Coração frágil

625 86 21
                                    

Luna narrando:

      O que eu faço agora? Como pude ser tão burra? Se a roupa estava lá, significava que a dona não estava. Como eu pude simplesmente pensar o contrário?
      A idéia surgiu repentinamente em minha cabeça e eu já sabia exatamente o que falar para o segurança me deixar passar, precisava ser confiante, respirei fundo.
      -Recebi uma ligação informando que um garoto foi baleado hoje de tarde e me comunicaram para prestar meus serviços. Disseram que o caso era grave e que qualquer ajuda seria bem vinda. - eu falei. Inventei aquela desculpa em no máximo dois segundos e estava esperando que funcionasse. Meu coração bate acelerado, minhas pernas tremem, estou suando frio. Ele tem que acreditar.
      -Tudo bem, mas a senhora está no lugar errado. É aquela alí do lado. - falou o segurança apontando a outra sala.
      -Muito obrigada, não me disseram no telefonema qual sala seria. - minha voz falha, mas ele pareceu não ligar, afinal, qualquer pessoa ficaria nervosa frente a uma cirurgia.
      Fui em direção à outra sala, minhas pernas pareciam não aguentar de tanto nervosismo.
      Chegando lá, o segurança fez o mesmo questionamento que o anterior. Esse agora parecia uma mistura de ogro com trasgo: feio, grande e assustador, o primeiro parecia até normal. Inventei a mesma desculpa, mas temendo que ele nao fosse acreditar. Ao ouvir tudo o que eu tinha a falar, ele franziu a testa, mas deixou-me  passar.
      Suspirei de alívio, tomei coragem para empurar aquela porta e me preparei para o que estaria por vir. Estava com medo.
      Já dentro da sala, minha vontade era chorar. Ver o amor da minha vida naquele estado me dava angústia. Rony tinha um tubo enfiado na boca, seu peito estava aberto, os médicos mexiam com cuidado à procura da bala e uma bolsa de sangue era injetada em sua veia, mas a melhor parte era que seu coração ainda batia. Ele ainda vivia. E ainda precisaria viver muito mais.
      Ninguém pareceu notar a minha presença, o que para mim foi um alívio, precisava a todo custo manter a descrição e fugir de perguntas que me identificassem. Todos estavam muito ocupados em seu trabalho: um checava regularmente as batidas do seu coração e a pressão, outro passava as ferramentas para o médico que estava vasculhando à procura da bala, uma enfermeira secava o rosto desse mesmo médico, ele suava muito e isso podia atrapalhar, entre outros.
      Fui me aproximando devagar, tinha medo que alguém descobrisse que uma pessoa não autorizada estava naquele local sem permissão.
      Me camuflei entre os outros enfermeiros, fui chegando cada vez mais perto e toquei a sua mão. Estava fria, talvez fosse devido ao ar condicionado presente na sala, mas ainda era a sua mão. A mão que já percorreu meu corpo várias vezes, que já enxugou minhas lágrimas, que já me fez cafuné, que me deixavam fora de si ao menor toque, era sua mão, tenho medo que permaneçam assim imóveis para sempre, choro por dentro só em pensar que há chances disso acontecer.
      Seus lábios, que antes eram avermelhados e atraentes, agora estão quase roxos e sem vida, Rony perdera muito sangue e ainda o perdia.
      Preciso ser forte para lidar com o que está acontecendo, mas as forças parecem que evaporaram ao vê-lo naquele estado, tão frágil e vulnerável.
      -Consegui! A bala foi retirada com sucesso!
      Vejo todos comemorando e parecem estar sorrindo por baixo das máscaras, estão felizes.
      Sorrio junto com todos, mas as coisas ainda não haviam acabado, minha respiração para quando vejo o monitor com as batidas do coração de Rony emitir um som estranho e ficando em uma linha reta, conhecido em novelas ou filmes que já assisti e que indicavam que a pessoa estava morrendo. Mas não podia ser verdade. Não mesmo. Eu não podia acreditar nisso.
      Mas foi o que aconteceu. O coração de Rony parou.

***
Não vou nem perguntar se gostaram :/ foi triste
Votem, comentem, dêem a sua opinião

     

Diário de um MistérioOnde histórias criam vida. Descubra agora