Um Amor Impossível

Julgamento

Ainda na confeitaria Ari quis saber mais de Paloma, a quem havia conhecido há alguns dias em casa de Daniel.

"É coisa de minha mãe, Ari, que se juntou à mãe de Paloma para tentar me casar à moça. Nunca vi coisa alguma nela. Acho ela muito fogosa e assanhada! Não faz o meu tipo, não!"

"Mas a danada é bonita, hein, rapaz? Que morena bonita!"

"O professor se engraçou por ela, né?" Deduziu Daniel com certo ar de sarcasmo.

Ari sorriu concordando.

"Eu preciso tirar ela do meu pé, e o senhor seria um ótimo pretendente pra ela. Vamos agilizar este romance, meu amigo!?" Disse Daniel enquanto esfregava as mãos, como se tramasse algum plano.

O plano era o seguinte, Daniel marcaria um encontro com Paloma, mas quem iria seria o professor alegando qualquer desculpa para a ausência do mais moço. Ele então aproveitaria o encontro para seduzir a bela jovem.

Ari concordou, excitado, e logo depois despediram-se combinando novo encontro em casa de Daniel.

A Amizade estava refeita.

Ao chegar em casa aquela manhã Daniel encontrou D.Joana, eufórica.

"Ai filho, que bom você chegar!"

"O que foi mãe, aconteceu alguma coisa?"

"Sim filho, algo maravilhoso! Felipe virá nos visitar a semana que vem! Vamos preparar um almoço para seu irmão. Não é glorioso?" D. Joana andava para lá e para cá como se estivesse perdida dentro da própria casa.

"É, mãe! Mas o que será que deu nele para largar o trabalho? Ele nunca folga, nunca tira férias...

"Ah deve ser a Milena, filho! Um homem apaixonado faz de tudo para agradar a pessoa amada. Logo será a sua vez..."

Perturbou-se Daniel tanto com as palavras de sua mãe quanto com a notícia que ela trazia.

Nos dias seguintes não havia outro assunto na casa. Ele entrava e saía e D.Joana o prendia para lhe contar os preparativos para o almoço. Havia convidado D.Clotilde e a filha para que, segundo ela, Daniel assumisse de uma vez o namoro entre eles.

"Mãe, nós não vamos namorar! Entenda isso."

Ele aproveitou este momento para sair dali. Sentia um nó na garganta. A dificuldade em respirar era imensa. Reencontrar Milena significavao também trazer à tona toda a confusão de seus sentimentos.

Aquela noite não conseguiu dormir.

Andava pela casa a pensar e repensar um jeito de escapar daquela armadilha. Refazia o último olhar de Milena em sua memória. Era um olhar enigmático, e por mais que se esforçasse para desvendá-lo não podia. Não tinha certeza nem da reciprocidade dos seus sentimentos e nem do desprezo ao velho romance que ele supunha existir por parte da moça. Havia uma nuvem diante de si, que não permitia ver se o coração de Milena neste momento estava dividido entre os irmãos ou se pendia para um dos dois.

Perdido nestes pensamentos Daniel pensou sinceramente em fugir ao almoço. Inventar uma viagem, um compromisso repentino de trabalho, um mal súbito, qualquer coisa.

Quando já estava sem forças deitou-se no sofá e desmaiou.

Aquela noite ele sonhou que estava num tribunal. No banco de réus estava Milena, e assentado de um lado com seu advogado estava Felipe e igualmente do outro lado ele, sem entender nada. Todos ficaram em pé para a entrada do juiz, que entrou com um sorriso sarcástico no recinto e com uma roupa toda colorida. Com um gesto espalhafatoso permitiu que todos se sentassem.

"O que está havendo aqui, moço?" Ele perguntou àquele que seria o seu advogado.

"É o julgamento do amor de Milena!"

"Não entendi." Disse, absolutamente confuso.

"Explico senhor. A ré foi acusada de roubar o coração de vocês dois, o seu e o de seu irmão. E agora o excelentíssimo senhor juiz irá decidir a quem ela deverá entregá-lo."

"E como será o julgamento?" Perguntou ele interessado.

"O julgamento já ocorreu, senhor! Agora ouviremos apenas o veredicto."

Neste momento o oficial de justiça, pediu que todos fizessem silêncio.

"Senhoras e senhores sua atenção, por favor! Vai falar o Excelentíssimo Senhor Juiz, o Doutor Amor Perdido."

"Tendo em vista todas as provas deste caso e a confissão da própria ré em questão, determino que a mesma entregue o coração ao senhor..."