Diário de um Mistério

O casamento

      Rony e Luna deitaram-se no chão. Suas respirações ofegantes. Medo. Um dos cacos de vidro espalhados pelo chão entrou na perna de Luna quando esta abaixou-se. Ela gritou.
      Passos vinham em direção de onde eles estavam, a madeira rangia. Gina abriu a porta e deparou-se com aquela cena. Ficou assustada e levou as mãos à boca. Ambos deitados, a filha sangrando e o quarto cheio de cacos de vidro não era uma visão muito agradável de se ver.
      -Mãe se abaixa agora! Um tiro! Quase atiraram em nós!
       Gina poderia ter achado que tudo se passava de uma brincadeira, mas ver Luna ofegante, assustada e com um caco de vidro espetado na perna mudou sua opinião. Ela deitou-se no chão como os dois.
 

    Alguns minutos se passaram, ambos já aliviados que não houve outro tiro. Luna sentou-se na cama e Gina tentou tirar o caco de vidro. A cena estava muito feia e Rony fazia uma cara de quem iria vomitar.
      O caco de vidro foi tirado, o quarto foi limpo, o medo passou.
      -Senhora Gina, não foi nada. Por aqui tem muitas áreas de caça, alguém infelizmente errou o alvo. - mentiu Rony para tranquilizar a mãe de Luna.
      Gina engoliu a história e desceu para beber um copo d'água para passar o nervosismo.
      -Agora acredita em mim? - falou Rony quando Gina saiu.
      -A princípio.
      -Se eu tivesse contado o nome dele, talvez você não estivesse mais aqui. - Rony a abraçou. - Eu estou com tanto medo de te perder. Não sei o que eu faria, eu te amo muito.
      Luna olhava em seus olhos, podia ver toda a sua aflição transparecendo. Estava com saudade daquele sorriso encantador. Olhava para a sua boca com desejo de um beijo seu.
      -Eu também te amo Rony. - Luna beijou-o.

                       * * *

      O dia (quase) tão esperado do casamento chegara. Seria uma cerimônia simples a princípio, até os pais de Rony decidirem dar a maior festança da cidade, que aconteceria em sua casa e nos arredores.
      O lugar estava muito bonito, se não fosse as circunstâncias. Não era a esposa que Rony teria escolhido, nunca a amou de verdade, nem mesmo quando namoravam. Só estava lá para definitivamente não perder Luna, forçado por aquele psicopata.
 

    O casamento realizaria-se ao ar livre. O espaço estava rodeado de rosas brancas (as preferidas de Isabella), o tapete vermelho e as cadeiras brancas de madeira enfileiradas davam um contraste de elegância e sofisticação ao local.

      Isabella arrumara-se no quarto de Lily, com a ajuda de sua mãe e da mãe de Rony. Estava linda: um vestido branco que chegava ao chão, com poucos detalhes em renda, as costas nuas. No cabelo, um coque meio desarrumado e uma flor branca de lado, que com suas mechas azuis dava um efeito bem legal. A maquigem de leve, não gostava de nada exagerado.
      Rony, em seu quarto, ainda trajava roupas normais quando seu pai abriu a porta.
      -Filho, você ainda não se arrumou? O juiz já deve estar chegando. Quase todos os convidados estão esperando. Acho bom você cuidar logo, é o seu casamento, estou tão orgulhoso.
      -Em um minuto eu me arrumo.
      -Tudo bem! Vou deixar você a vontade para se preparar. - o pai de Rony não conseguia segurar sua felicidade e entusiasmo.
      Rony só tinha vontade de fugir dali, qualquer lugar seria melhor. Mas não iria deixar Luna pagar por tudo isso. Vestiu sua roupa de qualquer jeito em menos de um minuto. Tanto faz se estava bonito ou não. Sua cara demonstrava que não estava feliz, como se estivesse indo à um velório.
      Desceu e encontrou seus pais conversando com o juiz que realizaria a cerimônia.
      -Rony, que bom, vamos, temos que ir para o altar! - falou sua mãe, estava muito animada pelo visto, mas era de se esperar, era o casamento do seu filho e com uma garota que ela gostava e conhecia muito bem (ou quase).
     Já no altar, Rony via vários rostos conhecidos: tias, primos, vizinhos, amigos, etc, mas nada de Luna ou de sua mãe. Era de se esperar que não aparecesse. Até que seria bom ela não presenciar aquilo.
      Isabella estava demorando. Rony torcia que ela tivesse desistido dessa loucura, quando de repente, ela surgiu junto com a marcha nupcial.
      Ela não parecia tão feliz quanto ele imaginava, mas devia ser o nervosismo.
      A cerimônia foi como as encontradas na igreja, a diferença era que no lugar do padre, era um juiz, e que era mais direto.
      -Rony Carter, você aceita Isabella Soares como sua legítima esposa?
      Silêncio. Rony olhou de um lado para o outro, o suor escorria pelo seu rosto, apesar de o tempo estar agradável. Respirou fundo.
      -Eu...aceito.
     Palmas. A mãe de Rony já se desmanchava em lágrimas, sentia-se muito emocionada ao ver o filho casando-se.
     -Isabela Soares, você aceita Rony Carter como seu legítimo esposo?
     -Eu...eu... - Isabella não estava nada bem, além de suar frio, parecia com medo e sua voz falhava.  -Eu não aceito. Não o amo.
      Todos olharam assustados para Isabella. Mas não porque ela disse não. Isso era irrelevante. E sim para o seu vestido, que agora passara de branco a vermelho. Sangue.
      Gritos. Alvoroço.
      Rony apressou-se a segurar Isabella antes que esta caísse no chão. Fora atingida por um tiro vindo de algum lugar, mas ele sabia quem fizera aquilo e ela também.
     Isabella ainda estava respirando, mas não por muito tempo. Todos estavam desesperados, alguns até corriam para saírem daquele local. Rony continuou lá.
      -Rony... Eu o amo, o Thomas... Sempre o amei. - Isabella fazia esforço para falar, saía sangue da sua boca e ela engasgava, mas precisava falar aquilo. 
      -Shh! Está tudo bem, já ligaram para uma ambulância. Estão vindo te socorrer Isabella. - Rony tentava manter a calma, mas por dentro batia o desespero. Ela suava frio. Sua roupa cada vez mais encharcada de sangue.
     -Eu que o beijei...naquele dia...ele nao queria. Me desculpa...por tudo.
      A cabeça de Isabella pendeu molemente do braço de Rony, ela se fora.

***
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