Deveria ser gêmeos, se fosse fazer a vontade dos pais. Mas Felipe tinha pressa e nasceu primeiro em 1967, no mês de maio. E em abril de 1972 com menos pressa e muito mais cabelo veio Daniel, que será o personagem principal desta nossa comédia, que de engraçada não tem nada,
O casal: Dona Joana, dona de casa convicta e dedicada, mantinha os meninos dentro de casa e perto dos olhos, pois tinha medo do que pudessem aprontar fora do alcance das suas vistas. Seu Rodolfo, o pai dos meninos, era acima de todos os adjetivos que lhe coubesse, homem trabalhador. Empregado de uma fábrica de peças para automóveis era obcecado por seu trabalho. Em trinta e oito anos de serviço jamais faltou.
Um dia Felipe e Daniel tiveram a maior briga de suas vidas. Daniel tinha doze e Felipe dezessete anos. Briga por causa de uma caneta que disputavam. Quando D. Joana deu conta, estavam os dois rolando no chão e trocando socos e pontapés. O lábio de Felipe cortou e o nariz de Daniel sangrou. Mas não parou por aí, porque quando Seu Rodolfo chegou deu-lhes uma bela duma pisa que os deixou ainda mais doloridos.
Ficaram os dois sem se falarem por mais de dois meses.
Não foi o prenúncio de nada, foi apenas coisa de criança.
Como únicos filhos de Dona Joana e Seu Rodolfo tinham um ao outro como única companhia. Não havia por perto nenhuma outra criança com quem brincar e a mãe deixar que saíssem de casa, nem pensar. Então, se brigavam, acabavam ficando totalmente sozinhos. Era insuportável para ambos.
A casa era pequena e dormiam no mesmo quarto. E não podiam passar do quintal. E quando os dois passavam um pelo outro, torciam o nariz, ressentidos.
Quando a mãe dos meninos percebeu que não se falavam, tentou ao seu modo restabelecer a amizade dos dois:
"Deixem de ser bestas seus moleques! Não sabem que é pecado ficar sem falar com o irmão?"
Pecado ou não, ainda passou uma semana até que os dois voltassem a conversar.
Felipe é que teve a iniciativa da trégua. Este sempre foi mais flexível e maleável em tudo. Daniel fazia o tipo turrão. Dificilmente voltava atrás com qualquer decisão ou dava o braço à torcer por qualquer razão.
Não sei se o episódio os transformou. Mas esta foi a derradeira briga dos irmãos, que nunca mais ficaram sem se falar.
Com o tempo passado, a amizade se consolidou. Felipe não era apenas o irmão mais velho, era também o confidente e conselheiro de Daniel.
Nada havia de segredos entre eles.
Ainda assim, vez ou outra, se mordiam.
Daniel achava em Felipe certa inocência que temia o prejudicasse qualquer hora, mas o mais velho dizia de Daniel que não sabia de nada da vida e que sabia se cuidar.
Felipe julgava o irmão muito mal humorado e esquisito. Isso porque sempre foi de poucos amigos e não era de mostrar sorriso a troco de nada. Dizia também que Daniel ia acabar solteirão porque ninguém seria capaz de aguentar muito tempo a sua chatice.
Contudo, se amavam, e faziam questão de dar mostras disso o tempo todo.
Felipe era o tipo de pessoa que atraía a atenção para si. O tempo todo rodeado de amigos e era extremamente popular. Daniel era quase o oposto disso. Vivia à sombra do irmão. Era em Felipe que Daniel se espelhava sem, contudo, conseguir fazer nenhum tipo de semelhança.
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Um Amor Impossível
RomanceA vida às vezes reserva amores impossíveis aos corações dos homens. Daniel foi vítima de uma dessas ciladas. Ainda jovem apaixonou-se por Milena para logo a perder. Um amor que o tempo não apagou e ainda se encarregou de escrever novos capítulos ano...