Sem Notícias

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Fazia um ano que Felipe havia se mudado para São Paulo. Trabalhava tanto que não pôde nenhuma vez visitar a mãe e o irmão nestes trezentos e sessenta e cinco dias passados.

Dona Joana não se queixava para Daniel, mas achava ruim não ter contato com o filho. Não sabia como ele estava nem onde morava, nem se ia bem de saúde. Até que um dia desabafou quase gritando:

"Meu Deus, Felipe que não dá notícia!"

Daniel estava sentado vendo TV e se assustou:

"Oh mãe não fica assim não. É que o trabalho dele é corrido... Logo ele aparece, vai ver..."

"Ai filho, eu fico aflita, viu? Se ao menos ele estivesse casado, eu ficaria mais tranquila. Saber que ele está sendo cuidado por alguém me daria paz..."

"Ah vai saber se já não está namorando por lá, mãe."

A mãe sorriu e deram por acabada a conversa.

Em seu íntimo, Daniel, não sabia muito bem o que pensar da vida amorosa do irmão. Vê-lo casado ou vê-lo solteiro dava no mesmo. Tinha o pressentimento de que por causa da distância entre eles não participaria ou saberia de nada.

Sentado ao sofá, começou a pensar em si mesmo. E ele, o que seria de seu futuro amoroso? Não deixara de pensar em Milena um dia sequer. Era doloroso este exercício porque ela não havia escrito nenhuma carta ou retornado de São Paulo para reatarem a história de amor que pensava terem.

Era certo em seu coração que aquilo não passou de uma paixão efêmera e sem futuro. Mas era como se estivesse preso a isso, sem conseguir desvencilhar-se.

"Poxa, nem uma carta, para pôr um fim a tudo, pelo menos. Pra dizer que ele esquecesse, que tudo não passou de coisas de jovens. Nada. Nada." Aborrecia-se pensando nisso.

E sempre que se punha à lembrar as horas com Milena, e cada jura de amor que trocaram para agora nem saber seu paradeiro, sentia-se também um idiota. Devia sair por aí, arrumar outra namorada. Vinte outras namoradas, cinqüenta, mil. Mas não conseguiria esquecer, jamais.

Dona Joana, sem saber exatamente a razão, mas percebendo o filho inquieto e taciturno, dizia:

"Oh filho, você não sai de casa não? Só trabalha e depois fica enfunado nesta casa. Devia sair, se divertir. Fazer alguma coisa. Me dá agonia te ver aqui toda noite, tristinho"

Dona Joana já nem se lembrava mais o nome de Milena, e também não creditava a fase depressiva de Daniel a ausência da moça.

"E quem disse que eu tô triste, mãe? Gosto de ficar em casa. É só isso."

Dona Joana, contudo, não aceitava. Achava Daniel triste, sempre caladão, pelos cantos. Aí decidiu empreender um negócio. Lembrou-se que ali no bairro tinha uma velha conhecida sua dos tempos de moça e que tinha uma filha mais ou menos da idade de Daniel. Conseguir alguém para tirar o filho daquele marasmo era uma ótima ideia.

A mulher chamava-se Clotilde. Também viúva, de mais tempo que Dona Joana. Tinha quatro filhos. Três rapazes já casados e Paloma. Uma moça de vinte e dois anos, que ao contrário de Daniel, adorava sair. Às vezes sequer voltava para casa. Era como sua mãe dizia, "moça festeira, mas ajuizada". Nunca lhe dera dor de cabeça. Dona Joana, foi numa tarde bater à porta de Clotilde. E não disfarçou nem um minuto a razão daquela visita inesperada e inédita. Ao portão da casa, tratou de contar para a amiga que vinha enfrentando muita luta com o filho tristonho em casa, o que sensivelmente comoveu a mulher, que acabou por ver com bons olhos o negócio tramado pela mãe do rapaz. Afinal de contas, ambas só queriam o bem aos filhos. Uma para dar um pouco de alegria ao filho e à outra, sossego.

Inventaram um pretexto para reunir os dois em casa de Dona Joana (não havia como tirar Daniel de lá mesmo). A ideia era pedir a Paloma que acompanhasse a mãe para tratar da compra de um terreno que pertencia a alguém da família de Dona Joana, na condição de negociadora.

"Ah filha, você fala melhor do que eu e vai saber falar com a mulher pra mim."

Não foi preciso insistir, Paloma adorava se aparecer para quem quer que fosse e depois que a mãe disse que provavelmente o filho da mulher é que trataria do negócio, motivou-se ainda mais a ir com a mãe.

Pelos lados da casa de Daniel a conversa foi mais difícil. De fato, a família possuía um terreno, deixado por Seu Rodolfo, mas não havia porque vendê-lo naquele momento. Tudo ia bem com as finanças da casa. E como viviam só os dois não havia aperto. Era loucura querer desfazer-se do terreno. Dona Joana desconversou. Pediu que Daniel apenas participasse da conversa.

Não havia nenhuma intenção em comprar ou vender entre as duas mães, senão de negociar outro terreno, o do coração dos filhos.



Um Amor ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora