Episódio 1

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Visão John

Eu, meu pai Henry, e minha mãe Carmen havíamos acabado de voltar de um chá na casa de Jani, uma das amigas de minha mãe. Ela nos chamou para reunir antigos alunos de escola e suas famílias para que eles pudessem se reencontrar depois de anos sem se ver. Meus pais particularmente ficaram muito animados com isso, porem eu não compartilhava da mesma emoção. Não queria ter ido e ao chegar lá me arrependi mais ainda.

Algumas amigas de minha mãe haviam levado suas filhas. Uma delas tinha cabelos na altura dos ombros e tão negros como a noite o que realçava seus olhos cor de mel que de primeira vista achei que fossem amarelos. Ela era muito quieta, quieta até de mais. A segunda era loira e seus cabelos batiam no meio de suas costas, ela tinha olhou azuis lindos, porem falava como louca. A última tinha cabelos castanhos encaracolados bem volumosos. Ela era morena de pele e seus olhos eram verdes. Posso dizer que gostei do estilo dela, porem somente isso. Minha mãe e suas amigas queriam me fazer "namorar" uma das três. Eu não suporto quando fazem isso comigo.

Meu pai bebeu apenas um copo entre os amigos, pois mais tarde iria pegar no volante para nos trazer de volta. Ele apenas me observava enquanto minha mãe praticamente me empurrava em cima das garotas. Fiquei um pouco com raiva por ele não perceber que eu não estava gostando e ir me ajudar.

Fiquei tão feliz quando meu pai nos chamou para irmos em bora. Finalmente acabaria com a vergonha que minha mãe me obrigou a passar durante a festa toda. Apesar de meu pai anunciar que estávamos indo em bora, ainda demoramos mais alguns minutos para realmente irmos. Era como se vissem que estávamos indo em bora e o assunto resolvesse aparecer de repente. Muitos minutos depois finalmente entramos no carro após pegarmos nossas coisas para voltarmos para casa.

Minha mãe resolveu falar sobre as três garotas que havia me arranjado e o fato de eu ainda não ter nem uma namora, eu não queria falar sobre o assunto e preferi ficar em silencio enquanto ela descrevia as garotas para meu pai omitindo o fado te uma ser anti social, a outra conversadeira e a última mais parecia homem com suas atitudes.

-Mãe - disse após olhar para frente na estrada e ver uma garota pedindo carona. Ela era realmente linda e estranha ao mesmo tempo. Usava um enorme vestido preto com detalhes roxos parecido com os vestidos usados na época do império.

Meus pais estranharam, mas mesmo assim pararam. A garota se aproximou segurando o vestido.

-Vocês poderiam me dar uma carona? - disse ela. Sua voz estava cansada como se tivesse corrido uma boa distancia para chegar até ali.

-Para onde você vai? - perguntou meu pai.

-Para onde quero ir? - ela pensou por um tempo como se estivesse esquecido - Para qualquer lugar, só peço que me levem com vocês.

Algo nela me chamou a atenção. Era como se mesmo sem a conhecer eu quisesse passar mais tempo ao seu lado ouvindo sua voz calma e cansada.

-Deixa ela entrar, nos podemos levá-la até a próxima cidade já que estamos indo para lá - comentei.

Minha mãe aceitou a ideia e eu abri a porta de trás para que ela pudesse entrar. Partimos logo em seguida. Ela ficou um tempo a olhar para trás em direção a uma pequena estrada de terra na curva próximo a onde ela embarcou em nosso carro.

-O que você faz sozinha na estrada querida? - perguntou minha mãe.

-Estou fugindo senhora.

-Fugindo? De casa? - disse meu pai me parecendo espantado.

-Sim senhor - meu pai parecia pronto para parar o carro no acostamento a qualquer momento.

-Porque esta querendo fugir de casa? - perguntou minha mãe - É por causa de seus pais imagino?

-Não senhora. Não moro com meus pais, pois eles me abandonaram a dois anos atrás.

-Você mora com quem então? - perguntou meu pai.

-Morava com uma família de irmãos senhor, logo atrás na estrada passando pela estrada de terra. Foi lá onde meus pais me abandonaram.

Meus pais pareciam estar comovidos.

-Desculpe pelo meu comentário mas estas suas roupas são muito antigas e hoje valem muito caro. Se a família com quem você morava podia te bancar o vestido porque fugiu?

-Se podem pagar pelo vestido acho que podiam bancar suas despesas - comentou meu pai.

-Não foi por isso o motivo de eu ter fugido, eles me tratavam como um objeto de decoração. Apenas me vestiam com roupas bonitas e tal mas me tratavam com frieza, ignorância, desprezo. Eles não me deixavam sair desacompanhada da mansão e mesmo assim eles determinavam até onde eu podia ir. De noite eles me levavam pra escola e assim que chegava em casa era obrigada a ficar em meu quarto. Não tinha liberdade lá por isso fugi.

Meus pais pareciam estar um pouco comovidos novamente.

-E essas cicatrizes? Como você conseguiu? - disse após olhar em seu pescoço e ver algumas cicatrizes de perfuração. Havia também pelos braços e descia até o decote do seu vestido.

-Foram eles que fizeram isso comigo. Quando eu os desobedecia eles me furavam e até mesmo por diversão eles faziam isso comigo. Tenho essas marcas no corpo todo e algumas já até sumiram.

Eu troquei olhares com meu pai e minha mãe que pareciam assustados com o que ela acabou de dizer.

-Vamos parar pouco antes de chegar a cidade. Passaremos em um centro policial onde te deixaremos para contar sua história aos policiais.

-Não - ela arregalou seus olhos - Eles não podem me ajudar. O único jeito é fugir, fugir para mais longe possível e rezar para que eles não me achem.

-É claro que eles podem te ajudar.

-Não, não podem. Ninguém pode acredite em mim - ficamos em silencio enquanto meus pais fuzilavam ela com os olhos - Meu tio tentou me ajudar, ele era policia. Eu o vi entrar na mansão e ir a procura dos irmãos, essa foi a última fez que eu o vi. Ele nunca mais saiu de lá. Eu sei que eles o mataram.

Meus pais trocaram olharem desconfiados, com medo e tensos ao mesmo tempo. Ele permaneceu em silencio até chegarmos no centro policial onde ele parou o carro.

-Não, temos que continuar. Eles descobriram que eu vim aqui, eles sempre ficam sabendo de tudo. Temos que continuar - ela parecia realmente preocupada.

Meus pais saíram do carro e a puxaram pelo braço pois não queria sair de jeito algum.

-Acalme-se, você só terá que contar a eles o que nos contou.

-Não, por favor, não - ela não parava de repetir isso.

Meu pai segurou os ombros da garota para a forçar a antar para frente. Ela arregalou os olhos novamente, prendeu a respiração como se tivesse visto algo que a apavorou e entrou em pânico. Ela começou a se debater entre as mãos de meu pai tentando se livrar delas e correu para frente com os olhos fechados trombando em mim.

-Acalme-se - "Ela sofreu tanto assim a ponto do meu pai encostar nela e ela entrar em pânico?" pensei - Eles só encostavam em você pra te agredir?

Ela me olhou nos olhos, pude ver o medo estampado neles. Ela balançou a cabeça concordando. Eu a abracei e disse:

-Eu não vou lhe fazer mal algum, pode acreditar - Ela me olhou nos olhos e concordou com a cabeça.

Meus pais entraram no posto policial e começaram a conversar com eles. Eu entrei em seguida. Poucos minutos depois olhamos para fora onde eu havia deixado Angel e ela havia desaparecido. Meus pais saíram rápido e não havia sinal algum dela na estrada. Eles terminaram de conversar com os policiais e entraram no carro para seguirmos viajem.

Chegando em casa esperei até que meus pais entrassem em casa e fosse para seus quartos. Caminhei calmamente até o caro e abri o porta malas encontrando Angel escondida lá.

-Você foi rápida garota - disse com um pequeno sorriso no canto da boca.

-Apenas fiz o que você falou para mim fazer.





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