porém com um toque de garota moderna.
Saí de casa evitando fazer barulho para não acordar Luisa.
Céus. Como saio desse local lotado de corredores?
Vi uma escada e desci, logo passei por um homem que ficava ao lado da porta que me cumprimentou com um sorriso. Eu retribuí e saí. O problema agora seria me locomover pela cidade.
Lembro que Luisa me disse o quanto era perigoso andar no meio da rua. Só podia andar pela extremidade, ou seja, as calçadas. Também me disse que eu podia atravessar caso o sinal estivesse no vermelho e os carros estivessem parados. Ela me ensinou tudo em nossa ida ao hospital. Porém, não me disse que eu podia sair sozinha.
Andei pela calçada e um fluxo intenso de pessoas caminhava, indo e vindo. Fiquei confusa, porém prossegui. Eu precisava achar qualquer coisa suspeita nesse mundo. Devia haver.
Andei. Atravessei. Quase fui atropelada por carros (e pessoas), porém nada que valesse ser uma pista. Já devia ser tarde e eu só havia comido de manhã. Eu não tinha noção de que horas eram, nem que horas eu havia saído. Eu tinha que voltar para casa, arrumar a ajuda de alguém.
Resolvi voltar, porém estava perdida. Minhas mãos gelaram. Eu não fazia ideia de onde eu estava nem onde era a casa na qual eu estava ficando. Continuei buscando um ponto que me fizesse lembrar onde era a residência na qual eu ficava nesse mundo, porém havia me esquecido de pegar o endereço.
Me sentei em frente a porta de uma casa e comecei a chorar. As pessoas me olhavam estranhamente. "Que mundo é esse que ninguém se importa com o próximo?" Pensei, quando um homem cutucou a mulher que estava ao seu lado e ambos se viraram para mim. Pensei em tudo que eu havia feito. Seria um castigo divino por ter um amor escondido? Eu não merecia isso. Até que o vi novamente. O homem que usava branco. Augusto.

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