Tempos Sombrios

2.4K 282 11
                                    

Acordei assustada, tive um sonho ruim do qual me lembro de nada, apenas sentia meu coração apertado como se algo de ruim fosse acontecer, meu celular tocava em algum canto do quarto, talvez isso tenha me despertado também, ainda sonolenta o procurei, estava dentro da bolsa jogada no chão peguei e atendi.

- Victoria! – a voz rouca dele me fez despertar.

- Jack! – respondi sentindo meus batimentos cardíacos se intensificarem me deixando tonta.

- Querida surgiu um imprevisto e vou ter que cancelar nosso jantar. – suspirei desanimada, queria muito jantar com ele essa noite, assim poderia pelo menos ter uma ideia se ele aprovava ter um filho ou não. - Tenho uma reunião de ultima hora, me desculpe.

- Marcamos outro dia então – deitei novamente na cama suspirando, pelo menos poderia pensar mais em como abordar o assunto com ele.

- Amanhã almoça comigo? Sem reuniões ou outros compromissos – pediu.

- Ótimo – sorri, pelo menos terei outra oportunidade para tentar falar com ele.

- Você está bem? Steffan saiu mais cedo porque você não estava passando bem – seu tom preocupado me fez gelar.

Engoli em seco, tinham dado o recado para ele, estava torcendo para ninguém falar sobre isso com ele, eu iria matar Steffan por isso.

- Eu estou bem sim Jack, foi alguma coisa que comi que me fez mal. – menti suando frio, a última coisa que queria era ele desconfiar de mim.

- Ah claro menos mal – pude perceber o alivio em sua voz o que me deixou um pouco mal.

- Preciso ir agora querida. Te amo. – se despediu rapidamente.

- Também te amo! – me despedi desligando o telefone.

Era isso meu jantar cancelado e mais duvidas e inseguranças em mente. Como deveria abordá-lo com esse assunto? Falando diretamente ou indiretamente? Ele iria aceitar numa boa a ideia do filho ou ia me deixar? Ah droga estava ficando paranoica já.

Lavei o rosto e desci para a sala encontrando Steff no sofá assistindo uma série policial bem movimentada.

- Hey senta aqui comigo. – pediu sorrindo.

Sentei-me ao seu lado e logo fui puxada para seu colo.

- Como está com tudo isso? – perguntou segurando minhas mãos.

- Ainda não sei. Nervosa, com medo. Está tudo confuso. – passei as mãos no cabelo demonstrado à confusão que sentia.

Ele ficou em silêncio e eu agradeci por isso, não queria uma briga ou outra discussão estranha como a do banheiro.

Apenas o barulho da TV denunciava que tinha alguém ali na sala, de repente o som de salto alto ecoou no piso, nos desgrudamos olhando para trás, nossa mãe estava toda arrumada com um vestido vermelho e saltos pretos.

- Tenho uma reunião crianças se comportem – ela pegou sua bolsa e entrou no elevador.

Eu e Steffan ficamos encarando a porta onde ela tinha entrado tentando entender o que acabamos de ver.

- Voce sabe onde ela vai? – perguntei curiosa.

Nossa mãe nunca foi de sair assim toda arrumada sem meu pai, aliás, ela nunca saia sem ele, o que era estranho e ainda mais uma reunião? Com quem?

- Não tenho a mínima ideia, mais uma reunião não é. – ele completou meu pensamento.

Voltamos a ver o seriado não valeria a pena ficar imaginando mil coisas possíveis que ela iria fazer. Entretive-me com a trama policial de tal forma que quando a porta se abriu eu pulei assustada fazendo Stefan rir.

- Boa noite – meu pai apareceu com seu equipamento de golfe passando por nós e indo para o escritório.

Olhei pra Steffan sem entender o que estava acontecendo naquela casa hoje, todos estavam estranhos e distantes.

- Vou falar com ele – me deixou e o seguiu para o escritório.

Se eu estava achando tudo aquilo estranho, a relação dos meus pais, minha relação com meu irmão e minha mãe comigo não era nada comparado ao mal estar que estava sentindo agora, alguma coisa ainda iria acontecer. Tenho que me lembrar de perguntar para a médica amanhã se grávida tem algum oitavo sentido ou nono sentido.

Abaixei o volume da TV para poder escutar o que aqueles homens estavam conversando tanto, suas vozes se sobressaíram do som me deixando nervosa por escutar, eles estavam discutindo calorosamente me deixando apreensiva com alguma reação infeliz deles.

Rapidamente Stefan passou pela sala nem mesmo parando para olhar para mim, sinal que a coisa foi feia, curiosa subi para seu quarto, mas o encontrei no meio do corredor com as chaves do carro na mão.

- Aonde você vai?

- Preciso pensar sobre tudo que está acontecendo hoje. – disse ríspido.

- Mas Steffan... – tentei impedi-lo, ele estava nervoso e poderia fazer alguma besteira e acabar pior.

- Não Victória eu preciso de espaço, tudo isso está me deixando irritado e não quero fazer algo que vou me arrepender depois. – segurou meu olhar um pouco me mostrando o quanto tudo isso o deixou infeliz.

Dei espaço pra ele sair, seria melhor ele pensar direito do que bater de frente e ter outra discussão, no momento o queria ao meu lado no caso de Jack me deixar, só de pensar nisso me deixou enjoada, deixei a curiosidade me dominar e entrei no escritório encontrando meu pai olhando pela janela com um copo de uísque quase vazio na mão.

- O que aconteceu para Steffan sair daquele jeito? Foi por causa da mãe que também saiu? – chamei sua atenção bombardeando perguntas eu estavam me deixando curiosa.

- Nada aconteceu Victória. – me cortou com uma resposta dura e sutil.

- Nada? Porque estão escondendo coisas de mim? – eu já estava farta disso, sempre o mesmo jogo, sempre as mesmas coisas e sempre me deixavam de fora como um peão que sempre é usado sem saber.

- Às vezes os pais escondem certas coisas dos filhos para lhes proteger Victória. – de novo disse a mesma frase quando o peguei discutindo com minha mãe no escritório poucos dias que tinha acabado de chegar de Londres.

- Proteger do que? – eu não entendia sempre essa mesma desculpa de tentar proteger. Mas do que?

Ele não respondeu se fechou me ignorando completamente, estava ficando cansada de me ignorarem, de me deixar de lado dos assuntos da família, até parece que não faço parte dela.

Meus pais, meu irmão, Jack, todos eles tem segredos o pior de tudo é que eu sou um livro aberto para eles, todos sabem sobre meus medos e falhas, eu sou uma boneca para eles usarem quando querem e da forma que quiserem sem o direito de reclamar ou perguntar e isso já está me deixando louca, minha vontade era de colocar eles contra a parede e arrancar a verdade, mesmo que essa fosse me machucar e me deixar com ódio, mas eu sou medrosa para fazer isso, portanto ignoro tudo me protegendo como posso de suas mudanças de humor, ainda mais agora carregando uma criança em meu ventre.

Atraída por Você Livro I *COMPLETO*Onde histórias criam vida. Descubra agora