12 anos - Iran

2K 148 83
                                    

- Vou sentir muito sua falta, Iran – falou Peto, abraçando o amigo.

- Também vou sentir muito a sua falta – respondeu, dando um abraço forte em seu melhor amigo.

- Você virá nos visitar? – perguntou Jô, quando abraçou seu amigo que estava indo embora.

- Claro, Jô! – respondeu Iran, sinceramente, enquanto sentia o cheiro de shampoo de seus cabelos loiros. – Vocês são meus melhores amigos e eu não sei como vai ser a sexta série sem vocês. – Disse olhando com tristeza para os dois amigos.

- Eu tava olhando – falou Peto olhando para os pés – Campinas é bem perto de São Paulo. A gente vai poder se ver sempre, né?

- Sim, vamos nos ver todos os finais de semana – Falou Iran querendo acreditar no que dizia.

- Seu pai vai ficar aqui, você virá vê-lo de vez em quando, né? – Perguntou Jô.

- Sim, vou... – respondeu Iran evasivo.

Na verdade o garoto não queria ver o pai nunca mais. Sua mãe, Letícia, estava finalmente se livrando das garras de um homem que a agredia frequentemente. Iran odiava o pai. Odiava ouvir sua mãe chorando pelos cantos após apanhar de um homem que chegava em casa e descontava toda sua frustração nela.

Letícia finalmente conseguiu se livrar do marido quando conseguiu um emprego em uma multinacional em Campinas e, por isso, aproveitou a oportunidade para pedir o divórcio e ir embora com o filho.

Iran estava feliz em poder viver sozinho com sua mãe e nunca mais precisar aturar seu pai batendo nela, mas o preço que estava pagando por isso seria a amizade de Peto e Jô, seus melhores amigos desde a segunda série.

Mas ele voltaria para São Paulo para ver os amigos. Ele queria acreditar que sim.

Era muito difícil para alguém com 12 anos de idade largar toda a sua vidinha e se mudar com sua mãe para começar uma vida do zero. Iran se sentia angustiado e com medo do que poderia vir em sua vida. E se ele não fizer amigos? E se Jô e Peto se esquecerem dele? E se ele for odiado em sua nova escola?

Muitos medos, muitas dúvidas, muita insegurança. Tudo isso tomava conta da mente de Iran nos dias que antecederam sua mudança.

Seu pai, Claudio, estava transtornado, não aceitava o divórcio e não queria que Letícia fosse embora. Mas não havia mais volta. Eles iriam embora e Cláudio não poderia fazer mais nada.

Iran passou sua última noite em São Paulo na casa de sua avó, já que Letícia não queria mais dividir o mesmo teto que Cláudio, e enquanto dormia, algo inusitado aconteceu que fez todos os medos do garoto irem embora de uma vez.

Aquela noite quente de janeiro trouxe um sonho que o tranquilizou. Quando acordou no dia seguinte, Iran apenas se lembrava que sonhou com um menino e uma menina, da idade dele, muito parecidos entre eles. O garoto sentiu que gostava muito desses dois. Também se lembrava que no sonho havia uma casa de dois andares, de tijolos, com detalhes brancos em volta das grandes janelas e da porta dupla de entrada. Acima da porta tinha um letreiro de neon, porém ele não se lembrava o que estava escrito. Também sonhou com um beco em que havia grafites de um lado da parede. Eram imagens indistinguíveis, o garoto não se lembrava do que acontecia exatamente no sonho, mas a paz que sentiu ao acordar o deixou confiante.

Por isso, enquanto sua mãe dirigia seu Corsa 98 em direção à Campinas, o garoto já não estava mais lamentando não passar os dias com Peto e Jô. Não estava lamentando não estudar na mesma escola que sempre frequentou. Ele sabia que seria feliz.

Clube da Cerveja (Romance Bissexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora