Confissões

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No dia seguinte Felipe foi ver Daniel. Tinha o semblante sério e parecia não encontrar as palavras que queria dizer. Entrou, sentou e ficou calado por alguns instantes. Daniel se preocupou, e sem saber ao certo como reagir esperou até que o irmão tomasse a iniciativa do diálogo.

"Você sabe o que aconteceu ontem?"

Daniel arregalou os olhos em atenção.

"Milena chegou em casa ardendo em febre. Quando tomei a sua temperatura, o termômetro se aproximou dos 40 graus. Ela não dizia coisa com coisa. Estava delirando... até que começou a dizer algo muito estranho."

"O que ela disse?" Daniel não podia disfarçar a curiosidade.

"Ela disse que eu precisava saber a verdade. Que ela não me ama, que am do diálogoa outro homem e que tudo é perda de tempo. Disse que estava morrendo por dentro e precisava me contar tudo."

Daniel sentia a boca seca e o coração acelerado.

"Depois começou a falar em ir embora, que não sabia onde estava e ia perder o ônibus... Mas penso que nem tudo foram delírios da febre."

Daniel não achou nenhuma palavra que servisse para distrair a seu irmão, ficou apenas olhando para ele e tentando perceber o que estava sentindo. Felipe parecia muito nervoso e tenso.

"Calma, mano!" Disse por fim Daniel. "Foi a febre que a fez dizer estas coisas, lembra quando você teve febre uma vez quando criança e falou que tínhamos roubado um banco? É delírio cara!"

Felipe se levantou bruscamente, e olhou diretamente para Daniel, como se agora ele é que procurasse desvendar as ideias do outro. Estaria desconfiado de que o outro amor de Milena seria ele? Teria ela dito mais alguma coisa que Felipe não disse agora? Todas estas e outras perguntas iam passando pela cabeça de Daniel deixando-o ainda mais acuado pelo olhar do irmão. Sentia a sua pele gelada e garganta seca.

"Cara, eu amo tanto Milena. Ela foi a única garota que eu amei, você sabe. Tive inúmeras namoradas e não gostei de nenhuma como eu gosto dela. Não queria perdê-la..."

"E quem disse que vai? Isso tudo é uma fase e vai passar, você vai ver!"

"Não sei não, Daniel. Um cara sabe quando as coisas estão mais perto de seu final. A única certeza que tenho é que eu a amo, e que não quero ficar solteirão como você." Enfim ele conseguiu se descontrair e deu um pequeno sorriso, seguido por um fraco murro no braço de Daniel.

"Estou prestes a deixar de ser este solteirão meu irmão!"

"É mesmo?" Felipe estava descrente.

"Acho que em breve vou namorar a filha do professor..."

"Cara, a Alice? Ela é muito gata! Fico feliz por vocês. Você merece ser feliz irmãozinho. Alguém nesta família tem que ter sorte no amor."

Danielnão se sentia com sorte no amor. Mas aquelas palavras levaram-no a pensar nainfelicidade que os rondava. Estavam os dois condenados a amar a mesma mulhersem que nenhum pudesse gozar deste amor. Eram reféns desta armadilha. Uma famíliadestruída em seus sentimentos pela desgraça de uma trama sem solução. Talvez omelhor a fazer seria mesmo ir em busca de um novo amor.    

Um Amor ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora