Desde cedo

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Luna narrando:

      Os médicos faziam de tudo para reverter o caso. Eu já não aguento de tanta aflição, sinto que minhas forças estão indo embora e parece que o tempo parou, não consigo associar nada que está ao meu redor, só vejo todos indo de um lado para o outro e fazendo todo o possível para Rony voltar à vida.
      Já não consigo segurar as lágrimas, tudo desmorona, eu grito de dor quando ele não reage. Ninguém parece ligar que estou ali, apesar de todos já terem percebido que sou uma pessoa desautorizada a estar naquele local. Estão preocupados em salvar a vida do paciente.
      Me aproximo de Rony, onde um médico faz uma massagem cardíaca, e pego em sua mão. Está mais gelada que da outra vez.
      -Se afasta garota, vamos ter que usar o desfribilador, ele não está reagindo.
      Me afasto, rezo para dar tudo certo e observo aflitamente. O médico pega o tal desfribilador, que até então eu nunca tinha ouvido falar. Mas já havia visto sim, é um aparelho que dá choque e pode trazer uma pessoa de volta a vida, vira em várias novelas e filmes, era bem comum, só não sabia que esse era o seu nome.
      Na primeira vez, Rony deu um pulo, mas não havia funcionado, pois logo depois o médico pediu para aumentarem a carga. Outro choque.
      Tum tum. Tum tum.
      Eram as batidas do coração de Rony. Claro que de fato eu não as ouvia, havia tantas outras coisas para se ouvir naquela sala, mas podia imaginar como o seu coração estava batendo agora, a linha não estava mais reta.
      Até já havia entrado na minha cabeça que eu não veria mais o sorriso de Rony, não que eu desejasse isso de fato, só que foi um susto ele ter voltado, um susto bom, muito bom.
      Segurei a mão de Rony e alguém chegou por trás de mim e apoiou sua mão em meu ombro. Me assustei e olhei para trás. Era um dos enfermeiros em que não reparei.
      -Percebi que você não era a Doutora Marcely desde que entrou nesta sala. Ninguém a havia chamado. Mas calma, você não precisa se retirar. - ele falou, vendo que eu fiquei nervosa, apresentava uma voz calma.  -Um dia meu melhor amigo sofreu um acidente e precisou fazer uma cirurgia, eu não aguentava esperar por notícias e fiz o mesmo que você fez agora. Você também teve muita coragem. Eles precisavam da gente por perto, não é?
      Eu estava sem palavras. As últimas horas me deram tanto medo que talvez tenha esquecido como se fala.
      Rony ainda tinha os olhos fechados, mas seu corte já fora costurado, a bala retirada, ele até já respirava sem a ajuda de aparelhos. Disseram que seu caso era bom. O risco já havia passado e logo logo ele seria transferido para o quarto, onde eu poderia visitar-lo junto com sua mãe e sem medo.
      Eu ainda sentia vontade de chorar. Claro que eu estava muito feliz pelo fato de Rony ter voltado à vida, mas tudo isso me deu medo.
      O mais próximo que eu vi morrer foi meu hamster, ele se chamava Sun e eu o amava. No seu caso, a velhice lhe levou para longe de mim, considerando que a média de vida de um hamster é de 2 anos. E apesar de ter sido bem pouco tempo, eu já o considerava muito. Lembro que fiquei triste por dias, não queria comer, dormir ou fazer qualquer outra coisa. Eu era apenas uma criança vivendo nesse mundo cruel e já conhecendo as dores da perda. Depois acabei por transformá-lo na melhor lembrança da minha infância.
      Agora pensando em Sun, lembrei de uma vez que o levei pela primeira vez à pracinha da cidade. Eu tinha no máximo 8 anos e tinha pedido meus pais para comprarem uma coleira, não queria que ele fugisse de mim. Era incrível como todos olhavam curiosos, quem estaria acostumado a ver um hamster de coleira? Foi engraçado, atrai vários olhares e até me pediam para tirar foto dele. Foi um dia e tanto. Brinquei incansavelmente e fiz vários amigos, todos queriam me cumprimentar e etc.
      Lembro-me também de um garoto, fiquei impressionada pelo fato dele nunca ter pego em um hamster antes. Insisti para que ele realizasse tal ato, disse que ele era bem amigável e fofinho e ele gostou da sensação. Perguntei se ele morava na cidade e ele disse que sim, mas que seus pais se mudariam para o interior dali a poucos dias. Sua mãe o chamava de longe dizendo que já precisariam ir pois já estava ficando tarde. Nos despedimos e esqueci de perguntar seu nome.
      Incrível como essa lembrança me passara despercebida durante todo esse mês. Apesar de ter olhado suas fotos quando menor, eu não conseguia reconhecer-lo, afinal, eu era apenas uma criança. Só agora eu conseguia associar: o garoto era Rony.

***
Gostaram? Podem suspirar aliviados, o Rony não morreu ;)
Digam o que acharam? Já votaram? Estão esperando o quê? Rs

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