Em alguma praia, mas meus pensamentos estão distantes.
–– Hanna você está aí? – ouço uma voz me chamando.
Minha visão começa a voltar e contemplo o mar diante de mim.
–– Sim Lilly, digo ainda com os olhos fixos.
–– Quem é esse homem que você desenhou? - Lilly aponta para o caderno.
Só então percebo que eu estava rabiscando enquanto me recordava daquele dia. Mas há algo diferente neste desenho. Quando percebo as semelhanças paraliso assustada.
Eu não estou acreditando. Não pode ser.
–– Quem Hanna? Você ainda tem aqueles pesadelos? - diz me olhando preocupada.
–– Ele é um cara mau Lilly, eu estou bem. - foi o que conseguir dizer no momento.
Meus pensamentos voam para aquele dia.
Três anos atrás. Enquanto voltava do ensaio da orquestra do colégio. Deixei-me ser guiada por um som brando e ao mesmo tempo intrigante que me acalentava.
Parei e pude ver quem produzia tão profundamente esses sentimentos. E para minha surpresa encontrei um garotinho sentado sobre um papelão no chão tocando a música "Asa branca" na gaita. Eu poderia simplesmente ter ignorado aquilo, como todos os outros estavam fazendo. Porém eu não ficaria em paz comigo mesma por não prestigiar tamanho talento.
Ele não era um menino de rua faminto com roupas sujas, de pés descalços e que tocava para ganhar moedas como as pessoas o rotulavam. Algo nos olhos daquele garotinho assustado, dos cabelos encaracolados e pele negra resplandeciam um sentimento tão puro quando ele tocava, como se ele e gaita fosse um só instrumento musical.
Na mesma hora, me perguntei se em algum momento eu sentiria algo assim, por alguém. Se algum dia eu viveria algo tão intenso e ao mesmo tempo puro, ao ponto de sermos ambos um só instrumento.
Sentei ao seu lado e peguei sua lata de moedas. Ele, porém, não desviou sua atenção para mim e continuou tocando como se estivesse em um concerto no teatro municipal da cidade. Despejei as moedas no chão e usei aquela simples latinha para batucar seguindo seu ritmo. Quando ele percebeu o que eu estava fazendo, me olhou desconfiado no início, mas aos poucos foi se abrindo. E logo, um sorriso de canto suavizou sua expressão assustada.
Eu não sei como explicar, mas eu só desejava acompanhar aquele som e sentir, nem que seja por alguns segundos a verdade que tomava aquele garoto.
Como ele poderia sentir algo tão bonito em meio a uma realidade tão cruel?
No mesmo momento as pessoas começaram a parar, jogar dinheiro sobre onde eu pusera as moedas, tirar fotos e aplaudir. O que me fez ficar furiosa, eles não tinha esse direito. Enxerguei o seu talento no mesmo instante que o ouvi ainda de longe, enquanto para eles, foi preciso que uma garota sentasse ao seu lado para que assim percebessem aquilo. Quis gritar, mandar que eles se afastassem, mas esse não era meu momento, era dele.
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E se fosse diferente? [Completo+Em Breve Entrará Em Revisão]
Romance"E o que você era, assim como o passado não dá para mudar. São feridas que não cicatrizam." Hanna Collins acreditava que não precisaria de nada além de sua vida comum e seu jeito simples de ver a vida para ser feliz, porém isso lhe foi, incontrolave...