Lado Direito - Ismael

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23 anos

"Irei passar o réveillon em Campinas, ficarei alguns dias, quero conversar com você e se possível relembrar nossas maravilhosas noites"

- 20 palavras - Ismael disse em voz alta após contar as palavras do parágrafo que acabara de escrever. Era madrugada e passara as últimas duas horas tentando redigir um e-mail para Iran. Releu a frase novamente e apagou - Muito brega.

"Irei passar o réveillon em Campinas, quero conversar e se tiver sorte, quero fazer amor com você"

- 17 palavras, mas isso ficou uma bosta, Ismael! - Disse em voz alta novamente. Ia ser brega demais, piegas. Quem quase em 2018 ainda fala "fazer amor"? Com certeza isso iria assustar muito o ex-namorado.

"Irei passar o réveillon em Campinas, quero conversar com você e quem sabe a gente transa de novo"

- Perfeito! - Exclamou feliz após vencer mais um parágrafo daquele e-mail desgastante de ser escrito. Antes de passar para a próxima frase, Ismael contou 18 palavras - Merda! - Disse passando a mão impaciente pelo rosto.

"Irei passar o reveillon em Campinas, quero conversar com você e quem sabe não fazemos um sexo"

- 17 palavras - contou aliviado, mas ao reler a frase a achou terrível. - "Fazemos um sexo"? - Repetiu a frase um pouco descrente e desanimado consigo mesmo. - Essa foi a pior, cara!

"Irei passar o reveillon em Campinas, quero conversar com você e quem sabe a gente não 'dá uma'"

- Perfeita! - Exclamou novamente após reler a frase. Torcendo muito para aquela pequena tortura levemente desgastante acabar, contou as palavras. - 18 CARALHO, PORRA, MERDA, BOSTA! - Gritou frustrado. "Dar uma" parecia tão perfeito.

Já cansado desse parágrafo em particular, Ismael colocou a palavra "transada" para ser a décima nona palavra.

- Não... - ele disse frustrado após reler o parágrafo inteiro. - Alterou a última palavra novamente, trocando o "transada", por "transadinha". Releu rápido novamente. Recontou as palavras. 19.

Sem querer ler novamente, pulou para o parágrafo seguinte, ansioso por estar chegando ao fim do e-mail.

Após finalizá-lo, contou cada parágrafo, constatando que havia números ímpares de palavras em cada um, bateu sua mão na mesa 23 vezes para se acalmar, e clicou no botão "enviar".

Ismael não sabia o que estava fazendo, entretanto nas últimas semanas, uma pequena semente brotou dentro de si, falando que ele precisava se reconectar com Iran. O talvez único amor de sua vida. Essa pequena semente foi germinando dentro de seu peito e o que era uma ideia se tornou uma necessidade.

Isso cresceu tanto dentro dele, que Ismael se viu obrigado a tirar aquela necessidade que estava se tornando agonia de dentro de si.

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Ismael amou Iran desde o momento que o viu pela primeira vez, aos 12 anos, o frio na barriga que o atingira fora tão intenso, que ele se desconcentrara e deixara a bola cair, enquanto fazia embaixadinha em frente de casa. Isso nunca acontecera. Naquele instante, Ismael descobriu que gostava de meninos, porque nada explicava a atração que ele sentiu ao ver o vizinho branquinho, magrelo e narigudo voltando do supermercado com uma sacola de compras.

Ismael via o relacionamento entre ele, Iran e Lara como algo perfeito e intocável. Os três eram especiais, os três tinham as cervejas, a cumplicidade e a história mais linda que poderia acontecer no mundo. Ismael amava Iran, mesmo acreditando que nunca fosse consumar aquele amor.

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