A amizade com Ari ganhava força, e em menos de dois meses estavam frequentes um na casa outro. D.Joana via com bons olhos a amizade entre os dois;
Afinal, Daniel estava mais sorridente e entusiasmado, e Ari parecia ser aquele que poria juízo em sua cabeça e o faria estabelecer a idade adulta, além de aspirar uma melhor profissão quem sabe, e até constituir família, melhor ainda que fosse com a bela Paloma. Chegou a pedir em secreto que o professor recomendasse o namoro a Daniel. Mas o que ninguém sabia, era que Ari queria mesmo que Daniel ficasse com Milena; entendia que o moço tinha certos direitos como primeiro amor de sua cunhada; não poderia o outro irmão vir e lhe passar à frente, temia, entretanto, que tudo terminasse em tragédia, e guardava para si esta resolução.
Ao final do mês de Outubro, num dia em que o sol ardia intensamente estavam à casa do professor sentados ao chão, cada qual com sua lata de refrigerante discutindo ideias próprias dos padrões de beleza feminina. Para Ari, que era divorciado e pai de uma menina, não se havia de limitar a figura destas mulheres à sua conotação de beleza, dizia: "cada mulher em particular dispõe de beleza singular qual uma impressão digital e que a distingue da próxima, dependendo apenas dos olhos que as veem. A maioria dos olhares já estão carregados de preconceito e influências midiáticas... além disso, os olhos dos homens adoram variar."
Mas Daniel defendia a ideia de que para cada homem havia um estereótipo preferido e que outros modelos de beleza poderiam agradar aos olhos mas jamais fazer inclinar o coração. O seu modelo, é claro, seria o de Milena.
Ele falava com naturalidade e fluência sobre o amor que sentia pela jovem, sem o receio de ser repreendido por Ari, que fazia de tudo para ser solidário à dor do rapaz.
Aconteceu que, num dia, apareceu Ari com uma festa para irem, o plano seria tirar o amigo de casa e conhecer pessoas novas. Algo que o distraísse e quem sabe o fizesse interessar por outras garotas.
Daniel sentiu-se empolgado porque a festa seria na casa de um ex-colega da escola e que provavelmente também convidaria outros velhos amigos do passado.
Ari passou em casa de Daniel quando começava a anoitecer. À porta do carro despediu-se de D.Joana que estava à janela dizendo:
"É hoje, D.Joana, que eu arrumo uma namorada pra este moço!"
Ao que D.Joana respondeu:
"Que assim seja Ari, que assim seja!".
Daniel apenas balançou a cabeça negativamente.
A festa estava bastante animada. Para Ari e Daniel que não eram frequentadores de festas como aquela a música parecia um tanto alta, e os jovens ali gritavam demasiadamente. Havia muito mais gente do que a pequena casa cabia e o muito calor fazia do lugar um forno; gente suada se espalhava por todos os cômodos e não havia lugar nem para sentar. Os dois, então, encostaram na parede do lado de fora da casa onde pelo menos podiam ouvir um ao outro. Ari propôs à Daniel uma brincadeira, como continuação da conversa de mais cedo, à respeito de beleza feminina; mais com o intuito de despertar nele o interesse em outras garotas.
"Aquela ali perto da piscina, Daniel, o que acha?"
"Alta demais..."
"E aquela sentada no chão?"
"Gordinha demais."
"A que tá conversando com ela...?"
"A vesga? Tá de brincadeira, né?"
O professor forçou os olhos para enxergar que a moça era vesga e depois caiu na risada. Mostrou ainda mais algumas opções à Daniel que via defeitos em todas elas, em nada idênticas à Milena.
Nesta noite pela primeira vez Daniel experimentou beber álcool, e como não tinha o costume, dois ou três copos bastaram para que se embriagasse. Isto sem que o professor, distraído a conversar com outros antigos alunos, pudesse perceber.
Ari ouviu, de repente, a voz que vinha dos lados da piscina:
"Milena! Milena! Se você não ficar comigo eu vou me jogar neste rio, Milena! Eu vou me matar, ouviu? Eu te amo! Eu te amo!" Misturava voz de choro com alguns giros em torno de si mesmo, até que escorregou e caiu acidentalmente nas águas da piscina. Dois rapazes que estavam sentados à beirada se lançaram rapidamente nas águas e o resgataram ainda delirando e fazendo declarações e ameaças à Milena.
A festa acabava para os dois.
Depois de retirarem Daniel da água, Ari começou a achar graça da coisa; pediu que o ajudassem a levar o bebum ao carro enquanto este gritava o nome de Milena desenfreadamente.
"Não me levem de meu amor, não posso abandonar Milena, não posso!" Ele não reconhecia sequer ao professor. Mas poucos minutos depois estava dormindo no banco de trás do carro de Ari, que não podia deixar de rir de tudo.
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Um Amor Impossível
Storie d'amoreA vida às vezes reserva amores impossíveis aos corações dos homens. Daniel foi vítima de uma dessas ciladas. Ainda jovem apaixonou-se por Milena para logo a perder. Um amor que o tempo não apagou e ainda se encarregou de escrever novos capítulos ano...