Eu Não Acredito

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"Tendo em vista todas as provas deste caso e a confissão da própria ré em questão, determino que a mesma entregue o coração ao senhor..."

Ouviu isto e acordou, morrendo de raiva. Queria a todo custo saber o veredicto. Levantou e foi deitar-se ainda um pouco mais em seu quarto na esperança de adormecer outra vez e retomar o sonho. Cria que era possível. Mas as ideias já havia lhe tomado conta da mente e acendido de uma vez os olhos. Estava acordado e pronto. Pensava ser aquele sonho algum tipo de presságio, ou quem sabe um aviso dos céus. Contou o sonho ao professor, que se contorcia de tanto rir.

"O veredicto é que se divida o coração da moça em dois. Felipe ficará com a parte direita e Daniel com a esquerda" Dizia Ari com a voz alterada em tom de chacota.

"Poxa Ari, estou falando sério, cara. Era um sonho muito real, acho que era algum tipo de sinal, sei lá!"

"Desculpa Daniel, mas eu não acredito nisso. Acho que o senhor ficou muito encucado com o reencontro e seu subconsciente se encarregou do resto, menino." Ari ainda fazia força para falar sério.

A semana passou rapidamente enquanto Daniel tinha cólicas de ansiedade. Temia revelar o seu amor durante aquele encontro ao irmão; não havia nenhuma intenção em desfazer a felicidade do casal, sobretudo, pelo amor que tinha por Felipe.

Na manhã da sexta-feira, ele se preparava para sair ao trabalho quando sua mãe, eufórica surgiu na sala.

"Filho seu irmão e a Milena chegarão esta noite! Eles passarão à noite conosco, e teremos mais tempo para curti-los. Que maravilha, né?"

Daniel fez que sim com a cabeça, pois faltou-lhe palavras. Naquele dia pouco foi útil na empresa. Desligado e visivelmente nervoso, deixou de cumprir varias de suas tarefas habituais, ao ponto de seu chefe sugerir que ele fosse embora mais cedo aquele dia, percebendo que havia algo errado com o rapaz sempre calmo. Daniel aceitou, e saiu uma hora antes de seu horário.

Estava bastante abafada aquela noite, anunciando a chuva que em breve cairia.

D. Joana atrasou o quanto pôde para servir o jantar, mas às dez horas desistiu de esperar pelas visitas.

Havia feito comida para quatro, inclusive sua famosa maionese. Dava para perceber sua frustração e ansiedade. Pouco comeu e pouco falou durante o jantar. Parava às vezes, deixava os talheres e ia olhar pela janela para ver se alguma movimentação denunciava a chegada do filho querido. Já Daniel permaneceu em silêncio por outra razão. Péssimo ator como era não saberia disfarçar sua reação ao rever Milena, por isso ensaiava em sua mente palavras que disfarçassem a paixão e o ressentimento.

O jantar foi rápido.

Algum tempo depois começou a chover. Uma chuva forte e volumosa.

"Ai Daniel, será que aconteceu alguma coisa com Felipe? Ele disse que chegaria cedo e até agora nem sinal deles."

"Calma mãe, já devem estar chegando. Viagem de ônibus é assim mesmo. Daqui a pouco eles vão chegar. A senhora vai ver."

Dez minutos depois, Milena, Felipe e as malas entraram pela porta, completamente encharcados pela chuva. Sem se importar com isso, D. Joana lançou-se aos braços do filho, sem que o soltasse por alguns instantes.

"Mãe, a senhora vai se molhar toda!"

Enquanto mãe e filho se abraçavam, Daniel tinha os olhos fixos em Milena que torcia com as mãos o vestido negro na tentativa de secá-lo; ela fingia não perceber que estava sendo vista e ele parecia congelado com a situação. Até pensou em correr e pegar toalhas, mas a cena de Milena tão próxima de si o paralisava. Estava tão próxima. Ele tinha vontade de correr e abraça-la, aquecê-la com o próprio corpo, mas permanecia inerte diante de todos, até o momento em que sua mãe soltou Felipe e correu para buscar as toalhas.

Um Amor ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora