Batida à meia-noite

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      Já em casa, Luna ainda sentindo-se estranha devido à anestesia, aproveitou para dormir o resto da tarde.
      -Nããããooo. - Luna acordou gritando.
      -Luna, você está bem? - era Rony, ele viera correndo assim que ouvira os gritos. Pelo seu rosto, ele parecia bastante preocupado.
      -Não. Não aguento mais esse pesadelo. Eu... - Luna não conseguia mais falar devido as lágrimas que escorriam por entre o seu rosto.
      -Vai ficar tudo bem. Foi só um pesadelo.
      -Não vai ficar tudo bem. Nunca vai ficar tudo bem.
      Rony não sabia o que fazer ou o que falar. Sentia-se mal por vê-la daquele jeito. Por fim resolveu abraçar-la. Quando estava triste, um abraço verdadeiro sempre resolvia tudo.
      -Eu estou aqui com você e não vou deixar esses pesadelos te incomodarem.
      -Me desculpa? - Luna soltou-se do abraço de Rony e olhou em seus olhos.
      -Pelo que?
      -Eu sou sempre tão ignorante com você e com todos ao meu redor. E você é um garoto muito legal, que está sempre me ajudando, e que não merecia passar por isso. Eu tenho os meus problemas e não consigo enxergar isso. Estou sempre afastando as pessoas, não confio em ninguém. Quem sabe um dia eu te conte tudo, mas ainda não me sinto pronta para compartilhar com alguém.
      -Tudo bem, mas vamos sair dessa tristeza e se alegrar. Isso só atrai coisa ruim.
      -Onde está a minha mãe? Estranhei quando ela não veio correndo quando eu gritei.
      -Ela foi na farmácia comprar uns remédios que o médico receitou para você. A farmácia não fica tão perto, mas já faz um tempinho que ela saiu.
      -Estou cansada, mas estou com medo de dormir.
      -Se você nao se importar eu fico aqui até você adormecer. Por mim não seria nenhum incômodo.
      -Não, obrigada. Sei que suas intenções são as melhores, mas assim eu não iria conseguir dormir, com você me olhando.
      -Tudo bem. Então vou descer para que você possa descansar.
      -Ja que não vou conseguir dormir mesmo, vamos conversar? - propôs Luna.
      -Sobre?
      -Sei lá. Sobre nossas vidas. Não nos conhecemos.
      -Então o que você quer saber de mim?
      -Deixa eu ver. Se você fosse para uma ilha e só pudesse levar três coisas, o que levaria? - perguntou Luna.
      -Bom, essa é difícil, eu gostaria de levar tanta coisa, mas se só pode três, então eu levaria um bom livro, uma deliciosa torta de chocolate e...a outra coisa depois eu digo.
      -Tudo bem. - Luna estava sorrindo. -Sua vez de me perguntar algo.
      -Uma coisa de que você se arrepende?
      -Ter começado a namorar com o primo da minha amiga.
      -O que aconteceu?
      -Ele foi um filho da mãe nojento e asqueroso. Mas não quero falar sobre isso.
      -Tudo bem.
      -Então, você tem ou já teve namorada?
      -Bom, no momento eu tenho uma namorada. E...
      -Que? Como assim você têm namorada? Você acabou de estragar tudo. E o beijo que você me deu? Acha legal você simplesmente namorando sai beijando outra garota? Acha? E eu achando que você era legal. - Luna falava tão rápido que nem percebeu que Rony estava rindo.
      -Te peguei! Eu não tenho namorada. Já tive, mas terminamos a um ano, ela foi uma filha da mãe comigo. E sobre o beijo, achei que você não tinha sentido nada, mas vejo que me enganei. - Rony estava sorrindo.
      -Eu te odeio. - falou Luna, mas não no tom habitual, era de uma forma meiga e suave, até podia-se ver um sorriso se formando.
      Uma batida na porta.
      -Filha sou eu.
      -Pode entrar mãe.
      -Rony? O que você ainda está fazendo aqui? Já está muito tarde.
      Incrível como o tempo passou rápido enquanto conversavam.
      -Eu não podia ir embora e deixar a Luna nesse estado. Ela poderia precisar de ajuda.
      Luna ficou vermelha. Não estava acostumada a alguém se preocupando tanto assim com ela.
      -Mas já está muito tarde. É perigoso andar por aí sozinho. Eu demorei porque não encontrei os remédios na farmácia daqui, então tive que ir na cidade vizinha. Se você quiser, pode dormir aqui. No quarto de hóspedes, claro.
      -Vou adorar. Só preciso avisar meus pais para não ficarem preocupados. Será que posso usar o telefone?
      -Claro querido. Pode ir lá.
Rony saiu, deixando Luna e a mãe sozinhas.
      -Fico muito feliz que estejam fazendo amizade. O Rony é um garoto muito legal.

                     * * *

      Já havia passado da hora do jantar e não tinham nada preparado para comer.
      Luna comentou com a mãe que Rony sabia fazer uma macarronada deliciosa. E Gina insistiu para ele fazê-la.
      Rony havia acertado no prato novamente. Estava magnífico.
      Já de barriga cheia, os três dirigiram-se a seus respectivos quartos. Gina deu uma escova de dentes nova para Rony e ele deu boa noite à mãe e filha.

                      * * *

      Luna dormia perfeitamente bem. Até que uma batida na porta a fez acordar assustada.
      Era meia-noite. Quem seria a essa hora?
      Nem precisou abrir a porta para saber de quem se tratava.

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